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Ciência Florestal
Centro de Pesquisas Florestais - CEPEF, Departamento de Ciências Florestais - DCFL, Programa de Pós Graduação em Engenharia Florestal - PPGEF
ISSN: 0103-9954 EISSN: 1980-5098
Vol. 19, Num. 4, 2009, pp. 393-406

Ciência Florestal, Vol. 19, No. 4, Oct-Dec, pp. 393-406

Análise econômica da produção de Pinus elliottii elliottii na serra do sudeste, Rio Grande do Sul

Economic analysis of the Pinus elliottii elliottii yield in the southeastern mountain range, Rio Grande do Sul

Eduardo Pagel Floriano1 Paulo Renato Schneider2 César Augusto G. Finger3 Frederico Dimas Fleig4

  1. Engenheiro Florestal, Dr., Professor Adjunto do Curso de Engenharia Florestal, Universidade Federal do Pampa, Campus de São Gabriel, Av. Antônio Trilha, 1847, CEP: 97300-000, São Gabriel (RS). edu.floriano@yahoo.com.br
  2. Engenheiro Florestal, Dr., Professor Titular do Departamento de Ciências Florestais, Centro de Ciências Rurais, Universidade Federal de Santa Maria, Av. Roraima, 1000, CEP: 97105-900, Santa Maria (RS). paulors@smail.ufsm.br
  3. Engenheiro Florestal, Dr., Professor Associado do Departamento de Ciências Florestais, Centro de Ciências Rurais, Universidade Federal de Santa Maria, Av. Roraima, 1000, CEP: 97105-900, Santa Maria (RS). finger@smail.ufsm.br
  4. Engenheiro Florestal, Dr., Professor Adjunto do Departamento de Ciências Florestais, Centro de Ciências Rurais, Universidade Federal de Santa Maria, Av. Roraima, 1000, CEP: 97105-900, Santa Maria (RS). fdfleig@smail.ufsm.br

Recebido para publicação em 7/11/2008 e aceito em 14/10/2009.

Code Number: cf09038

RESUMO

Este estudo foi realizado para Pinus elliottii elliottii Engelm. na Serra do Sudeste, Rio Grande do Sul, tendo como objetivos: determinar os custos de produção e receitas possíveis; realizar a análise econômica da produção de madeira nas condições regionais; determinar a rotação de máximo Valor Presente Líquido (VPL). Os custos de implantação dos povoamentos foram estimados em R$ 2.292,09/ha e os de manutenção anual variaram de R$ 134,84/ha a R$ 363,98/ha. A partir do Índice de Sítio 28, com VPL de R$ 1.147,17/ha, a produção de madeira passa a ser economicamente interessante. No IS 26, com uma Taxa Interna de Retorno (TIR) de 6,86% seria possível pagar juros de 6,75% a.a. do Propflora. A análise de diferentes rotações para o IS 28 mostrou máximo VPL com rotação de 26 anos, desbastando em ciclo de 4 anos, iniciando-se os desbastes aos 10 anos. A análise econômica foi realizada com cautela, utilizando níveis de produtividade moderados, custos dentro de padrões que podem ser considerados entre médios e altos e preços comedidos para o atual mercado da madeira. Mesmo com as restrições impostas à análise, os resultados são promissores; especialmente tendo em vista a tendência de aumento dos preços no mercado regional e a probabilidade de indústrias laminadoras virem a absorver a produção de toras de maiores dimensões em um futuro próximo.

Palavras-chave: Pinus elliottii elliottii; produção; rentabilidade.

