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Ciência Florestal
Centro de Pesquisas Florestais - CEPEF, Departamento de Ciências Florestais - DCFL, Programa de Pós Graduação em Engenharia Florestal - PPGEF
ISSN: 0103-9954 EISSN: 1980-5098
Vol. 18, Num. 2, 2008, pp. 185-191
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Ciência Florestal, Vol. 18, No. 2, 2008, pp. 185-191
UTILIZAÇÃO
DE HIPOCLORITO DE SÓDIO NA ESTERILIZAÇÃO DE MEIO DE CULTURA PARA MULTIPLICAÇÃO IN
VITRO DE Eucalyptus
pellita L.1
USE OF
SODIUM HIPOCHLORITE IN STERILIZATION OF CULTURE MEDIUM FOR MULTIPLICATION OF Eucalyptus
pellita L.
Silvio
Lopes Teixeira2, Juliana Martins Ribeiro3, Márcia
Torres Teixeira4
1Trabalho financiado pela FAPERJ, UENF e FENORTE/ TECNORTE.
2Engenheiro Agrônomo, Dr., Professor Associado do Centro de Ciências e Tecnologias Agropecuárias, Universidade
Estadual do Norte Fluminense, Av. Alberto Lamego 2000, CEP 28013-602, Campos dos Goytacazes (RJ).
teixeira70@yahoo.com.br
3 Bióloga, Drª., Pesquisadora de Biotecnologia Vegetal da Embrapa Semi-Árido, BR 428, Km 152, Caixa Postal 23,
Zona Rural, CEP 56.300-970, Petrolina (PE). juliana.ribeiro@cpatsa.embrapa.br
4Engenheira Agrônoma, MSc, Centro de Ciências e Tecnologias Agropecuárias, Universidade Estadual do Norte
Fluminense, CEP 28013-602 Campos dos Goytacazes (RJ).
Recebido para publicação em 19/07/2007 e aceito em 29/01/2008.
Code Number: cf08017
RESUMO
Ultimamente,
vem-se observando grande interesse na área de pesquisa em cultura de tecidos
vegetais, em se descobrir novas opções que resultem na redução dos custos da
micropropagação das plantas em laboratórios comerciais, de modo a torná-la mais
viável economicamente. Uma opção potencialmente promissora para a redução de
custos, mas que não tem recebido a devida atenção, é a perspectiva de se
substituir a técnica de autoclavagem por outra mais econômica. Com esse
objetivo, foram realizados dois testes utilizando um novo protocolo de preparo
do meio, que consistiu na esterilização química de todos os utensílios
utilizados no preparo e acondicionamento do meio de cultura, associado à adição
do esterilizante ao meio em diferentes concentrações. O primeiro teste teve
como objetivo observar a influência de diferentes concentrações de NaClO
adicionado ao meio de cultura sobre a esterilização deste. O segundo objetivou
verificar a reação dos tecidos de Eucalyptus pellita a diferentes
concentrações de NaClO adicionado ao meio de cultura. A adição, ao meio de
cultura, de concentrações iguais ou superiores a 0,0005% no primeiro teste e de
0,005% no segundo, permitiu completa esterilização do meio, não se tendo
observado qualquer dano aos tecidos do Eucalyptus pellita, quando
cultivado em meio de cultura com até a concentração máxima testada, de 0,009%
de NaClO. Os resultados obtidos mostraram a viabilidade de dispensar o uso da
autoclave para a esterilização de meios de cultura para esta espécie.
Palavras-chave:
esterilização química; micropropagação; autoclavagem.
ABSTRACT
Lately it has been observed a
great interest in the research area of plant tissue culture in discovering new
alternatives leading to cost reduction of the plants produced in commercial
laboratories, in order to turn this alternative of plant propagation more
economical. A potentially promising alternative for this reduction of costs,
but which has not been receiving the due attention, is the possibility of
substituting the autoclaving technique to a more economical one. With this
purpose, two tests were carried out, using a new protocol of medium
preparation, which consisted of the chemical sterilization of all the utensils
used in the preparation and packaging of the culture medium as well, associated
to the addition of the sterilizing agent to the medium, in different
concentrations. The objective of the first test was to observe the influence of
different concentrations of NaClO added to the culture medium, on its
sterilization. The second test aimed at verifying the reaction of the Eucalyptus
pellita tissues to different concentrations of NaClO in the culture medium.
