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Ciência Florestal, Vol. 20, No. 1, Jan-Mar, 2010, pp. 169-177 Diversidade de Trichocomaceae isoladas de solo em dois ecossistemas florestais Diversity of isolated Trichocomaceae from soil in two forest ecosystems Marcelo Elias Fraga1 Marcos Gervasio Pereira2 Deivison Jesus Barbosa3 Maruzanete Pereira Melo3
Recebido para publicação em 15/10/2008 e aceito em 19/10/2009. Code Number: cf10014 RESUMO A família Trichocomaceae inclui os gêneros de fungos anamórficos, Aspergillus e Penicillium. Muitos membros dessa família são importantes causadores de degradação de alimentos, biodeterioração, patogênicos a animais, e algumas espécies são usadas em biotecnologia e podem produzir micotoxinas. O presente trabalho foi realizado em duas áreas, durante o período de um ano (2006-2007) com coletas em área de plantio de pinus (Pinus elliotti) e Corymbia (Corymbia citriodora) com idade aproximada de 20 anos, no campus da UFRRJ, Seropédica, Rio de Janeiro, Brasil. Na área de cada cobertura vegetal foi estabelecida uma parcela de aproximadamente 500 m2, onde foram coletadas aleatoriamente dez amostras simples, em intervalos regulares de 70 dias. No momento da coleta foram medidas as temperaturas do solo com geotermômetro digital. Durante o de estudo também foi quantificada a precipitação pluviométrica e a temperatura ambiente. No período, foi verificada uma pequena variação da temperatura do solo nas áreas, valores de 21,93 a 27,69oC na área de pinus e 22,22 a 26,58oC na área de Corymbia. A variação mensal da umidade relativa mínima foi de 27,2/20,5 e máxima de 82,6/63,2 e os maiores valores de precipitação observados foi no mês de janeiro (22 dias). Em relação à micobiota, foi observada uma variação crescente da unidade formadora de colônia (UFC) nos período de maior temperatura e umidade relativa com índices variando de 12,8/58,2 e 20,3/83,3x103 para Corymbia e pinus respectivamente. O número total de fungos foi de 190 isolados, pertencentes a cinco gêneros e 54 espécies diferente, sendo 32 Penicillium spp., 19 Aspergillus spp., um Eupenicillium javanicu, um Eurotium chevalieri e um Sclerocleista ornata. A espécie mais abundante foi Penicillium decumbens, sendo encontrada em todas as coletas. Os períodos de maior concentração de UFC estão correlacionados com os períodos de chuva, umidade relativa e temperatura. As variáveis climáticas precipitação e temperatura foram os fatores que mais influenciaram na sucessão da micobiota no solo. Palavras-chave: Trichocomaceae; Pinus elliotti; Corymbia citriodora; solo. ABSTRACT Trichocomaceae family encompasses the greatest anamorphic fungi genera: Aspergillus and Penicillium. Many from this family have been causing food degradation, biodeterioration, animal pathologies, and some species have also been used in biotechnology as well as being responsible for mycotoxins production. This survey was carried out from 2006 to 2007 on approximately 20 years old Pinus (Pinus elliotti) and Corymbia (Corymbia citriodora) two plantation areas at Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brazil. At each litter area, around 500 m2, parcel was set up where 10 single samples at 70 days interval were randomly sampled. Soil temperatures by digital geothermometer at sampling point time were measured. Pluviometric precipitation annual environmental temperature during the research were also quantified. Soil temperature ranging from 21.93 to 27.69 C at pinus area as well as from 22.22 to 26.58 oC at Corymbia one was reported. The monthly minimum relative humidity was 27.2/20.5 and maximum 82.6/63.2 as well as greatest precipitation levels for 22 days in January was observed. In relation to mycobiota, an increasing colony unit formation (CFU) difference at highest temperature and relative humidity ranging from 12.8 to 58.2 and 20.3 to 83.3 x 103 for Corymbia and pinus was reported. Fungi records total number