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Ciência Florestal
Centro de Pesquisas Florestais - CEPEF, Departamento de Ciências Florestais - DCFL, Programa de Pós Graduação em Engenharia Florestal - PPGEF
ISSN: 0103-9954 EISSN: 1980-5098
Vol. 20, Num. 2, 2010, pp. 283-294

Ciência Florestal, Vol. 20, No. 2, Apr-Jun, 2010, pp. 283-294

LEVANTAMENTO POPULACIONAL E COMPORTAMENTO DE VOO DE BORBOLETAS (LEPIDOPTERA) EM UM REMANESCENTE FLORESTAL EM SÃO SEPÉ, RS

POPULATION SURVEY AND FLIGHT BEHAVIOR OF BUTTERFLIES (LEPIDOPTERA) IN A FOREST PORTION IN SÃO SEPÉ, RS

Maína Roman1 Juliana Garlet2 Ervandil Corrêa Costa3

  1. Engenheira Florestal, Analista Ambiental, IBAMA, Rua Miguel Teixeira, 126, Bairro Cidade Baixa, CEP 90050250, Porto Alegre (RS). maina.roman@ibama.gov.br
  2. Engenheira Florestal, Doutoranda pelo Programa de Pós-Graduação em Engenharia Florestal, Centro de Ciências Rurais, Universidade Federal de Santa Maria, Av. Roraima, 1000, CEP 97105-970, Santa Maria (RS). julianagarlet@yahoo.com.br
  3. Engenheiro Agrônomo, Dr., Professor Titular do Departamento de Defesa Fitossanitária, Centro de Ciências Rurais,Universidade Federal de Santa Maria, Av. Roraima, 1000, CEP 97105-970, Santa Maria (RS). ervandilc@gmail.com

Recebido para publicação em 26/11/2007 e aceito em 27/10/2009.

Code Number: cf10023

RESUMO

Com o objetivo de analisar a lepidopterofauna de hábito diurno (borboletas) associada a um remanescente florestal nativo, foram utilizadas oito armadilhas iscadas com banana, instaladas a 1,0, 2,0, 3,0 e 4,0 m do nível do solo. As coletas foram realizadas, semanalmente, de dezembro de 2005 a dezembro de 2006, no município de São Sepé, RS. Foram analisados os índices faunísticos de frequência, constância, abundância e dominância. Também foram avaliadas a altura de voo e a diversidade de espécies. Foram coletados 737 indivíduos pertencentes à família Nymphalidae e distribuídos em seis subfamílias, 16 gêneros e 21 espécies. As espécies mais representativas foram: Euptychia sp., Hamadryas feronia, Taygetis ypthima, Epiphile huebneri, Biblis hyperia, Taygetis sp.1 e Praepedaliodes phanias. Os índices de Shannon e de Margalef indicaram maior diversidade para a altura de 4,0 m e menor para a de 1,0 m, constituindo a abundância relativa um parâmetro importante na condução da diversidade. Cerca de 70% das espécies coletadas foram caracterizadas como frequentes, comuns, não dominantes e de ocorrência acidental. Hamadryas feronia e Euptychia sp. foram constantes, dominantes e muito frequentes. As espécies Euptychia sp. e Taygetis ypthima apresentaram alturas de voo mais próximas ao solo.

Palavras-chave: índices faunísticos; diversidade; armadilha de fruta; altura de voo.

ABSTRACT

The objective of this study was to analyze lepidopterous insects with diurnal habits (butterflies) associated with a native forest portion. Eight traps with bananas installed at 1.0, 2.0, 3.0 and 4.0 m above soil surface were used. Samplings were obtained on a weekly basis from December 2005 to December 2006 in the county of São Sepé, RS. The faunistic indices represented by frequency, constancy, abundance and dominance were analyzed. Height of flight and species diversity were also evaluated. A total of 737 individuals of the Nymphalidae family were collected, which were classified into six subfamilies, 16 genus and 21 species. The most representative species were: Euptychia sp., Hamadryas feronia, Taygetis ypthima, Epiphile huebneri, Biblis hyperia, Taygetis sp.1 and Praepedaliodes phanias. The diversity indices of Shannon and Margalef indicate greater diversity at the height of 4.0 m and lower diversity at the height of 1.0 m, showing relative abundance as an important parameter in determining diversity. About 70% of the collected species were characterized as frequent, common, non-dominant and of accidental occurrence. Hamadryas feronia and Euptychia sp. were constant, dominant and very frequent. The species Euptychia sp. and Taygetis ypthima had height of flight close to the soil surface.