The addition of NaClO to the culture medium, equal or higher than 0.0005% in
the fist test and of 0.005% in the second one, allowed complete sterilization
of the medium, without observing any damage to the Eucalyptus pellita
tissues, even when they were grown on culture medium containing up to 0.009%,
the maximum concentration tried. The results showed the viability of
eliminating the autoclave for the sterilization of culture media.
Keywords: chemical
sterilization; micropropagation; autoclaving.
INTRODUÇÃO
A
produção de mudas de plantas florestais e de outras espécies em laboratórios
comerciais apresenta custo elevado, como resultado do elevado custo das
instalações e da energia necessária. Ultimamente vem crescendo o interesse em
se buscar novas opções para essa finalidade, e uma delas tem sido a
substituição da técnica de esterilização por autoclavagem, por alguma outra de
menor custo.
A autoclavagem de vidraria, meios de cultura e materiais
cirúrgicos (BURGER, 1988) encarece a produção de mudas em laboratório, em razão
do elevado custo do equipamento e do igualmente elevado consumo de energia,
além do longo tempo necessário para esterilização de limitado número de
frascos. Além disso, a autoclavagem pode levar à decomposição de componentes do
meio de cultura (BALL, 1953; STREETT e LOWE, 1950).
A opção do uso de forno de microondas com esse objetivo tem sido
testada sem muito sucesso (Tisserat et al., 1992; Teixeira et al.,
2005a; 2005b), em conseqüência da ebulição e transbordamento prematuros do
líquido, antes da sua completa esterilização. A esterilização de meios
nutritivos por meio químico é outra opção teoricamente possível, porém
negligenciada. As empresas Plant Cell Technology, Inc (1995) e Bioactivos
Químicos CBQ Centro (1997) patentearam esterilizantes químicos com esse
objetivo, os quais, porém, não têm sido amplamente utilizados. Snow (1985)
relatou o emprego de peróxido de hidrogênio para reduzir a contaminação de
meios de cultura para germinação de sementes de orquídea, enquanto Yanagawa et
al. (1995) afirmam ter obtido sucesso na inoculação de sementes de orquídea
em meio de cultura, em condições não-assépticas, esterilizando-o com
hipoclorito de sódio ou água oxigenada, ambos a 0,01 %, e pulverizando o
interior do frasco de cultura com solução de hipoclorito de sódio a 0,5 %, após
a inoculação das sementes. Em ambos os casos, não se encontrou na literatura
científica qualquer informação de que tais procedimentos venham sendo
utilizados.
Araújo e Teixeira (1998; 1999) e Teixeira et al. (2005a;
2005b) levantaram informações que permitiram o estabelecimento de um protocolo
de preparo de meios de cultura que utiliza, como esterilizante, o hipoclorito
de sódio em concentrações muito abaixo daquelas relatadas por Snow (1985) e por
Yanagawa et al. (1995). Recentemente, Teixeira et al. (2006)
mostraram que o uso do referido protocolo, além de permitir a eliminação da
contaminação introduzida no meio pelos explantes provenientes de cultura in
vitro de abacaxizeiro, resultou também no aumento do número de ramos e do
peso da biomassa fresca. O objetivo desta pesquisa foi usar o referido
protocolo (TEIXEIRA et al., 2006), para a multiplicação de Eucalyptus
pellita in vitro, o qual difere do protocolo tradicional,
desenvolvido por Murashige e Skoog (1962), por utilizar solução clorada na
sanitização sistemática dos utensílios utilizados na preparação e
acondicionamento do meio de cultura, além de adicionar o NaClO diretamente ao
meio de cultura.
MATERIAL E MÉTODOS
As soluções de água clorada empregadas na pesquisa foram
preparadas com água sanitária comercial da marca CAMPINHO®,
contendo 2% de cloro ativo total, diluída com água deionizada para se obter a
concentração desejada. A dosagem da água sanitária, quando referida em gotas,
foi efetuada com uma pipeta-Pasteur; quando referida em volume definido, foi
efetuada com uma pipeta Eppendorf®.
Os tubos de ensaio e tampas utilizados para as culturas, bem como
a vidraria usada no preparo do meio, após o uso anterior, foram lavados em água
de torneira, enxaguados em água clorada composta de água deionizada adicionada
de duas gotas de água sanitária comercial por litro, e mantidas em prateleiras
limpas até a data da utilização.
