|
Ciência Florestal, Vol. 15, Núm. 1, 2005, pp. 87-92 EFEITOS DA LUZ E DA TEMPERATURA NA GERMINAÇÃO DE SEMENTES DE Tabebuia serratifolia (Vahl) Nich, Tabebuia chrysotricha (Mart. ex DC.) Standl. E Tabebuia roseo-alba (Ridl) Sand - Bignoniaceae EFFECTS OF LIGHT AND TEMPERATURE ON Tabebuia serratifolia (Vahl) Nich,Tabebuia chrysotricha (Mart. ex DC.) Standl. AND Tabebuia roseo-alba (Ridl) Sand Bignoniaceae SEED GERMINATION Débora Leonardo dos Santos1, Viviana Yoshie Sugahara2, Massanori Takaki3 1Professora Visitante, Departamento de Ciências Naturais, Universidade Federal do Espírito Santo, Av. Fernando
Ferrari, s/nº, Campus Universitário de Goiabeiras, CEP 29060-900, Vitória (ES). Recebido para publicação em 3/09/2003 e aceito em 7/01/2005. Code Number: cf05008 RESUMO As espécies de ipê (Tabebuia serratifolia, Tabebuia chrysotricha e Tabebuia roseo-alba) são árvores de interesse econômico madeireiro, ornamental e indicadas em programas de reflorestamentos. Neste trabalho, foram testadas as temperaturas constantes de 10°C a 40°C, em condições de luz e escuro dentro de germinadores. Os resultados indicaram que as sementes das três espécies de Tabebuia são indiferentes à luz, com a faixa de temperatura ótima entre 20° e 30°C, a temperatura máxima entre 35° e 40°C e a temperatura mínima entre 10°e 15°C para Tabebuia chrysotricha e Tabebuia roseo-alba e abaixo de 10°C para Tabebuia serratifolia. Palavras-chave: Tabebuia;germinação de sementes; temperatura. ABSTRACT Tabebuia serratifolia, Tabebuia chrysotricha and Tabebuia roseo-alba (Bignoniaceae), are an important ornamental and wood trees in Brasil. The effects of light and temperature in the germination of Tabebuia serratifolia, Tabebuia chrysotricha and Tabebuia roseo-alba seeds were studied in the present work. The results indicated that the species present light insensitive seeds the and optimum temperature was between 20° and 30°C, the maximum temperature between 35° and 40°C and minimal temperature between 10° and 15°C for Tabebuia chrysotricha and Tabebuia roseo-alba and below 10°C for Tabebuia serratifolia. Key words: Tabebuia; seed germination; temperature. INTRODUÇÃO A germinação de sementes é uma das fases críticas para o estabelecimento das plantas em condições naturais. Fisiologicamente, a germinação inicia-se com a embebição de água pela semente, seguida da retomada do crescimento do embrião quiescente e terminando com a protrusão de alguma parte deste por meio do tegumento. Na maioria dos casos, o primeiro órgão a emergir é a raiz primária. O processo de germinação inicia-se com o ressurgimento das atividades metabólicas que foram quase que paralisadas após a maturação da semente (Bewley e Black, 1982). Os efeitos da temperatura na germinação de sementes podem ser avaliados pelas mudanças ocasionadas na porcentagem, velocidade e freqüência relativa de germinação durante o período de incubação (Labouriau e Osborn, 1984). A temperatura pode atuar tanto como fator de quebra de dormência, como no controle da germinação de sementes. Pode-se dizer que a germinação ocorre dentro de um certo limite cuja amplitude e valores absolutos dependem de cada espécie. Dentro da faixa de temperatura em que as sementes de uma espécie germinam, há geralmente uma temperatura ótima, acima e abaixo da qual a germinabilidade é diminuída, mas não completamente interrompida. A temperatura ótima pode ser aquela em que a maior germinabilidade é alcançada no menor tempo (Mayer e Poljakoff-Mayber, 1979). Quanto à germinação, as espécies de ipê germinam rapidamente, como podemos observar em Gurgel Filho e Pazstor (1963) que indicam, para ipê-amarelo do campo, ipê-branco e ipê-roxo, os períodos de 12, 10 e 10 dias, respectivamente, para ocorrer a germinação em condições de campo, sendo a semeadura do ipê-branco realizada através do fruto. De acordo com Kageyama e Marques (1981), espécies do gênero Tabebuia são pioneiras e como tal desenvolveram mecanismos adaptáveis que favorecem a dispersão e o rápido estabelecimento, possuindo pequena quantidade de reserva o que implica em curto período de viabilidade das sementes. Este trabalho teve como objetivo definir a temperatura ótima e condição de luz para a germinação de três espécies do gênero Tabebuia, visando a fornecer subsídios para programas de manejo ou reflorestamento. MATERIAL E MÉTODOS As sementes de ipês-amarelo, Tabebuia