Keywords: faunistic indices; diversity; fruit trap; height of flight.

INTRODUÇÃO

Entre os artrópodes, os insetos destacam-se por apresentarem espécies-chave para conservação e grupos indicadores de padrões de riqueza de espécies (KREMEN et al., 1993).

Os lepidópteros formam uma das mais abundantes ordens de insetos, compreendendo aproximadamente 150 mil espécies descritas (HEPPNER, 1991), sendo que no Brasil são conhecidas mais de 25 mil espécies (BROWN Jr. e FREITAS, 1999). De acordo com Duarte (2004), das 122 famílias reconhecidas atualmente, 71 ocorrem no Brasil.

As borboletas estão envolvidas em muitas interações ecológicas dentro das comunidades a que pertencem, como as mutualísticas (polinização) e de predação (herbivoria), por exemplo (BOGGS et al., 2003). Outro aspecto importante é que pelo fato de lepidópteros serem facilmente amostrados para estudos de comunidades, terem ciclo de vida curto, apresentarem grande diversidade, sistemática e ecologia conhecidas, e baixa resiliência; as borboletas podem ser consideradas como bons bioindicadores para monitoramento ambiental (BROWN Jr., 1996; BROWN Jr. e FREITAS, 1999; MORAES, 2003).

As borboletas tropicais são representadas por cinco famílias, Hesperiidae, Papilionidae, Pieridae, Lycaenidae e Nymphalidae, que se dividem em duas grandes guildas: nectarívoras e frugívoras. A família Nymphalidae é responsável por uma parcela significativa da riqueza de espécies de borboletas frugívoras em ambientes neotropicais (DEVRIES et al., 1997).

As borboletas que se alimentam de néctar pertencem às famílias Papilionidae, Pieridae, Lycaenidae, Hesperiidae e as subfamílias de Nymphalidae: Libytheinae, Danainae, Ithomiinae, Heliconiinae e Nymphalinae. As borboletas da família Nymphalidae que se alimentam de frutas fermentadas, excrementos, exudados de plantas e animais em decomposição pertencem à linhagem satiróide: Satyrinae, Brassolinae, Morphinae, Charaxinae, Biblidinae e a tribo Coloburini (Nymphalinae) (FREITAS e BROWN Jr., 2004).

Algumas espécies de Nymphalidae, pertencentes à guilda de borboletas que se alimentam de néctar, como Apaturinae, Limenitidinae e alguns Ithomiinae são eventualmente capturadas em iscas fermentadas (UEHARA-PRADO et al., 2003).

A amostragem de borboletas frugívoras apresenta algumas vantagens práticas, que facilitam o estudo populacional de suas espécies. São facilmente capturadas em armadilhas iscadas com fruta fermentada, de modo que a amostragem pode ser simultânea e o esforço pode ser padronizado em diferentes áreas e meses do ano. Por conseguinte, a atração da borboleta pela isca, um recurso alimentar, reduz a possibilidade de capturas ao acaso, presentes em outros métodos (HUGHES et al.,1998; DEVRIES e WALLA, 2001).

Michereff et al. (2000) salientaram que o posicionamento das armadilhas nas plantas (altura) também pode influenciar na captura dos insetos, uma vez que numa floresta, o solo e a copa das árvores podem ser vistos como diferentes habitats, com componentes físicos e biológicos distintos. A copa das árvores, como um sítio primário de florescência e frutificação, atrai e abriga muitos vertebrados. Ademais, as condições climáticas na copa das árvores são diferentes em relação às do nível do solo.

No Parque Estadual do Morro do Diabo, em São Paulo, Mielke e Casagrande (1997) utilizaram dois métodos para captura de lepidópteros: rede entomológica e armadilha iscada com banana fermentada em caldo de cana. Foram coletados 426 lepidópteros, pertencentes às famílias Hesperiidae, Nymphalidae, Lycaenidae, Riodinidae, Pieridae e Papilionidae.

Em Uberlândia, no estado de Minas Gerais, foram utilizadas por Fortunato e Ruszczyk (1997), armadilhas iscadas com banana na coleta de lepidópteros diurnos em três áreas: praças públicas, mata de galeria no fragmento de floresta e franja ruralurbana. Foram coletadas 36 espécies, todas da família Nymphalidae.