A água utilizada para a diluição dos reagentes foi esterilizada em
dias anteriores, pela adição de duas gotas de água sanitária por litro de água
deionizada.
Foram conduzidos dois testes: o primeiro teve como objetivo
observar o efeito de três concentrações de cloro ativo total adicionado ao meio
de cultura, sobre a eliminação de microorganismos. Os tratamentos foram: A)
meio de cultura preparado pelo protocolo convencional (MURASHIGE e SKOOG,
1962), mas sem autoclavagem (tratamento controle); B) meio de cultura preparado
pelo protocolo de Teixeira (TEIXEIRA et al., 2006), com a vidraria
enxaguada com água clorada como descrito acima, mas sem adição de NaClO ao meio
de cultura; C) meio de cultura preparado pelo protocolo de Teixeira (TEIXEIRA et
al., 2006), com a vidraria enxaguada com água clorada como descrito acima e
adicionado de 0,0005% de cloro ativo total; D) meio de cultura preparado pelo
protocolo de Teixeira (TEIXEIRA et al. 2006), com a vidraria enxaguada
com água clorada como descrito acima e adicionado de 0,001% de cloro ativo
total; E) meio de cultura preparado pelo protocolo de Teixeira (TEIXEIRA et
al., 2006), com a vidraria enxaguada com água clorada como descrito acima e
adicionado de 0,002% de cloro ativo total. Nos tratamentos preparados pelo
protocolo de Teixeira (TEIXEIRA et al., 2006), com adição de NaClO ao
meio de cultura, estes não foram autoclavados.
O meio de cultura para o primeiro teste consistiu nos sais de MS
(MURASHIGE e SKOOG, 1962), vitaminas de White (WHITE, 1943), 100mg L-1
de inositol, 30 g L-1 de sacarose, solidificado com 1,5g L-1
de PHYTAGEL® . O meio contendo o PHYTAGEL® foi aquecido
em forno de microondas CONSUL® modelo WAVE 400, na potência máxima e
dispensado à base de 5mL/ tubo de ensaio de 25 x 150 mm. Logo em seguida, os tubos de ensaio foram cobertos com a tampa de polipropileno cuja base foi
selada com filme de PVC ROLOPAC®.
O preparo dos meios de cultura, segundo o protocolo de Teixeira
(TEIXEIRA et al., 2006) obedeceu aos seguintes passos: a vidraria
utilizada no preparo do meio de cultura foi enxaguada com água deionizada
adicionada de duas gotas de água sanitária pouco antes do início do preparo do
meio. No momento do enchimento com o meio de cultura, os tubos de ensaio e
tampas foram enxaguados com água clorada a 0,001% de cloro ativo total, com
exceção do tratamento-controle cujos utensílios foram enxaguados com água
apenas deionizada. As operações de preparo do meio de cultura foram efetuadas
sobre a bancada do laboratório, em ambiente não-estéril e somente o enchimento
dos tubos de ensaio com o meio de cultura foi efetuado no ambiente estéril da
capela de fluxo laminar. As operações de preparo do meio de cultura obedeceram
à seguinte seqüência: todos os reagentes, inclusive sacarose e PHYTAGEL®
foram adicionados a um erlenmeyer; adicionou-se em seguida o NaClO; após 15
minutos procedeu-se à diluição do meio de cultura para o seu volume final;
ajustou-se o pH, e o erlenmeyer foi introduzido no forno de microondas para
fusão do PHYTAGEL®; em seguida o meio de cultura foi vertido nos
tubos de ensaio e colocada a tampa de polipropileno; após o esfriamento do meio
de cultura foi efetuada a inoculação dos explantes.
O segundo teste teve como objetivo observar a reação dos
tecidos de Eucalyptus pellita cultivado no meio nutritivo preparado pelo
protocolo de Teixeira (TEIXEIRA et al, 2006).
O material vegetal utilizado como explante constituiu-se de
segmentos nodais de Eucalyptus pellita cultivado in vitro,
proveniente de germinação de sementes em bandejas plásticas, e cultivado in
vitro por duas passagens sucessivas.