serratifolia e Tabebuia chrysotricha e de ipê-branco Tabebuia roseo-alba utilizadas no trabalho foram colhidas no período de setembro a novembro de 1999, no Campus UNESP de Rio Claro, quando os frutos iniciaram a abertura espontânea. Após a colheita as sementes, foram retiradas do fruto e deixadas em temperatura ambiente por 24 horas em bandejas e posteriormente armazenadas em frascos de vidro em geladeira a 10°C. Todos os experimentos foram realizado dentro do prazo de 1 mês de armazenamento. O grau de umidade das sementes foi determinado após manutenção em estufa a 105°C por 24 horas e calculado pela fórmula: %U=[(Pi Pf)/Pf] .100, em que: Pf = peso final (em mg), Pi = peso inicial (em mg). Os testes de germinação foram conduzidos em câmaras de germinação, com controle de temperatura e luz. A luz branca utilizada foi obtida com base em duas lâmpadas fluorescentes tipo luz do dia com fluência de 24mmol.m-2.nm-1.s-1. A fluência da luz branca foi obtida com o uso de um espectrorradiômetro LI-1800 da LI-COR (E.U.A.). Em todos os testes de germinação, foram utilizadas quatro repetições de vinte sementes em cada uma das quatro caixas tipo Gerbox transparente ou pretas, conforme o tratamento de luz branca ou escuro, sobre papel filtro umedecido com água destilada, e as temperaturas testadas foram de 10 a 40°C com intervalos de 5°C. O monitoramento foi diário, sendo que os testes mantidos no escuro foram avaliados sob luz verde de segurança (Amaral-Baroli e Takaki, 2001), e o critério de germinação utilizado foi o biológico, sendo consideradas germinadas as sementes que apresentaram protrusão radícular de no mínimo 2 mm de comprimento. A germinabilidade foi medida como a porcentagem final de germinação (G) e submetida à análise de variância, pelo teste de múltipla comparação de Student-Newman-Keuls (Sokal e Rohlf, 1969). As velocidades médias de germinação (V) foram determinadas pela fórmula:V = 1/t, sendo t = tempo médio de germinação = S(ni.ti)/ Sni, em que ni = número de sementes germinadas no intervalo de tempo ti (em dias)(Labouriau e Osborn, 1984). A distribuição dos tempos de germinação foi feita determinando-se a freqüência relativa de germinação, fi, para cada temperatura, sendo: fi = ni/Sni, em que: ni= número de sementes germinadasdia. Com base nas freqüências relativas, foram calculados também os índices de sincronização da germinação, baseando-se na expressão: E = -Sfi.log2fi, em que: E = unidade de incerteza, expressa em bits (unidades de informação), Labouriau e Valadares (1976). RESULTADOS E DISCUSSÃO O gênero Tabebuia, pertencente à família Bignoniaceae, compreende cerca de cem espécies com ampla distribuição desde o México e Antilhas até o Norte da Argentina, (Rizzini, 1971), apresentando flores de diferentes colorações. Os ipês são extremamente ornamentais, e nos últimos anos têm sido utilizados na arborização de ruas e parques e em reflorestamentos destinados à recomposição de vegetação arbórea, e a sua madeira pode ser empregada na construção civil. Embora seja uma espécie de grande valor, existem poucas informações a respeito de suas sementes (Lorenzi, 1992). Tabebuia serratifolia (Vahl) Nich, conhecido como pau darco amarelo com altura de 8 a 9 metros e com o tronco com 60 80 cm de diâmetro, ocorrendo na região amazônica e esparso desde o Ceará até São Paulo na floresta pluvial Atlântica, apresenta madeira pesada, infinitamente durável sob quaisquer condições com alburno distinto. É excelente para o paisagismo em geral o que já vem sendo largamente utilizado. Planta decídua, heliófita, característica da floresta pluvial densa. É também largamente dispersa nas formações secundárias, como capoeiras e capoeirões, porém tanto na mata como na capoeira, prefere solos bem-drenados situados nas encostas. Sua dispersão é geralmente uniforme e sempre muito esparsa. Floresce dos meses de agosto a novembro, com a planta totalmente despida da folhagem. Os frutos amadurecem em outubro a dezembro (Lorenzi, 1992). Tabebuia chrysotricha (Mart. Ex DC.) Standl., conhecido popularmente como ipê-amarelo-cascudo, com árvores de altura de 4-10 m, e tronco de 30-40 cm de diâmetro, ocorrem na floresta fluvial atlântica, do Espirito Santo até Santa Catarina. Madeira moderadamente pesada, de grande durabilidade mesmo em condições adversas. Árvore ornamental cultivada em praças e ruas em virtude de seu pequeno