Coletas de lepidópteros também foram realizadas por Teston (1998) em São Francisco de Paula na região de Pró-Mata, no Rio Grande do Sul, utilizando armadilha iscada com laranja, maçã e banana fermentada. Foram coletados 632 espécimes de lepidópteros, dos quais 357 pertenciam a família Nymphalidae.

Utilizando armadilha iscada com banana, Viana (1999) coletou 18 espécies de lepidópteros em talhão de Eucalyptus sp. e 15 espécies em fragmento de Floresta Estacional Decidual, em Itaara, RS. Ao todo, foram coletados 577 exemplares pertencentes à família Nymphalidae, distribuídos em sete subfamílias: Brassolinae, Charaxinae, Heliconiinae, Ithomiinae, Limenitidinae, Nymphalinae e Satyrinae.

Utilizando armadilha iscada de banana amassada com caldo de cana, Uehara-Prado et al. (2003) estudaram a distribuição de borboletas frugívoras em uma paisagem contínua (Reserva Estadual do Morro Grande, SP) e em fragmentos florestais adjacentes, no município de Cotia, SP. Foram amostrados ao todo 1.810 indivíduos em 70 espécies de borboletas frugívoras nas duas paisagens (54 na reserva e 54 nos fragmentos).

Quadros et al. (2004), por meio do uso de rede entomológica e armadilha de fruta, capturaram na planície costeira do Rio Grande do Sul 323 ninfalídeos distribuídos em 97 espécies, 12 subfamílias e 62 gêneros. A subfamília mais representativa foi a Nymphalinae, com 18 espécies.

No âmbito de um ecossistema florestal nativo ou exótico existe um número expressivo de insetos. Dentre esses, os lepidópteros constituem uma comunidade importante, tanto qualitativa como quantitativa e economicamente, em decorrência de muitas espécies tornarem-se espécies-praga. Exemplo disso são as lagartas, que são algumas das principais pragas tanto em culturas agrícolas como florestais.

O monitoramento das populações e comunidades ao longo do tempo pode fornecer informações importantes sobre riqueza e abundância de borboletas em áreas perturbadas e naturais, o que torna possível o conhecimento da ocorrência de uma nova espécie-praga e a aplicação de medidas, para que os efeitos da perturbação ambiental não sejam irreversíveis. Assim, o conhecimento das comunidades de lepidópteros é importante para o monitoramento e manejo dos diferentes ecossistemas.

Neste trabalho, objetivou-se contribuir para o conhecimento das espécies de lepidópteros diurnos que ocorrem associadas ao ecossistema estudado, bem como estudar o comportamento de voo das comunidades de borboletas.

MATERIAL E MÉTODOS

Características e localização da área de estudo

A pesquisa foi realizada em um remanescente florestal nativo, na região fitogeográfica de contato entre Floresta Estacional Decidual e Estepe Estacional, no município de São Sepé, localizado a uma latitude de 30º09’38" sul e a uma longitude 53º33’55" oeste, na região central do estado do Rio Grande do Sul. A altitude do local é de 85 m acima do nível do mar. A área é constituída de fragmentos de floresta nativa e pastagem.

O local amostrado trata-se de uma mata de galeria que acompanha um pequeno córrego semipermanente, com altura média do dossel em torno de 8,0 m. Dentre as espécies arbóreas encontradas na área, destacam-se: Helietta apiculata (cenela-de-veado), Patagonula americana (guajuvira), Luehea divaricata (açoita-cavalo), Cedrela fissilis (cedro), Podocarpus lambertii (pinheiro-bravo), Myrsine sp. (capororoca), Tabebuia heptaphylla (ipê-roxo) e Zanthoxylum hyemale (coentrilho).

A região caracteriza-se por apresentar relevo ondulado, clima Cfa 2 de Köeppen, com temperatura média anual de 18,7 °C e precipitação média anual de 1.648 mm. Podem ocorrer chuvas torrenciais de 141 mm em 24 horas e geadas de abril a novembro (Brasil, 1973).