Os tratamentos consistiram nas seguintes concentrações de
NaClO (p/v) no meio de cultura: A) meio de cultura preparado pelo protocolo
convencional, de Murashige e Skoog (MURASHIGE e SKOOG, 1962) e autoclavado
(controle A); B) meio de cultura preparado pelo protocolo convencional, de
Murashige e Skoog (MURASHIGE e SKOOG, 1962) não-autoclavado (controle B); C) meio
de cultura preparado pelo protocolo de Teixeira (TEIXEIRA et al., 2006)
e adicionado de 0,001% de cloro ativo total; D) meio de cultura preparado pelo
protocolo de Teixeira (TEIXEIRA et al., 2006) e adicionado de 0,003% de
cloro ativo total; E) meio de cultura preparado pelo protocolo de Teixeira
(TEIXEIRA et al., 2006) e adicionado de 0,005% de cloro ativo total; F)
meio de cultura preparado pelo protocolo de Teixeira (TEIXEIRA et al.,
2006) e adicionado de 0,007% de cloro ativo total, e G) meio de cultura
preparado pelo protocolo de Teixeira (TEIXEIRA et al., 2006) e
adicionado de 0,009% de cloro ativo total.
O preparo do meio de cultura para o segundo teste obedeceu
aos seguintes passos: a água utilizada no preparo do meio de cultura consistiu
em água deionizada, esterilizada com duas gotas de água sanitária em dias
anteriores e uma gota adicionada à mesma água no momento do preparo do meio. No
momento do uso, a vidraria utilizada no preparo do meio, os tubos de ensaio e
tampas, bem como a bureta utilizada para dispensar o meio de cultura nos tubos
de ensaio foram enxaguados com água clorada a 0,003% de cloro ativo total, com
exceção dos tratamentos-controle A e B, cujos utensílios foram enxaguados com
água apenas deionizada.
Todas as operações iniciais de preparo do meio de cultura
foram efetuadas em ambiente não-estéril e somente o enchimento dos frascos foi
efetuado na capela de fluxo laminar. A seqüência das operações de preparo do
meio de cultura obedeceu à mesma seqüência descrita para o primeiro experimento.
O meio de cultura foi constituído dos sais de MS (MURASHIGE
e SKOOG, 1962), vitaminas de White (WHITE, 1943), 2,0mg.L-1 AIA,
1,8mg.L-1 AIB, 2,2mg.L-1 BAP, 100g.L-1
inositol, 30g.L-1 sacarose e 1,5g.L-1 de PHYTAGEL®. O pH
foi ajustado para 6,0+0,1 e o meio de cultura acondicionado em tubos de
ensaio de 25 x 150 mm, à base de 20 mL/tubo de ensaio.
As culturas foram incubadas em sala de crescimento com
temperatura de 27 + 2 0C, fotoperíodo de 16 horas e
irradiância de 19 μmol.m-2.s-1, fornecida por tubos
fluorescentes OSRAM® , do tipo luz do dia e 40 Watts de potência.
Os parâmetros utilizados para avaliação no primeiro teste
foram: pH do meio antes do ajuste para 6,0 + 0,1, número total e
porcentagem de culturas contaminadas.
Os parâmetros utilizados para avaliação no segundo teste
foram: porcentagem de culturas contaminadas, número e comprimento médio dos
ramos por cultura.
A coleta de dados correspondentes à contaminação do meio de
cultura foi feita pelo aspecto visual destes a olho nu, decorridos do dias da
inoculação dos explantes nos meios. Foram consideradas como não-contaminadas as
culturas que se apresentaram límpidas, sem nenhuma mancha na superfície ou no
interior do meio de cultura.
O delineamento experimental foi inteiramente casualizado,
com cinco e sete tratamentos, respectivamente para o primeiro e o segundo
teste, vinte repetições e um tubo de ensaio contendo um explante, por unidade
experimental. Foi acrescentado um tubo de ensaio a mais, para cada tratamento,
para determinação do pH do meio antes do seu ajuste.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
No
primeiro teste, os resultados apresentados na Tabela 1 mostram uma pequena
tendência de elevação dos pHs com o aumento da concentração de NaClO no meio de
cultura. Teixeira et al. (2005b) observaram diferenças mais pronunciadas
entre os pHs dos diferentes tratamentos, porém, a amplitude de variação entre
as concentrações de NaClO foi também maior.