porte. Floresce nos meses de agosto a setembro, geralmente com a planta totalmente despida da folhagem. Os frutos amadurecem a partir do final de setembro a meados de outubro (Lorenzi, 1992). Tabebuia roseo-alba (Ridl) Sand, conhecido como ipê-branco, é uma árvore com altura de 7 a 16 metros com tronco de 40 a 60 cm de diâmetro que ocorre no norte dos estados de São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul e Goiás, na floresta latifóliada semidecídua. O ipê-branco apresenta madeira moderadamente pesada, macia, superfície lustrosa, de ótima durabilidade em ambientes internos. A árvore é extremamente ornamental, não somente pelo exuberante florescimento que pode ocorrer mais de uma vez ao ano, mas também pela folhagem densa de cor verde azulada em forma piramidal da copa. É utilizada na arborização de ruas e avenidas, dado ao seu porte não muito grande. Em função de sua adaptação a terrenos secos e pedregosos é muito útil para reflorestamentos neste tipo de ambiente, destinados à recomposição da vegetação arbórea. Planta decídua, heliófita, seletiva xerófita, característica de afloramentos rochosos e calcáreos da floresta semidecídua. Ocorre tanto no interior da mata primaria como nas formações secundárias. É esparsamente encontrada na caatinga do nordeste brasileiro. É particularmente freqüente nos terrenos cascalhentos das margens do pantanal Matogrossense. Floresce sobretudo nos meses de agosto a outubro com a planta totalmente despida de folhagem e os frutos amadurecem a partir de outubro (Lorenzi, 1992). O teor de umidade das sementes de Tabebuia serratifolia foi de 6,8%, de Tabebuia chrysotricha foi de 4,9% e de Tabebuia roseo-alba foi de 6,6%. As altas porcentagens de germinação obtidas nessas sementes confirmaram que estas são do tipo ortodoxo, conforme classificação feitapor Roberts (1973), possibilitando o seu armazenamento com baixos teores de umidade. Pois, já Carvalho et al. (1976), considerou que as sementes de ipê-amarelo (Tabebuia chrysotricha) possuem comportamento de armazenamento normal, isto é, apresentaram melhor viabilidade quando armazenadas em condições ambientais secas e frias. Maeda e Mathes (1984) submeteram sementes de algumas espécies de ipê (Tabebuia avellanedae, Tabebuia chrysotricha, Tabebuia impetiginosa, Tabebuia rosea e Tabebuia heptaphylla) em diferentes regimes de armazenamento e concluiram que todas apresentaram longevidade curta quando embaladas em vidro hermético à 30°C, e que a melhor condição de armazenamento após os trinta meses de estudo foi de 10°C em vidro hermético. Em todas as temperaturas testadas no presente trabalho, observou-se que não ocorreu diferença significativa entre os tratamentos mantidos sob luz e escuro, indicando que as sementes de Tabebuia serratifolia, Tabebuia chrysotricha e Tabebuia roseo-alba são indiferentes a luz. Inúmeras espécies florestais apresentam sementes que são indiferentes à luz como Andira humilis, Bauhinia forficata, Dimorphandra mollis e Stylosantes barbadetiman (Perez, 1995). Por outro lado, outras espécies, sobretudo as classificadas como pioneiras, apresentam sementes fotossensíveis como em Tibouchina pulchra e Tibouchina granulosa (Zaia e Takaki, 1998), Cecropia hololeuca (Godoi, 1997), Huberia semiserrata (Brischi, 1998) e Miconia theazans (Godoi, 2002). Verificou-se que as sementes de Tabebuia serratifolia apresentaram germinação na faixa de temperatura entre 10° a 35°C, enquanto que Tabebuia chrysotricha e Tabebuia roseo-alba germinaram na faixa de temperatura entre 15° e 35°C. No entanto, para as três espécies estudadas as melhores percentagens e velocidades médias de germinação foram alcançadas nas temperaturas entre 20° e 30°C. O processo germinativo foi inibido a 40°C, indicando que a temperatura máxima de germinação está na faixa entre 35° e 40°C, e a temperatura mínima está localizada entre 10° e 15° para Tabebuia chrysotricha e Tabebuia roseo-alba e abaixo de 10°C para Tabebuia serratifolia (Tabela 1). TABELA 1: Dados de porcentagem de germinação em sementes de Tabebuia serratifolia, Tabebuia chrysotricha e Tabebuia roseo-alba submetidas a incubações isotérmicas e sob luz branca e escuro contínuos. TABLE 1: Data of germination percentage in seeds of Tabebuia serratifolia, Tabebuia chrysotricha end Tabebuia roseo-alba submitted to isothermic incubations under continuous white light and darkness.