Metodologia de coleta

Foram realizadas coletas semanais durante o período de dezembro de 2005 a dezembro de 2006 utilizando-se oito armadilhas iscadas com banana. A isca permanecia no campo por aproximadamente 12 horas: as frutas eram colocadas no início da manhã e retiradas no final da tarde quando eram feitas as coletas dos lepidópteros capturados nas armadilhas. As armadilhas foram dispostas aleatoriamente em trilhas dentro do fragmento, em quatro alturas diferentes: 1,0, 2,0, 3,0 e 4,0 m (duas armadilhas para cada altura), dispostas dentro da floresta a uma distância horizontal mínima de 20 m umas das outras e distantes da borda cerca de 30 m. As alturas de posicionamento das armadilhas foram escolhidas baseadas em um screening de altura, considerando que observações já realizadas demonstraram que as espécies de lepidópteros variam em função da altura analisada.

As armadilhas iscadas com fruta foram confeccionadas com rede de nylon, medindo aproximadamente 80 cm de altura e 30 cm de diâmetro, apresentando um disco de madeira na extremidade superior com uma abertura para entrada de luminosidade. A superfície do disco foi vedada com um plástico transparente. A superfície inferior ficou aberta, possuindo uma base de madeira, sustentada por fios de cobre a uma distância de aproximadamente 8 cm da borda inferior. Sobre a base de madeira, foi colocado um recipiente com as frutas para atrair os lepidópteros.

Os insetos coletados foram acondicionados em envelopes entomológicos, sendo levados ao Laboratório de Entomologia do Departamento de Defesa Fitossanitária da Universidade Federal de Santa Maria onde foram montados e etiquetados. O material entomológico foi identificado por comparação, com base em exemplares existentes na coleção entomológica do Museu do Departamento de Entomologia da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz – Universidade de São Paulo.

Metodologia de avaliação populacional

A análise quantitativa foi feita mediante a contagem dos exemplares. Foram empregados os índices faunísticos de frequência, segundo Silveira Neto et al. (1976), com determinação do intervalo de confiança proposta por Fazolin (1991); dominância proposta por Sakagami e Laroca (1971 apud WILCKEN, 1991); constância, de acordo com Bodenheimer (1955 apud DAJOZ, 1983); abundância, segundo Silveira Neto et al. (1976), e com as classes sugeridas por Dajoz (1983); e diversidade baseado no índice de Shannon (PIELOU, 1975; PIELOU, 1977; COELHO, 2000) e equação de Margalef citada por Southwood (1971).

Para as espécies que apresentaram as maiores frequências de ocorrência foram feitos estudos de comportamento de voo. Os valores originais de capturas dos lepidópteros foram transformados pela raiz quadrada de x + 0,5 para efeito de cálculos estatísticos e submetidos à análise de variância. As médias das coletas de cada espécie, para cada altura, foram comparadas pelo teste de Tukey, ao nível de significância de 5%.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Foram coletados 737 exemplares pertencentes à família Nymphalidae e distribuídos em seis subfamílias, 16 gêneros e 21 espécies (Tabela 1).

A subfamília Satyrinae foi a mais representativa com 38,10% (525 indivíduos), seguida da subfamília Nymphalinae com 33,34% (174 indivíduos), conforme Tabela 1 e Tabela 2. Resultados semelhantes foram obtidos por Viana (1999), pois entre os 107 indivíduos coletados em fragmento de Floresta Estacional Decidual, 37,38% pertenciam à subfamília Satyrinae e 28,97% dos indivíduos à subfamília Nymphalinae. Teston (1998) encontrou também a subfamília Satyrinae como a mais frequente, seguida por Nymphalinae.

A subfamília Satyrinae foi mencionada por Brown Jr. e Freitas (2000) e Uehara-Prado et al. (2003), como sensível à alteração ambiental, sendo desfavorecida pela perturbação, conferindo a esse grupo uma vantagem quanto a sua utilização como indicadores ambientais. O mesmo fato foi relatado por Moraes (2003) em estudo realizado em Poços das Caldas (MG). Logo, pode-se inferir que a rica fauna de Satyrinae da comunidade florestal deste estudo é um bom indicador da existência de mata em bom estado de conservação.

Os gêneros Taygetis, com cinco espécies (23,8%) e Hamadryas, com duas espécies (9,52%) foram os mais representativos. Outros 14 gêneros coletados contribuíram com apenas uma espécie (Tabela 2).