O percentual de contaminação foi de 100% no tratamento controle,
com base no protocolo tradicional, mas sem o procedimento de autoclavagem. No
entanto, houve uma diminuição desse percentual para 40% no meio de cultura
preparado pelo protocolo de Teixeira (TEIXEIRA et al., 2006), mas sem
adição de NaClO no meio de cultura. Sendo assim, um dos motivos que justifique
essa diferença pode ter sido em razão da presença, no meio de cultura desse
tratamento, de cloro residual proveniente da água clorada empregada no enxague
da vidraria utilizada tanto no preparo quanto no acondicionamento do meio de
cultura.
TABELA 1: Efeito da presença de NaClO nos meios de cultura sobre o
pH antes do ajuste para 6,0 + 0,1 e sobre a contaminação das culturas.
TABLE 1: Effect of the presence of NaClO in the culture media, on
the media pH before its adjustment to 6.0 + 0.1 and on the cultures
contamination.
Concentração
de NaClO no meio de cultura (%) |
pH do meio
antes do ajuste para 6,0 + 0,1 |
Tubos de
ensaio contaminados (%) |
Controle
0
0,0005
0,001
0,002 |
4,83
4,83
4,93
5,07
5,14 |
100 a
40 b
0 b
0 b
0 b |
Em
que: Os dados acompanhados de uma mesma letra na coluna são estatisticamente
iguais segundo o Teste de Tukey a 5% de probabilidade.
A esterilização dos meios contendo NaClO foi completa, até mesmo
com a concentração mais baixa, de 0,0005%. Esses resultados são parecidos com
aqueles relatados por Teixeira et al. (2005b) e foram muito superiores
àqueles citados por Yanagawa et al. (1995), que observaram 80% de
contaminação, quando adicionaram 0,001% de NaClO ao meio de cultura. Isso pode
ser explicado pelo fato de os autores citados acima não terem adotado os
procedimentos de sanitização da vidraria citados nesse trabalho, ou então que a
solução concentrada de hipoclorito de sódio por eles utilizada não tivesse a
concentração suposta.
Os dados sobre contaminação da Tabela 2 estão de acordo com os
resultados de Teixeira et al. (2005b). A esterilidade foi completa
somente partindo da concentração de 0,005 % de hipoclorito de sódio no meio de
cultura. Todavia, foram observadas contaminações dos meios de cultura contendo
concentrações abaixo de 0,005% e até mesmo no tratamento-controle autoclavado,
ou nas bases dos explantes ou à superfície do meio, o que indica se tratar de
contaminações introduzidas no meio de cultura junto com os explantes, no
primeiro caso, e caídos à superfície do meio no momento do enchimento dos
frascos, no segundo caso.
TABELA 2: Efeito da presença do NaClO nos meio de cultura sobre o
pH antes do ajuste para 6,0 + 0,1 e sobre a contaminação das culturas.
TABLE 2: Effect of the presence of NaClO in the culture media, on
the media pH before its adjustment to 6.0 + 0.1 and on the cultures
contamination.
Concentração
de NaClO no meio de cultura (%) |
Culturas
contaminadas (%) |
Número
médio de ramos |
Comprimento
médio dos ramos (cm) |
Controle A
Controle B
0,001
0,003
0,005
0,007
0,009 |
20 b
100 a
40 b
20b
0 b
0b
0b |
4,9
a
-
3,7 b
3,5 b
3,5 b
3,5 b
2,2 c |
0,73 b
-
0,96
a
0,85
a
0,94
a
0,96
a
0,94
a |
Em
que: Os dados acompanhados de uma mesma letra na coluna são estatisticamente
iguais segundo o Teste de Tukey a 5% de probabilidade.
Para tal situação, pode-se admitir que os explantes, apesar de
serem provenientes de cultura in vitro, apresentavam contaminação
endógena, além da contaminação no momento do enchimento dos frascos de cultura.
Diante desse fato, pode-se esperar que as contaminações introduzidas pelos
explantes ou provenientes do ar circundante, não sobrevivam às concentrações de
NaClO iguais ou acima de 0,005% de NaClO no meio de cultura, o que está de acordo
com os resultados de Teixeira et al. (2006). Isso se constitui em uma
vantagem adicional desse novo protocolo de esterilização química em relação ao
protocolo tradicional de esterilização por autoclavagem, possibilitando assim a
eliminação de microorganismos endógenos e a realização da operação de
enchimento dos frascos de cultura, bem como a inoculação do meio, em ambiente
com elevado índice de assepsia.
