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Archivos Latinoamericanos de Produccion Animal, Vol. 13, No. 2, Mayo-Agosto,
2005, pp. 63-69
Impacto econômico da mastite em seis fazendas de Araxá –Minas Gerais, Brasil Economic impact of mastitis in six farms of Araxá - Minas Gerais state, Brazil E. V. Holanda Junior1, F. E. Madalena2, Eve D. Holanda3, Wesley M. Miranda4, Marcelo R. Souza5 Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária. BR 428, km 152, Zona Rural
- Caixa Postal 23 Petrolina, PE - Brasil. Recibido Junio 10, 2003. Code Number: la05008 ABSTRACT. The economic impact of mastitis was estimated in six farms of the Araxá Region in the State of Minas Gerais, making use of accounting records. The veterinary products used for mastitis between May 1997 and May 1998 were grouped into treatment and prevention classes. The number of clinically infected quarters was obtained from the standard treatment doses and from this, the number of sub-clinically affected quarters was estimated. The costs of discarded cow replacement, veterinary services, labour for treatment and prevention, and loss of returns from discarded milk and lower yield (obtained from the literature) were added to the costs of veterinary products to obtain the total cost. The average percentage of clinically affected quarters was 4.89% and the estimated ratio of sub-clinical/clinical quarters was 8.81. The total annual costs plus losses from mastitis were US$ 126 per cow in milk. Of this total, 60% and 15% were due to losses of milk production caused by sub-clinical and clinical mastitis, respectively; 12% was due to non-functional quarters lost to mastitis, 6% top extra labour, 2% to cow replacements, 2% to veterinary products, 2% to veterinary services and 2% to discarded milk. Keywords: Costs, Economics Losses, Mastitis, Cattle, Milk. RESUMO. Estimou-se o impacto econômico da ocorrência da mastite em seis fazendas da microrregião geográfica de Araxá, Minas Gerais, por intermédio dos registros contábeis. Os medicamentos empregados para mastite, entre maio de 1997 a maio de 1998, foram classificados em para tratamento e para prevenção. O número de quartos afetados com mastite clínica foi obtido da dosagem dos medicamentos para tratamento e, a partir deste, estimado o número de quartos subclínicos. Aos gastos com medicamentos para mastite, foram somados os custos de reposição de animais, serviços veterinários, mão-de-obra extra para tratamento e prevenção e as perdas, em reais, provocadas pela redução da produção de leite e descarte do leite por causa de mastite (obtidas da literatura). O percentual de quartos afetados por mastite clínica foi 4,89% e a relação quarto subclínico/ quarto clínico foi de 8,81. Os custos e perdas totais com mastite foram equivalentes à US$ 126 por vaca em lactação por ano. Deste total, 60% foram devido à redução na produção provocada por mastite subclínica, 15% com redução provocada por mastite clínica, 12% com perdas por quartos afuncionais, 6% com mão-de-obra extra, 2% com reposição de animais, 2% com medicamentos, 2% com descarte de leite por causa de tratamento e 2% com serviços veterinários. Palavras-chave: Custos, Perdas, Economia, Mamite, Bovino, Leite. Introdução A mastite é uma inflamação da glândula mamária que ocorre em decorrência da contaminação por bactérias patogênicas, vírus, fungos e algas ou por traumas provocados por agentes químicos, físicos, mecânicos, térmicos ou por problemas metabólicos. A mastite é de difícil controle e erradicação, sendo a mais comum enfermidade que acomete o gado bovino do mundo inteiro, apesar dos produtores considerarem apenas parte do problema, que são as mastites clínicas, já que a maioria geralmente não observa a existência de mastites subclínicas. O grau de inflamação da glândula mamária depende do nível sanitário e de produção, que por sua vez são influenciados por diversos fatores, tais como a supervisão do serviço de ordenha, características inerentes ao ordenhador, o nível nutricional, o sistema de alimentação, o número de ordenhas e o número de lactações ou idade da vaca (Harrop et al., 1975; Mcdermott et al., 1983; Oliveira, 1989; Holmes et al., 1996; Conradie, 2001). Segundo Costa et al. (1995) a partir dos níveis de mastite clínica pode-se especular sobre a freqüência de quartos com mastite subclínica. Estudos determinando os gastos e as perdas totais por mastite no Brasil não são comuns, provavelmente por causa das dificuldades de se incluir todos os itens de forma adequada nos custos (Santos, 2001a). Neste trabalho, desenvolveu-se uma metodologia