Dentre as espécies coletadas, destacam-se pelas frequências Euptychia sp. com 50,88% (375 indivíduos), Hamadryas feronia com 10,18% (75 indivíduos), Taygetis ypthima com 9,5% (70 indivíduos), Epiphile huebneri com 5,97% (44 indivíduos), Biblis hyperia com 5,97% (44 indivíduos), Taygetis sp.1 com 4,34% (32 indivíduos) e Praepedaliodes phanias com 3,53% (26 indivíduos) (Tabela 2). Diferindo desses dados, Dessuy e Morais (2007) observaram que as espécies Biblis hyperia e Praepedaliodes phanias apresentaram baixas densidades em vegetação nativa, no município de Santa Maria (RS).

Na Tabela 3, podem ser encontrados os resultados dos índices de diversidade para cada altura de posicionamento de armadilha e total.

Ambos os índices de diversidade, de Shannon e de Margalef, apresentaram o maior e o menor valor para as alturas de 4,0 m e 1,0 m respectivamente. O índice de Margalef enfoca a riqueza de espécies representada pelo número de espécies observado em um determinado local. No estudo em tela, a maior riqueza foi observada aos 4,0 m de altura e a menor, a 1,0 m. Já o índice de Shannon considera, além da riqueza, a abundância relativa de cada espécie, ou seja, reflete mais a equitabilidade dos indivíduos (considera a distribuição de indivíduos entre as espécies), podendo-se inferir que esse é o principal parâmetro que conduz a diversidade de lepidópteros no remanescente florestal estudado.

Enquanto que para a altura de 1,0 m houve a dominância de uma espécie (116 indivíduos de Euptychia sp.; frequência de 59,5%), fazendo com que a equitabilidade ficasse mais baixa e consequentemente diminuindo a diversidade, para as demais alturas estudadas essa dominância ficou gradativamente menos evidenciada: 2,0 m (127; 53,6%), 3,0 m (80; 44,9%) e 4,0 m (52; 40,9%), proporcionando com que o índice de Shannon fosse aumentando da posição mais baixa para a mais alta.

Diante desses resultados (Tabelas 3), deduzse que a provável abundância de um determinado recurso natural no ambiente mais próximo ao solo favoreceu uma ou duas espécies, como exemplo Euptychia sp. e Taygetis ypthima (Tabela 8), e não outras, de maneira que a dominância destas se desenvolveu e a diversidade se reduziu.

A diversidade total calculada pelo índice de Margalef foi de 3,03, confirmando os resultados encontrados por Viana (1999) em Fragmento de Floresta Estacional Decidual, pelo método da armadilha iscada com banana, onde o índice encontrado foi de 3,37.

Conforme Tabela 4 e Figura 1, a maioria das espécies coletadas foi caracterizada como frequente, com um percentual de 90,48%. As espécies muito frequentes representaram 9,52% com apenas duas espécies.

As espécies muito frequentes foram representadas por Euptychia sp. e Hamadryas feronia, conforme relação constante na Tabela 2. Hamadryas feronia também foi relatada por Viana (1999), em Itaara (RS), como espécie muito frequente. Foram encontradas 19 espécies frequentes (Tabela 4 e Figura 1). Entre estas, Eryphanes reevesi, Biblis hyperia e Hamadryas amphinome também foram referidas por Viana (1999) como frequentes em levantamentos efetuados em Eucalyptus sp. e Floresta Estacional Decidual.

O fato de terem sido registradas 90,48% das espécies coletadas no remanescente florestal como frequentes, apresentando intervalos variáveis, pode ser atribuído a uma limitação do método, uma vez que a média foi de 35,09 indivíduos por espécie e o desvio padrão de 81,15, obtendo-se assim valores extremos no intervalo de confiança.

De acordo com os dados relacionados na Tabela 5 e Figura 2, observou-se que 17 espécies tiveram ocorrência acidental, com um percentual de 80,95%, ocorrendo duas espécies constantes e duas acessórias. As espécies constantes foram Euptychia sp. e Hamadryas feronia. Hamadryas feronia também foi referida por Viana (1999) como espécie constante em talhão de Eucalyptus sp., porém foi acessória no fragmento de floresta nativa.