ABSTRACT

This study was conducted for Pinus elliottii elliottii Engelm. at Serra do Sudeste, Rio Grande do Sul, with the following objectives: to check production costs and possible revenues; to perform the economic and financial analysis of Pinus elliottii elliottii's wood production under regional conditions; and to determine the rotation of maximum Net Present Value (NPV). The costs for planting the stands were estimated at $2,292.09/ha and the annual maintenance ranged from R$ 134.84 to R$ 363.98 per hectare. Departing from the Site Index 28, with NPV of R$ 1,147.17/ha, Pinus elliottii' wood production becomes interesting. At the IS 26, with 6.86% Internal Rate of Return (IRR), it would be possible to pay the 6.75% Propflora's interest. Analysis of different rotations for IS 28 showed maximum VPL with rotation of 26 years, thinning in cycle of 4 years, starting up the cuts to 10 years. The economic analysis was performed with considerable caution, using productivity moderated levels, costs within patterns that can be considered between middle and high and moderated prices for today's wood market. Even with the restrictions imposed on the analysis, results are promising; especially in view of the regional market prices' increase tendency and the probability of wood veneer industries comes to absorb the larger log's size production in a closed future.

Keywords: Pinus elliottii; yield; profitability.

INTRODUÇÃO

A Mesorregião Metade Sul do Rio Grande do Sul apresenta múltiplos elementos estruturais socioeconômicos e históricos que se formaram baseados na utilização dos campos para a atividade de pecuária extensiva e rizicultura irrigada em terras de várzeas. É um espaço sub-regional inserido na região de fronteira entre o Brasil, o Uruguai e a Argentina.

A situação de depressão econômica da Metade Sul do RS e a oportunidade de desenvolvimento por meio da silvicultura, por diversos fatores integrados, são uma realidade que está sendo aproveitada pelo Governo, nos três níveis da administração, para impulsionar o desenvolvimento por meio de um grande programa regional. Como consequência, o incremento do número de investidores interessados em se instalar e ampliar suas atividades na região foi significativo. Em alguns casos, seu interesse foi concretizado em investimentos de grande porte.

As espécies mais promissoras para a região são o Eucalyptus saligna Smith, o Eucalyptus dunnii Maiden, o Pinus elliottii elliottii Engelm., o Pinus elliottii taeda L. e a Acacia mearnsii De Wild. Juntas, adaptam-se a uma infinidade de objetivos de produção e diferentes condições ambientais de cultivo. Dentre elas, o Pinus elliottii elliottii destaca-se como uma das espécies mais utilizadas em plantios comerciais no sul do Brasil, em conseqüência da semelhança das características ambientais com a região de origem no sudeste dos Estados Unidos. No RS, é usado na produção de madeira para móveis, construção civil e na produção de resina, utilizada em indústrias químicas, estando presente em vastas plantações por todo o leste do RS, incluindo a Serra do Sudeste, sendo que uma das espécies com maior área de plantio na região é o Pinus elliottii elliottii.

A viabilidade da silvicultura no Brasil vem sendo descoberta por lideranças de muitos estados e transformada em projetos concretos de governo. No dia 23 de abril de 2004, o Governo do estado do Rio Grande do Sul anunciou a liberação dos primeiros R$ 30 milhões para o Programa de Financiamento Florestal Gaúcho (Proflora), com o objetivo de fomentar o florestamento para a “Metade Sul”. Foi previsto

o plantio de 120 mil hectares de florestas até 2006, agenciados pela CAIXA-RS e com apoio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social-BNDES. Essa fase se concretizou praticamente de forma integral e o programa de financiamento continua existindo, destinando-se a plantios de Pinus elliottii, Acacia mearnsii e Eucalyptus, abrangendo projetos de pessoas físicas e jurídicas de qualquer ramo de atividade, com um limite de financiamento anual de até R$ 150 mil por projeto individual, a uma taxa de juros de 6,75% a.a., sem correção monetária e prazo de amortização de até 12 anos, com carência de até 8 anos (CAIXA-RS, 2004; DIÁRIO POPULAR, 2004).