presented 190 isolated ones from five genera and 54 different species: 32 Penicillium spp., 19 Aspergillus spp., one Eupenicillium javanicu, one Eurotium chevalieri and one Sclerocleista ornate, at all. The most abundant species was Penicillium decumbens, found in all samples. The periods of greatest concentration of CFU are correlated with periods of rain, humidity and temperature. Climatic variables as precipitation and temperature have been the elements which influenced the soil mycobiota changing the most. Keyword: Trichocomaceae; Pinus elliotti; Corymbia citriodora; soil. INTRODUÇÃO Os plantios comerciais brasileiros com espécies dos gêneros Pinus e Corymbia têm ocupado extensas áreas, para produção de celulose e papel, embalagens, aglomerados, mobiliários, compensados e chapas, dentre outras aplicações (SBS, 2008). A produtividade dessas florestas é função de interação entre fatores biofísicos, químicos e biológicos. A ciclagem biológica e a retransformação e nutrientes são responsáveis pelo estado nutricional apresentado pelas árvores (AUER et al., 2006). O solo florestal é um habitat que oferece ambiente propício do desenvolvimento microbiano. E a participação da microbiota do solo no funcionamento e sustentabilidade dos ecossistemas é bem reconhecida (MOREIRA et al., 2008). Dessa forma alguns parâmetros referentes à atividade dos micro-organismos no solo podem ser utilizados como bioindicadores para avaliação do estado de equilíbrio ou desequilíbrio dos ecossistemas florestais (PEÑA et al., 2005). A diversidade é, em parte, uma função dinâmica evolucionária, uma vez que a mutação, a recombinação genética e a seleção natural combinam-se para produzir variabilidade, inovação e diferenciação na biota terrestre. Uma maior diversidade de espécies conduz à maior diferenciação de habits e aumento na produtividade que, por sua vez, permite uma diversidade ainda maior de espécies, tornando assim, as interações ecológicas próximas a estabilidade (GLIESSMANN, 2000). Dentro da família Trichocomaceae, os principais gêneros de fungos anamórficos são os Aspergillus e os Penicillium. Muitos membros dessa família são importantes causadores da degradação de alimentos, biodeterioração, patogênicos a animais, e algumas espécies são usadas em biotecnologia e podem produzir micotoxinas (MARKOVINA et al., 2005). Na biosfera, o hábitat mais rico em fungos é o solo. A principal função desses organismos é a degradação de matéria orgânica, envolvendo pelo menos quatro grupos distintos: celulolíticos, hemicelulolíticos, pectinolíticos e ligninolíticos (TAUK, 1990). Embora, muito se tenha estudado sobre a produção de Pinus e Corymbia, poucas são as informações sobre a micobiota decompositora e a sucessão desses organismos no solo (VENEDIKIAN e GODEAS, 1996; VENEDIKIAN et al., 2001; VIRZO de SANTO et al., 2002). O presente trabalho teve como objetivo avaliar a diversidade e a sucessão da família Trichocomaceae nos ecossistemas florestais de Pinus elliotti e Corymbia citriodora no período de 1 ano, no campus da UFRRJ. MATERIAL E MÉTODOS A área de estudo, com aproximadamente 500 m2, está localizada no campus da UFRRJ, município de Seropédica, RJ, entre as coordenadas Latitude: S 22o 45’48.3” e Longitude: WO 43o 42’ 14.3” para Pinus e Latitude: S 22o 45’ 57.1” e Longitude: WO 43o 41’ 14.8” para Corymbia. Os solos foram classificados como Planossolo Háplico segundo Sistema Brasileiro de Classificação de Solos (EMBRAPA, 2006). Os solos em questão apresentaram pequena variação quanto a sua composição granulométrica e química. O solos caracterizado até a profundidade de 10 cm apresenta textura arenosa (~90% de areia), baixos valores de capacidade de troca catiônica, material orgânico e conteúdo de Al+3 de 0,2 cmol.dm-3, Ca2++Mg2+ de 1,3 cmol.dm-3, e conteúdos de P e K de10 mg.dm3 e 21 mg.dm3 respectivamente. Os dados metereológicos utilizados foram temperatura (T) do ar, umidade relativa (UR) e