A espécie Eryphanes reevesi é acidental, conforme dados listados na Tabela 2. Em contrapartida, Viana (1999) relaciona esta espécie como acessória em levantamento realizado em Eucalyptus sp. Comparando área urbana, mata de galeria e zona rural nos arredores de Uberlândia (MG), Fortunato e Ruszczyk (1997) encontraram abundante. Hamadryas feronia foi abundante nesta Eryphanes reevesi exclusivamente na mata de galeria. pesquisa e muito abundante nas capturas de Viana

A espécie Biblis hyperia foi acessória neste (1999) em Itaara (RS). Em contrapartida, entre 128 levantamento, porém foi acidental nas coletas espécies de ninfalídeos encontrados por Mielke e realizadas por Viana (1999) em Itaara (RS). Casagrande (1997) em São Paulo, Euptychia sp. e

Conforme Tabela 6, Figura 3 e relação Hamadryas feronia não foram capturadas. constante na Tabela 2, 90,47% das espécies coletadas Entre as espécies comuns estão Eryphanes são comuns. Apenas Euptychia sp. foi muito reevesi, Biblis hyperia e Hamadryas amphinome, também relacionadas como espécies comuns por Viana (1999), em floresta nativa e talhão de Eucalyptus sp. Taygetis tripunctata, Biblis hyperia, Eunica margarita, Hamadryas amphinome, Callicore pygas, Zaretis itys e Memphis morvus foram comuns neste levantamento, confirmando as observações feitas por Mielke e Casagrande (1997) no Parque Estadual do Morro do Diabo (SP).

Com relação ao índice de dominância, foram encontradas 16 espécies não dominantes, com um percentual de 76,19%, e cinco espécies dominantes, representando 23,81% do total das coletas (Tabela 7 e Figura 4).

Resultado semelhante foi obtido por Viana (1999), em que das 15 espécies capturadas em um fragmento de Floresta Estacional, 80% foram espécies não dominantes e 20% espécies dominantes. As espécies dominantes são: Biblis hyperia (Nymphalinae), Epiphile huebneri (Nymphalinae), Hamadryas feronia (Nymphalinae), Euptychia sp. (Satyrinae) e Taygetis ypthima (Satyrinae). Enquanto que, no levantamento realizado por Viana (1999) foi constatada a espécie Hamadryas feronia como dominante, Biblis hyperia foi classificada como não dominante. Uehara-Prado et al. (2003), em estudos realizados no município de Cotia (SP), encontraram a espécie Taygetis ypthima como importante bioindicadora.

Altura de voo

Quanto à altura de instalação das armadilhas, a coleta de lepidópteros foi maior nas armadilhas instaladas a 2,0 m do nível do solo, não existindo, entretanto, uma diferenciação significativa das capturas realizadas a 1,0 e 3,0 m de altura.

As espécies Euptychia sp. e Taygetis ypthima, ambas pertencentes à subfamília Satyrinae, tiveram maior coleta de indivíduos nas armadilhas mais próximas do solo, apresentando coletas significativamente menores à altura de 4,0 m. Isso possivelmente pode estar relacionado com as condições do ambiente próximo ao local de posicionamento das armadilhas mais baixas, como a disponibilidade de alimento em plantas de subbosque.

Embora as espécies Praepedaliodes phanias, Hamadryas feronia, Biblis hyperia, Taygetis sp.1, Adelpha mythra e Epiphile huebneri tenham demonstrado maiores capturas mais próximas ao solo ou mais distantes dele, foram coletados representantes tanto nas armadilhas mais baixas como nas mais altas, evidenciando possuírem uma maior amplitude de voo.

CONCLUSÕES

Baseando-se nos resultados obtidos concluise que:

a) Todos os indivíduos coletados pertencem à família Nymphalidae, sendo 38,10% representantes da subfamília Satyrinae;

b) Os índices de Shannon e de Margalef indicaram maior diversidade para a altura de 4,0 m e menor para a de 1,0 m. A abundância relativa demonstrou ser um parâmetro importante na condução da diversidade, uma vez que a predominância de algumas espécies no ambiente mais próximo ao solo, em detrimento da maioria, influenciou para que a diversidade fosse reduzida;

c) A maioria das espécies coletadas foi caracterizada como frequente, comum, não dominante e com ocorrência acidental, atingindo um percentual de 71%;

d) Hamadryas feronia e Euptychia sp. foram constantes, dominantes e muito frequentes;

e) As capturas realizadas a 2,0 m foram significativamente maiores que a 4,0 m de altura;

f) As espécies Euptychia sp. e Taygetis ypthima apresentaram altura de voo mais próxima ao solo.

AGRADECIMENTO

Ao professor Dr. Sinval Silveira Neto, Departamento de Entomologia, Fitopatologia e Zoologia Agrícola da ESALQ/USP, pela colaboração na identificação dos lepidópteros.

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