Além do financiamento, o Governo Estadual adotou um programa de incentivos fiscais para fomentar a indústria de base florestal. O objetivo principal foi acelerar o desenvolvimento da Metade Sul, criando uma cadeia produtiva capaz de gerar mais empregos, renda e impostos. Esses elementos são fundamentais para a melhoria das condições de vida da população da região considerada a menos desenvolvida do Estado (MI, 2003). A Metade Sul do RS é composta pelas regiões da Campanha, Depressão Central, Encosta do Sudeste, Litoral Sul e Serra do Sudeste.

Em 2000, o Brasil produziu cerca de 7,3 milhões de toneladas de produtos oriundos de madeira de Pinus elliottii. E, em 2005, só a produção de madeira serrada de Pinus elliottii atingiu 8,9 milhões de m³, quando havia 1,8 milhões de hectares de florestas de Pinus elliottii em território brasileiro, sendo 1,62 milhões de hectares para produção de celulose (SBS, 2006).

Além disso, o Brasil constitui-se no maior exportador mundial de madeira compensada de Pinus elliottii, tendo exportado cerca de 1,5 milhões de toneladas, ou 58% da produção total de 2,6 milhões de toneladas, o que corresponde a 70% da produção nacional de compensados de Pinus elliottii. O consumo interno de compensados foi de 1,7 milhão m³.

Cerca de 3 mil empresas no Brasil, localizadas sobretudo nas regiões Sul e Sudeste, utilizam Pinus elliottii nos seus processos produtivos, concentrando-se nos seguintes produtos: indústria de madeira serrada, celulose e papel, painéis, compensados, MDF e OSB. O consumo dessas empresas vem aumentando e algumas produtoras de madeira de Pinus elliottii têm até mesmo abandonando o mercado externo para vender aqui. Em 2005, o consumo de madeira do segmento de celulose e papel foi de 46,9 milhões de m³ (39,8 milhões m³ de eucalipto e 7,1 milhões m³ de Pinus elliottii) dos quais cerca de 92% eram para processamento e o restante, para energia (ABRAF, 2006; SBS, 2006).

Em 2005, os principais compradores da madeira serrada de Pinus elliottii foram os EUA, Espanha, Marrocos e México (ABIMCI, 2007).

A fabricação de produtos de maior valor agregado (PMVA), como madeira para construção e remanufaturados, molduras, beneficiados e pré-acabados (portas, janelas e torneados), armários e gabinetes semiacabados (banho, cozinha, tampos), móveis (domésticos, comerciais, jardim, institucionais), pallets e contêineres, estruturas e casas pré-fabricadas, está baseada especialmente na madeira de Pinus elliottii produzida no Sul e Sudeste e atingiu cerca de US$ 1 bilhão em exportações em 2005 (ABIMCI, 2007).

O negócio "Silvicultura" parte da premissa de que existe mercado para seus produtos, como foi demonstrado nos parágrafos anteriores. Entretanto, poderá ser viável ou não participar dele, dependendo das muitas variáveis ou fatores envolvidos. Deve-se distinguir entre os fatores que levam à seleção de áreas para silvicultura, ou aqueles utilizados na análise da viabilidade de projetos silviculturais, ou dos utilizados para a seleção das espécies a cultivar nas áreas eleitas como adequadas à silvicultura. A viabilidade de projetos de investimento deve levar em conta os seguintes critérios: viabilidade técnica (engenharia), econômica, financeira, social e política (REZENDE, 2005).

A seleção de áreas para silvicultura deve basear-se nas características do terreno para sua implantação, uso atual e potencialidade de uso do solo, preço e dimensões da terra, aspectos ambientais, econômicos, políticos e sociais.

A sustentabilidade das atividades humanas tem sido questionada pela sociedade e passou a ser uma exigência. O manejo das florestas produtivas em regime sustentado vem sendo recomendado há cerca de três séculos pelos silvicultores e está impregnado na Engenharia Florestal desde que a primeira escola foi criada, tendo sido a primeira das atividades antrópicas a desenvolver um conceito de sustentabilidade. Conceito esse que vem evoluindo e, na atualidade, parte do princípio de que devem ser considerados os seus aspectos ambientais, sociais, e econômicos; esses três pilares formam a base da sustentabilidade do manejo florestal, de acordo a FAO (2007). Assim, qualquer análise de viabilidade de programas de desenvolvimento florestal deve considerá-los como prerrogativas.