Médias seguidas por letras distintas diferem significativamente entre si pelo teste de múltipla comparação (Student-Newman-Keuls). A temperatura ótima é aquela em que ocorre maior porcentagem de germinação, no menor período de tempo (Malavasi, 1988). As três espécies de Tabebuia apresentaram maiores velocidades nas temperaturas de 25 e 30°C (Tabela 2). Amaral e Paulilo (1992), trabalhando com Miconia cinnamomifolia, analisaram o efeito da temperatura e verificaram que a maior germinação ocorreu na faixa compreendida entre 25° e 30°C, não apresentando resposta nas temperaturas de 35° e 15°C. Os autores explicaram que isso não significa que nessas temperaturas a germinação jamais ocorra, uma vez que, em temperatura baixa, o metabolismo da semente é bastante diminuído, podendo vir a germinar num período muito mais longo. Conforme Riley (1981), temperaturas elevadas acarretam uma diminuição do suprimento de aminoácidos livres, da síntese protéica e das reações anabólicas. De maneira geral, as altas temperaturas desnaturam as proteínas e alteram a permeabilidade das membranas ocasionando perda de material. Baixas temperaturas, por sua vez, retardam as taxas metabólicas até o ponto em que as vias essenciais ao início da germinação não podem mais operar, podendo da mesma maneira alterar o estado da membrana da fase líquido cristalino para cristalino (Hendricks e Taylorson, 1976). TABELA 2: Dados de velocidade de germinação em sementes de Tabebuia serratifolia, Tabebuia chrysotricha e Tabebuia roseo-alba submetidas a incubações isotérmicas e sob luz branca e escuro contínuos. TABLE 2: Data of germination rate in seeds of de Tabebuia serratifolia, Tabebuia chrysotricha and Tabebuia roseo-alba submitted to isothermic incubations under continuous white light and darkness.
Médias seguidas por letras distintas diferem significativamente entre si pelo teste de múltipla comparação (Student-Newman-Keuls). O índice de sincronização ou entropia informacional (E) com valor menor indica quando o sistema está mais ordenado, com maior quantidade de informação, proporcionando maiores valores de porcentagem e velocidade de germinação o que ocorre na temperatura ótima de germinação (Labouriau e Osborn, 1984). Os resultados obtidos mostraram que os menores valores do índice de sincronização estão relacionados com a faixa de temperatura considerada ótima para as três espécies de Tabebuia. Tabebuia roseo-alba foi a espécie que apresentou maior velocidade e índice de sincronização na temperatura de 25°C enquanto Tabebuia serratifolia e Tabebuia chrysotricha apresentaram velocidades e índices de sincronização maiores entre 20 e 30°C (Tabelas 2 e 3). Resultados semelhantes foram relatados para as espécies florestais e podemos citar exemplos como Stryphnodendron mollis e Dimorphandra mollis (Perez, 1995) e em Dalbergia nigra (Ferraz-Grande e Takaki, 2001). TABELA 3: Dados de índice de sincronização de germinação (E) em sementes de Tabebuia serratifolia, Tabebuia chrysotricha e Tabebuia roseo-alba submetidas a incubações isotérmicas e sob luz branca e escuro contínuos. TABLE 3: Data of germination synchronization index in seeds of Tabebuia serratifolia, Tabebuia chrysotricha and Tabebuia roseo-alba submitted to isothermic incubations under continuous white light and darkness.
Médias seguidas por letras distintas diferem significativamente entre si pelo teste de múltipla comparação (Student-Newman-Keuls). Segundo Labouriau (1983), dados sobre as temperaturas cardeais são importantes, pois podem fornecer informações sobre a ocorrência da espécie, entretanto, em espécies de Tabebuia, estudados no presente trabalho, tais dados não se correlacionaram com a sua ocorrência. Por exemplo, Tabebuia chrysotricha,com distribuição geográfica mais ampla, apresentou uma amplitude de temperatura menor para germinação (15-35°C) que Tabebuia serratifolia (10-35°C) de distribuição mais restrita e semelhante à Tabebuia roseo-alba. CONCLUSÕES As sementes das três espécies de Tabebuia são indiferentes à luz, com a faixa de temperatura ótima entre 20° e 30°C, a temperatura máxima entre 35° e 40°C e a temperatura mínima entre 10° e 15°C para Tabebuia chrysotricha e Tabebuia roseo-alba e abaixo de 10°C para Tabebuia serratifolia. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Copyright 2005 - Ciência Florestal The following images related to this document are available:Photo images[cf05008t3.jpg] [cf05008t2.jpg] [cf05008t1.jpg] |
|