Quanto ao comportamento do Eucalyptus pellita, observa-se
que a presença de NaClO no meio de cultura, em todas as concentrações testadas,
causou uma leve redução no número de ramos, mas estimulou o crescimento destes,
quando comparados ao tratamento controle (Quadro 2). Não houve diferença
estatística quanto à reação do E. pellita a concentrações de até 0,007%
de NaClO no meio de cultura, o que sugere esta como a melhor concentração a ser
utilizada.
Não se observou qualquer diferença visual entre os tratamentos com
NaClO e o tratamento-controle, quanto ao aspecto dos explantes, os quais se
apresentaram aparentemente saudáveis, de cor verde normal e sem anomalias
morfológicas.
Yanagawa et al. (1995) só foram bem sucedidos quanto à
obtenção de assepsia, quando pulverizaram solução de 0,5 % de NaClO, em
ambiente não estéril, à superfície do meio de cultura previamente autoclavado.
Nesse caso, não relataram o efeito do esterilizante sobre o crescimento das
plantas. Quando esterilizaram o meio com 0,01 % de NaClO e o pulverizaram com
0,5 % do mesmo esterilizante, ocorreu crescimento normal das plântulas, mas os
autores não relataram a porcentagem de contaminação observada.
Os resultados deste trabalho reforçam a conclusão de Teixeira et
al. (2006) sobre a viabilidade do uso do hipoclorito de sódio, em baixas
concentrações, como esterilizante em cultura de tecidos vegetais, desde que se
adotem as demais medidas de assepsia constantes desse novo protocolo de preparo
do meio de cultura.
Nos dois protocolos de esterilização de meios de cultura
patenteados com outros produtos químicos (Bioactivos Químicos CBQ Centro, 1997;
Plant Cell Technology Inc., 1995), bem como nos trabalhos relatados por Snow
(1985) e Yanagawa et al. (1995), não foi adotado procedimento semelhante
a esse novo protocolo, que associa a adição do esterilizante ao meio de cultura
com outras medidas de assepsia adicionando o mesmo esterilizante também à água
com que foram enxaguados todos os utensílios utilizados. Esta modificação no
procedimento tradicional de preparo de meios de cultura foi, sem dúvida, o
fator que permitiu obter sucesso na esterilização, utilizando concentração do
esterilizante no meio de cultura até dez vezes menor do que aquelas até então
relatadas.
É importante observar que, quando Teixeira et al. (2006)
utilizaram meio líquido para abacaxizeiro, eles obtiveram sucesso na esterilização
do meio, com concentração de 0,0005% de NaClO no meio de cultura, que é ainda
dez vezes menor do que a empregada no segundo teste. A necessidade de
concentração dez vezes maior neste trabalho certamente foi porque se utilizou
meio semi-sólido, o qual foi submetido a aquecimento no forno de microondas
para fusão do Phytagel. Sem dúvida, esse aquecimento resultou na eliminação
praticamente total do NaClO, já que um teste efetuado pelos autores não acusou
sequer traços do produto no meio de cultura, após aquela operação.
Quanto à esterilização do meio com apenas a adição de 0,0005% de
NaClO ao meio de cultura do primeiro teste, cujo protocolo foi o mesmo do
segundo e usando também meio semi-sólido, pode-se sugerir que o cuidado com as
manipulações durante todo o processo, bem como a assepsia do ambiente, como no
caso de utilização de sistema de pressão positiva, podem ser fatores
determinantes do sucesso do protocolo.
CONCLUSÕES
É possível obter a esterilização de meios nutritivos para
cultura de tecidos vegetais, pela adição de 0,0005 % ou mais de NaClO ao meio
de cultura, desde que se adotem as demais medidas de assepsia estabelecidas
neste protocolo.
A adição de NaClO ao meio de cultura, até a concentração de 0,009
% de hipoclorito de sódio, resulta em pequena redução no número de ramos de Eucalyptus
pellita, mas em compensação estimula significativamente o alongamento
deles.
A adoção desse protocolo dispensa o emprego da autoclavagem como
técnica de esterilização de meios de cultura.
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem à Fundação Estadual do Norte Fluminense
FENORTE, ao Parque de Alta Tecnologia do Norte Fluminense TECNORTE, à
Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro e à Fundação de Auxílio
à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro FAPERJ, pelo auxílio financeiro sob a
forma de bolsas de estudo.
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