Este estudo foi realizado para Pinus elliottii elliottii na Serra do Sudeste, Rio Grande do Sul, tendo como objetivos: determinar os custos de produção e receitas possíveis; realizar a análise econômica da produção de madeira nas condições regionais; determinar a rotação de máximo Valor Presente Líquido.

MATERIAL E MÉTODOS

Local do estudo

Os locais de estudo localizam-se nos municípios de Cachoeira do Sul e Encruzilhada do Sul, no Rio Grande do Sul, distando cerca de 140 km de Santa Maria e 200 km de Porto Alegre, com coordenadas geográficas entre 52º 40' e 53º 00' de longitude Oeste e entre 30º 20' e 30º 45' de latitude Sul.

Características regionais

As florestas estudadas são formados de Pinus elliottii elliottii entre 6 e 26 anos de idade e se encontram em áreas com características fisiográficas da Serra do Sudeste em sua encosta noroeste em direção à Depressão Central.

Os solos da região pertencem a três unidades: alissolos crômicos e hipocrômicos, neossolos litólicos e argilossolos acinzentados (EMBRAPA-SOLOS, 2006). A região tem relevo ondulado, dissecado em forma de colinas; com altitudes entre 200 e 400 metros acima do nível do mar.

O clima é subtropical úmido sem estação seca; a temperatura média anual fica em torno de 16ºC, a média do mês mais frio em torno de 12ºC e a do mês mais quente em torno de 22ºC. A precipitação média anual está entre 1500 e 1600 mm (SCP, 2004), o que classifica o clima local como Cfb, pelo sistema de Köeppen, conforme Carvalho (1994).

Rotação e ciclo de desbaste

As florestas estudadas são manejadas em alto fuste para serraria, com plantio geralmente em espaçamento de 3 x 2 m, com três desramas realizadas em intervalo de 2 anos, iniciadas aos 5 anos, e quatro desbastes em ciclo de 4 anos, sendo o primeiro aos 10 anos de idade e rotação de 26 anos. Os cálculos foram realizados para todos os Índices de Sítio que não foram considerados fora do padrão regional. Dentre eles, procurou-se identificar o sítio com produtividade mais próxima da realidade local, condizente com a média nacional de 25 m³.ha-1.ano-1 e que apresentasse viabilidade econômica para servir de base de estudo e comparação. Após a identificação do Índice de Sítio para base de comparação, foi determinada a rotação de máximo Valor Presente Líquido entre 18 e 30 anos, com desbastes iniciando aos 10 anos de idade e ciclo de desbaste de 4 anos.

Custos e rendimentos na cultura de Pinus elliottii

Os custos da silvicultura e os rendimentos operacionais foram obtidos de diversas fontes na região, sobretudo de empresas prestadoras de serviços, silvicultoras e cooperativas agrícolas que se dispuseram a colaborar com esta pesquisa. Na maioria dos casos, houve a solicitação de não identificação da fonte; portanto, nenhuma fonte de dados econômicos ou silviculturais foi identificada neste trabalho.

Os cálculos de custos foram realizados com base nos preços cobrados por empresas prestadoras de serviços florestais e preços de produtos no segundo semestre de 2007.

É prática geral calcular o valor dos custos administrativos como 10% dos custos operacionais. Neste trabalho, foram discriminados alguns custos administrativos como o monitoramento das florestas e o monitoramento de pragas, doenças, matocompetição e aceiros. Consequentemente, reduziu-se o restante para 8% dos custos operacionais.