precipitação pluviométrica obtidos da Empresa de Pesquisa Agropecuária do estado do Rio de Janeiro (PESAGRO) na Estação Experimental de Seropédica, RJ. Na área de cada cobertura florestal, foi delimitada uma gleba de dimensões de 50 x 50 m. Em cada gleba, foram abertas dez trincheiras até a profundidade de 10 cm. Após a retirada da serapilheira depositada, foram coletadas amostras na profundidade de 0-5 cm. As dez amostras simples, foram reunidas formando uma amostra composta de aproximadamente 1 kg. As coletas foram realizadas pela manhã, sendo as amostras acondicionadas em saco de papel, sendo posteriormente levadas ao laboratório para análise. No momento da coleta foram medidas a temperaturas do solo com geotermômetro digital, e tomadas amostras para determinação do conteúdo de água no solo (umidade). As coletas foram realizadas no intervalo de julho de 2006 a maio de 2007, em intervalos regulares de 70 dias (n = 20). A micobiota foi quantificada por UFC. O isolamento e identificação dos fungos foram feitos a 25oC por 5 a 7 dias, em cinco gramas de solo resuspendido em 45 mL de 0,1% de peptona contendo 0,1% de Tween 80 em frasco Erlenmeyer, em seguida agitado por 30 min em Shake a 150 rpm (GOMES et al., 2001; MARKOVINA et al., 2005). A contagem das UFC foi realizada segundo metodologia de diluição decimal seriada (102, 103 e 104) com três repetições. Todas as placas foram observadas diariamente, sendo que as placas de meios para enumeração foram selecionadas dentre aquelas que apresentaram número de colônias entre 10 a 100 (SAMSON et al., 2001). O isolamento foi baseado no estudo morfológico (macroscópico e microscópico) em meio Agar Dicloran Rosa de Bengal Cloranfenicol (DRBC) para as espécies da família Trichocomaceae (MARKOVINA et al., 2005). Para as identificações das espécies, foram consultadas bibliografias específicas como: Raper e Fennell (1965), Al-Musallam (1980), Klich e Pitt (1988), Pitt (2000), Samson et al. (2000); Klich (2002), Abarca et al. (2004), Samson e Frisvad (2004) e Samson e Varga (2007). RESULTADOS E DISCUSSÃO Os dados ambientais referentes à umidade relativa e temperatura durante o ano de coleta, apresentaram o valor máximo em dezembro com UR de 92% e T de 30oC, e o mínimo em setembro com 53% para UR e 15,4oC para T. Entretanto, nos meses de coleta (julho de 2006 a maio de 2007), foi verificada uma pequena variação na umidade relativa e temperatura (Figura 1). Essa pequena variação de umidade relativa e temperatura associadas com período de chuva promoveram um efeito diferenciado entre as áreas com relação ao desenvolvimento dos fungos. Para a área de Pinus verificou-se um aumento progressivo das UFC em função do aumento da precipitação, sendo verificado o valor máximo de 83,3 x 104. Esse comportamento foi diferenciado do observado para as amostras oriundas da área de Corymbia que não apresentaram aumento das UFC (coletas 1 a 4), sendo observado uma maior frequência destas na quinta coleta 58,2 x 104. A relação entre a atividade microbiana e a umidade do meio tem sido mostrada em vários trabalhos. Pena et al. (2005), estudando um ecossistema florestal (floresta ombrófila densa) em Paranaguá (PR) verificaram que a respiração microbiana pode funcionar como um indicador da qualidade de solo. Neste estudo, o efeito da umidade pode ter contribuído para diferença da UFC entre as duas coberturas que variaram de 12,8 a 58,2 x 104 para Corymbia e 20,3 a 83,3 x 104 para pinus. O número de UFC encontrado apresenta-se com valores aproximados aos verificados na literatura, valores esses para Floresta Atlântica que variaram de 25 a 38 x 104 UFC (TAUK-TORNISIELO et al., 2005) e para plantação de Corymbia 30 x104 UFC (VIEIRA e NAHAS, 2005). No entanto, esses autores não utilizaram o mesmo meio seletivo, que foi usado neste estudo, e que favoreceu o crescimento das espécies da família Trichocomaceae (Figura 2 e Figura 3). Os fungos saprófitas apresentam-se