Nos cálculos dos valores anuais, somaram-se os custos de arrendamento praticados na região para a área de pecuária, o que é o mais comum. O valor gira em torno de 50 kg de boi vivo por hectare, cotados a R$ 2,40/kg, dando um total de R$ 120,00/ha por ano, tendo-se adotado esse valor nos cálculos. O valor mínimo de arrendamento é de cerca de 40 kg de boi vivo por hectare, cotados a R$ 2,10/kg, dando um total de R$ 84,00/ha por ano.

Algumas operações como capina e combate às formigas não são necessárias sobre todas as áreas em todos os anos. Foi estimado um percentual de incidência sobre a área total para as operações em que se julgou o conhecimento empírico como suficientemente preciso, pois não se obteve registro dessas operações. Na maioria das operações, a incidência foi considerada sobre 100% da área. Os preços, rendimentos e incidência sobre a área total utilizados nos cálculos são discriminados nas Tabelas 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10, 11, 12, 13 e 14. O custo anual em Reais é encontrado multiplicando-se a incidência pelo rendimento e pelo preço das tabelas anexas.

Silvicultura regional de Pinus elliottii

Conforme os dados levantados, as práticas silviculturais mais comuns observadas foram adotadas como metodologia para efeito deste trabalho, conforme se descreve a seguir.

A silvicultura na região inicia com o planejamento e licenciamento da área, marcação de estradas e aceiros e delimitação das áreas de reserva legal e preservação permanente.

Em seguida, deve ser realizada a abertura das estradas principais, o que pode ser executado com tratores de esteira ou motoniveladoras. Os solos da região têm boa agregação e capacidade de suporte, não sendo necessários tratamentos da superfície das estradas na implantação; o rendimento na abertura das estradas atinge em torno de 30 m lineares por hora com tratores de esteira de 12 a 14 t com lâmina frontal.

Após a limpeza do terreno é necessário combater as formigas com isca formicida a base de sulfluramida na dose de 5 kg/ha antes do plantio e de 3 kg/ha durante o plantio, com repasses aos 30 e 120 dias após o plantio na dose de 2 kg/ha.

Na implantação das florestas, é realizada, com antecedência de 7 a 10 dias do plantio das mudas, a aplicação de 3 a 4 litros por hectare de herbicida glifosato (pós-emergente) na linha de plantio e, imediatamente após o plantio, pode-se aplicar 3 litros por hectare de herbicida pré-emergente para manter a floresta jovem livre de matocompetição durante cerca de 120 dias. A aplicação de herbicidas é realizada numa faixa com um metro de largura, atingindo 1/3 da área; nos 2/3 restantes é realizada roçada mecanizada.

Assim que o herbicida apresenta o efeito desejado, é executado o preparo de solo com subsolagem na profundidade de 50 a 60 cm, com trator de esteiras de 130CV. Pela falta de comprovação da eficiência ou mesmo da necessidade de adubação, e em se considerando que o efeito da adubação sobre os Pinus elliottii é muito pequena, não sendo praticada na região por ser considerada dispendiosa, não participou da composição dos custos neste trabalho.

Adotou-se o espaçamento de plantio de 3 m entre linhas e de 2 m entre plantas na linha como o mais comum, ou densidade de 1.667 plantas por hectare. Na sequência, vêm os 3 primeiros anos de manutenção, durante os quais as plantações têm de ser mantidas livres de mato-competição por meio de roçada ou capina na entrelinha no caso de infestação por ervas de folhas largas ou de gramíneas, respectivamente, sendo que a capina pode ser manual ou mecanizada, física ou química, com aplicação realizada com pulverizador costal na linha de plantio e mecanizada na entrelinha, devendo-se realizar monitoramento de ervas daninhas para determinar a necessidade da operação. Neste trabalho, optou-se por coroamento manual das plantas e roçada ou capina mecanizada na entrelinha para reduzir o impacto ambiental, o que tem sido sugerido por auditores na certificação pelo FSC (IMAFLORA/SMARTWOOD, 2004). As formigas devem ser mantidas sob controle e o combate realizado somente se o monitoramento acusar necessidade; quando isso ocorrer, deve ser realizada aplicação sistemática de 2 kg/ha de formicida granulado nas áreas infestadas, que podem chegar a 70% do total, nessa fase; posteriormente, até o corte final, deve ser realizado monitoramento para determinar a ocorrência de pontos de concentração de alta infestação que devam ser combatidos; embora as formigas não causem prejuízo após os 3-4 anos de idade do povoamento, áreas infestadas podem ser focos para infestação de outros locais; o combate pode ser necessário em cerca de 20% das áreas nesse período.

A partir do 5o ano após o plantio, são iniciadas as desramas, que são executadas no 5o, 7o e 9o anos. Os desbastes são iniciados, em geral, no 10o ano. O intervalo de corte entre desbastes pode variar de 3 a 5 anos. A rotação dos Pinus elliottii na Região Sul varia entre 20 e 30 anos, quando se procede ao corte raso da floresta e sua renovação. A regeneração natural dos Pinus elliottii é intensa, mas em razão da pouca seleção genética dos plantios velhos existentes, as empresas têm preferido renovar as plantações por mudas de qualidade superior.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Custos da produção de madeira

Os custos calculados por fase são resumidos na Tabela 15. Os valores encontrados estão próximos aos de outros estudos, relacionados em secções anteriores. Na implantação foram encontrados valores de US$ 400,00 (cerca de R$ 720,00 com dólar cotado a R$ 1,80) até próximo de R$ 3.000,00, mas esses extremos parecem fora da realidade. Valores entre R$ 1.000,00 até R$ 2.500,00 para a implantação de 1 hectare de florestas, dependendo da situação, parecem ser coerentes. Valores próximos aos que foram calculados neste estudo são: R$ 2.000,00 em São Paulo (SILVA, 2005), R$ 2.000,00 no Mato Grosso do Sul (JOVEM SUL NEWS, 2006), R$ 2.103,19 (BOLETIM FLORESTAL, dez/2007) e R$ 2.306,85 (BRDE, 2003).

Produção

As prognoses de produção foram baseadas nas Tabelas Dinâmicas de Produção elaboradas por Floriano (2008). A produção total acumulada por hectare variou de 528 m³ no Sítio 22, até 1140 m³ no Sítio 34, ou seja, mais do que o dobro um do outro. As produções previstas por sítio e por intervenção são apresentadas na Figura 1. O Incremento médio anual ao final da rotação mostra que, nos povoamentos comÍndices de Sítio inferior a 26, a produtividade é baixa, inferior à média brasileira de 25 m³.ha-1.ano-1 informada pelo Banco do Brasil (2005), ABRAF (2006) e SBS (2006). As prognoses para os povoamentos com Índices de Sítio 30 e acima, entretanto, ultrapassam a média de 32,3 m³.ha-1.ano-1 obtida pela Klabin no Paraná de acordo com Bernett (2006).

Estimativas de receitas

As receitas não atualizadas, previstas com a venda da madeira em pé, foram calculadas pelo produto do volume estimado a ser produzido em m³ multiplicado pelo valor em Reais por m³ de madeira de cada sortimento. Os sortimentos foram classificados de acordo com o diâmetro na ponta fina das toras ou toretes conforme os critérios a seguir:

  • Toretes para processo – diâmetro entre ≥ 7 cm e < 12cm na ponta fina – R$ 19,00/m³;
  • Tora fina – diâmetro entre ≥ 12 cm e < 17 cm na ponta fina – R$ 25,35/m³;
  • Tora média – diâmetro entre ≥ 17 cm e < 23 cm na ponta fina – R$ 29,00/m³;
  • Tora grossa – diâmetro ≥ 23 cm na ponta fina – R$ 44,00/m³.

Análise econômica

Os resultados da análise econômica da produção de madeira de Pinus elliottii elliottii na Serra do Sudeste são apresentados na Tabela 16.