na sua grande maioria no solo. Entretanto, é extremamente complexa a quantificação e isolamento destes em tal ambiente (DOMSCH et al., 1993). A metodologia de cultivo direto utilizada para caracterização quantitativa da presença de fungos no solo apresenta-se com limitações quando comparadas com as técnicas moleculares (BRIDGE e SPOONER, 2001; KIRK et al., 2004; VIEIRA e NAHAS, 2005). A grande vantagem do cultivo direto em relação à caracterização qualitativa, é que por meio desta é possível isolar fungos, mesmo que estejam em pequena quantidade. O número total de registros de fungos apresentou 190 isolados, pertencentes a cinco gêneros e 54 espécies diferente, sendo 32 Penicillium spp., 19 Aspergillus spp., um Eupenicillium javanicu, um Eurotium chevalieri e um Sclerocleista ornata. Entre as 54 espécies isoladas, 11 não foram encontradas em solo de Pinus, 18 em solo de Corymbia e 25 foram encontradas nos dois tipos de solo (Tabela 1 a b c). As espécies do gênero Aspergillus foram encontradas com maior frequência nas primeira e segunda coleta (julho e setembro). Em relação às espécies de Penicillium que se apresentaram com uma distribuição homogenia nas cinco coletas. A espécie mais abundante foi Penicillium decumbens, sendo encontrada em todas as coletas. Já as espécies Aspergillus flavus, Aspergillus niger, Penicillium griseofulvum e Penicillium purpurogenum foram encontradas em quatro coletas sendo caracterizadas com moderadamente abundante. As espécies consideradas raras foram encontradas em uma das coletas, Aspergillus auricomus, Aspergillus candidus, Aspergillus fumigatus, Aspergillus niveus, Aspergillus sojae, Aspergillus ustus, Eupenicillium javanicum, Penicillium brevicompactum, Penicillium chrysogenum, Penicillium crustosum, Penicillium digitatum, Penicillium expansum, Penicillium rugulosum e Penicillium vulpinum (Tabela 1 a b c). A uniformidade da cobertura vegetal (plantios homogêneos) pode estar influenciando na baixa diversidade dos fungos. Segundo Klich (2002), a diversidade da comunidade fúngica do solo, pode tornar-se reduzida em habitats com baixa diversidade florística, assim com as queimadas e manejo de áreas cultivadas podem afetar a diversidade de fungos do solo. A presença de algumas substâncias contidas nas folhas dos vegetais, como em Corymbia que é rico em tanino, também pode restringir o desenvolvimento de algumas espécies (MARKOVINA et al., 2005). De acordo com Christensen et al. (2000), a diversidade e dominância da população de fungos de solo dependem da ocorrência de habitats específicos para determinadas espécies e para que ocorra uma alta diversidade de fungos. Essas observações corroboram com os resultados encontrados, pois se verificou a predominância de fungos pertencentes ao gênero Penicillium. Resultados semelhantes também foram verificados por outros autores, em áreas de plantio de pinus (AUER et al., 2006) e Corymbia (MARKOVINA et al., 2005). Os resultados encontrados neste estudo são confirmados pelos dados de Christensen et al. (2000) nos quais os autores propõem que o gênero Penicillium é um dos maiores representante da biodiversidade no solo, sobretudo em ambientes florestais. Em contraste com o gênero Aspergillus, que é encontrado com maior frequência em ambientes agrícolas com culturas de ciclo curto (KLICH, 2002; HORN, 2007). CONCLUSÕES Para as coberturas de pinus e Corymbia, observou-se um ampla variação das Unidades Formadoras de Colônias (UFCs). Verificou-se para a área de Pinus um aumento progressivo das UFCs paralelo ao aumento da precipitação pluviométrica. Os principais gêneros presentes tanto no cultivo com Pinus e Corymbia foram Penicillium e Aspergillus. A espécie Penicillium decumbens foi identificada em todas as amostragens nas diferentes condições de temperatura e umidade, independente da cobertura vegetal. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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