O estudo do Valor Presente Líquido (VPL) resultou na constatação de que o investimento em projetos de Pinus elliottii na região deixa de ser negativo somente a partir Índice de Sítio (IS) 26. O IS 28 é o melhor encontrado nas florestas velhas, com mais de 20 anos, e fica pouco abaixo da média nas florestas novas, até os 15 anos de idade, servindo como um patamar básico para análise. Como o valor do arrendamento foi incluído no cálculo e o valor do VPL no IS 26 foi pequeno (R$ 84,14), isso significa que em povoamentos com esse Índice de Sítio, a produção de madeira de Pinus elliottii tem rentabilidade um pouco maior do que o custo do arrendamento de terras, mesmo pagando juros de 6,75% a.a.

Partindo do IS 28, com VPL de R$ 1.147,17/ha, a atividade passa a ser interessante, remunerando mais do que o custo do arrendamento. Como a produtividade média dos povoamentos mais antigos é pequena, se as condições tivessem permanecido as mesmas, poderia se considerar pouco atrativo plantar Pinus elliottii na Serra do Sudeste. Porém, com material genético melhorado, os povoamentos jovens vêm demonstrando que, aplicando tratos silviculturais e manejo adequados, a produtividade aumenta de forma considerável, podendo chegar a níveis muito superiores aos obtidos com as florestas mais velhas, mudando o panorama, tornando as florestas de Pinus elliottii altamente lucrativas.

A razão Benefício/Custo ultrapassa a unidade nos povoamentos com IS 26, mostrando que somente começa a haver retorno dos investimentos nos povoamentos com produtividade acima desse patamar, ou seja, não há eficiência econômica abaixo do IS 26.

A Taxa Interna de Retorno (TIR) apresenta uma variação de aproximadamente 4,9% no IS 22 até 11,4% no IS 34, verificando-se que somente partindo do IS 26 com uma TIR de 6,86% é possível remunerar os juros do PROPFLORA de 6,75%, sendo inviável o cultivo de Pinus elliottii em sítios piores.

A TIR mostra que somente há retorno financeiro na produção de madeira de Pinus elliottii nas condições estudadas se o Índice de Sítio for 28 ou melhor. Assim, o silvicultor deverá escolher bem o material genético a utilizar, usar todas as técnicas silviculturais de eficácia já comprovada, como o sulcamento a 60 cm de profundidade e a eliminação da matocompetição até que as árvores plantadas suplantem a concorrência das ervas daninhas, com o objetivo de garantir que os plantios alcançarão os melhores índices possíveis de qualidade de sítio.

O Valor Anual Equivalente (VAE) mostra-se negativo nos Índices de Sítio 22 e 24, comprovando a inviabilidade da cultura nas condições estudadas em sítios dessa qualidade. Esse indicador passa a ser atrativo somente partindo do Índice de Sítio 26, mas a remuneração anual do capital empregado ainda é pequena (R$ 6,95/ano). O Índice de Sítio 28, com um VAE de R$ 94,78, é o primeiro que apresenta remuneração com alguma atratividade, semelhante ao mínimo valor do arrendamento de terras para pecuária na região, de 40 kg de boi vivo por hectare.

Nos plantios com a produtividade do Índice de Sítio 30 e acima, a remuneração do capital já é melhor do que o maior arrendamento de terras para pecuária na região que chega a 50 kg de boi vivo, ou cerca de R$ 120,00 ha-1.ano-1. Assim, em projetos que precisam remunerar o capital para dar retorno financeiro aos investidores, a aplicação nessa atividade só é vantajosa a partir desse Índice de Sítio, pois abaixo disso seria preferível comprar terras e arrendar, sem ter qualquer tipo de trabalho e de risco.

Como se pode ver na Tabela 17, para o caso do Sítio 28 em que o VPL já se apresenta como atrativo, o VPL pode variar de R$ -1.046,00 com juros de 10% até R$ 17.935,00 com taxa de juros nula. A diferença no VPL, da taxa de juros de 0% para 6,75% a.a. (taxa do Propflora), é de R$ 16.788,00, ou seja, os juros representam 93,6% da receita após descontadas as despesas. O produtor, de seus 6,4%, ainda teria de separar uma parte para pagar os impostos que incidem sobre o faturamento e os lucros.

Na Tabela 17, observa-se ainda algo interessante: uma taxa de juros de 6% no Índice de Sítio 28 resulta em Valor Anual Equivalente de R$ 149,33, maior que o valor do arrendamento anual, indicando que essa deveria ser a taxa de juros máxima a ser praticada para que o cultivo de Pinus elliottii, nas condições estudadas, seja suficientemente atrativo com a produtividades no mínimo igual a desse Índice de Sítio.

Como se vê, em povoamentos com o Índice de Sítio 28, juros compostos acima de 6% são inviáveis para projetos tão longos quanto à silvicultura de Pinus elliottii elliottii em alto fuste com o objetivo de produção de madeira para serraria. O financiamento do Propflora é de até 12 anos, o que leva a crer que os responsáveis pelo programa têm consciência da incompatibilidade da taxa de juros para a produção de madeira em rotações longas. Cabe aos silvicultores tentar influenciar a mudança das políticas públicas para essa área, no sentido de criar programas de financiamento que possuam prazos e juros compatíveis.

Rotação de máximo Valor Presente Líquido (VPL)

O estudo do Valor Presente Líquido (VPL) foi realizado com o IS 28 e resultou na constatação de que o investimento em projetos de Pinus elliottii elliottii na região deixa de ser negativo somente a partir da rotação de 22 anos. O pior resultado financeiro é com rotação de 18 anos. O melhor resultado é da rotação de 26 anos e 4 desbastes, idade em que ocorreu o máximo VPL, como pode ser observado na Figura 2.

A partir da rotação de 22 anos e 3 desbastes, a atividade passa a ser interessante, remunerando o produtor em, no mínimo, R$ 913,46/ha ao final da rotação.

Deve-se fazer uma resalva quanto aos resultados: embora o VPL na rotação de 30 anos tenha sido menor do que na de 26 anos, não se considerou a viabilidade de venda de madeira mais grossa para tornearia por ainda não existir mercado regional para esse tipo de produto. O preço da madeira para tornearia ultrapassa o valor de R$ 80,00/m³, o que pode tornar a rotação de 26 anos a mais lucrativa no futuro.

CONCLUSÕES

Os custos de implantação dos povoamentos foram estimados em R$ 2.292,09/ha e os de manutenção anual variaram entre R$ 134,84/ha e R$ 363,98/ha.

Partindo do sítio 28, com VPL de R$ 1.147,17/ha, a produção de madeira de Pinus elliottii passa a ser interessante, sendo que o no IS 26, com uma TIR de 6,86%, já seria possível remunerar os juros do Propflora de 6,75%.

Dentro dos critérios de análise adotados, demonstrou-se que as taxas de juros oficiais e os prazos de pagamentos praticados no Brasil ainda são incompatíveis com a silvicultura de longa rotação, que tem como objetivo a obtenção de madeira de grandes dimensões e maior valor agregado, sendo necessário criar políticas governamentais adequadas e específicas para esse tipo de empreendimento.

A análise de diferentes regimes de manejo para o IS 28 mostrou que o maior Valor Presente Líquido é obtido com rotação de 26 anos e quatro desbastes em ciclo de 4 anos, iniciando-se os cortes aos 10 anos.

A análise econômica foi realizada com bastante prudência, usando-se níveis de produtividade moderados, custos dentro de padrões que podem ser considerados entre médios e altos e preços de venda comedidos para o mercado de madeira atual. Mesmo com as restrições impostas à análise, os resultados para a silvicultura são promissores, sobretudo se for considerado que há uma forte tendência de aumento dos preços praticados pelo mercado regional e que há grande probabilidade de instalação de laminadoras de madeira para absorver os sortimentos de maior dimensão.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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