e estimou-se os custos totais com mastite em seis fazendas produtoras de leite localizadas na microrregião geográfica de Araxá, Minas Gerais. Material e Métodos Foram separados dos registros econômicos e zootécnicos diários feitos em seis fazendas que forneciam leite para a Cooperativa dos Produtores de Araxá, os registros de medicamentos indicados para tratamento de mastite clínica e subclínica e utilizados entre maio de 1997 e abril de 1998. Os medicamento foram separados e classificados segundo sua principal indicação de uso terapêutico a partir dos nomes comerciais e de acordo com Compêndios Veterinários (Manual..., 1998; Compêndio..., 2000). Foram utilizadas duas classes: tratamento de mastite clínica e tratamento para prevenção (incluindo produtos para mamite subclínica). Em cada classe foram agrupadas as quantidades por medicamento utilizadas em cada fazenda e os seus respectivos valores em reais. A partir da quantidade de medicamentos para mastite clínica e das posologias recomendadas nos Compêndios Veterinários (Manual..., 1998; Compêndio..., 2000) foi estimado o número de quartos tratados com mastite clínica em cada fazenda (Quadro 1). Este número foi utilizado como base para estimar os números de quartos com mastite subclínica e afuncionais, como se descreve posteriormente. O custo total da mastite foi definido como a soma dos gastos e perdas, como segue: Custo anual com mastite por fazenda = gastos com medicamentos + gastos com serviços veterinários para tratamento e prevenção + gastos com mão-deobra extra para tratamento e prevenção + perdas provocadas pela redução da produção de leite + descarte de leite + custos de reposição de animais por causa de mastite. Os gastos com medicamentos foram obtidos diretamente dos registros de fluxo de caixa de cada fazenda. Para a determinação do tempo gasto com serviço veterinário e mão-de-obra extra para tratamento adaptou-se o número de serviços e classe de executores expostos na Quadro 2. O valor da hora de trabalho para cada executor das tarefas foi extraído das anotações contábeis de cada fazenda, considerando o valor médio da mão-de-obra no período. Considerou-se que o tratamento de casos clínicos foi feito prioritariamente pelo administrador. Quando não existia registro do uso deste tipo de mão-de-obra, adotou-se o valor da mão-de-obra familiar. Na ausência dos valores anteriores, empregou-se o valor do serviço do ordenhador. Os gastos com mão-deobra para prevenção de mastite foram estimados a partir do tempo médio de 1,36 min/vaca/ordenha, para lavagem e desinfeção das tetas, conforme Benedetti e Pedroso (1996), para 10 fazendas. Considerou-se que em todas as fazendas estudadas foram executadas duas ordenhas durante todo o ano. Para se estimar a redução da produção foram utilizados resultados da literatura brasileira, apresentados na Quadro 3, em função do número de quartos clínicos, afuncionais e subclínicos, neste último caso segundo o grau de reação ao California Mastitis Test (CMT). A perda anual em litros de leite por fazenda devido a mastite (L)é dada pela expressão L = TQ x PQ {(pC x RC) + (pC x 6 x 4 / 365) + (pA x RA) + pS (Si piRi)} onde: TQ = Total de quartos em lactação por fazenda (= ¼ do número de vacas em lactação) PQ = produção de leite/quarto/ano (= ¼ da produção diária/vaca em lactação x 365), PC = proporção de quartos com mastite clínica no ano, sobre TQ, PA = proporção de quartos afuncionais, sobre TQ, PS = proporção de quartos com mastite subclínica, sobre TQ, RA = redução proporcional na produção por quarto afuncional, Ri = redução proporcional na produção por quarto, para cada classe de CMT (i=1,..,3), Pi = proporção de quartos com mastite subclínica em cada classe de CMT (i=1,..,3), RC = redução proporcional na produção por quarto com mastite clínica. Para aplicar a expressão de L contava-se com o total de quartos (TQ), a produção média por quarto (PQ), a proporção de quartos clínicos de cada fazenda (pC, Tab. 1) e com as reduções de produção RA, Ri e RC, da tabela 3, sendo necessário estimar pA e pS, o que foi feito através de regressões dessas duas variáveis sobre pC, desenvolvidas de informações da literatura (pA = 0,44pC e pS = 0,12 + 6,43pC; material suplementar disponível com os autores). Examinou-se ainda se a incidência da proporção das três classes de reação no CMT eram influenciadas pela proporção de quartos subclínicos, mas não tendo-se encontrado relação entre estas variáveis, adotou-se os valores de pi da Quadro 3 para todas as seis fazendas. A perda econômica foi calculada multiplicandose a redução anual L, em litros, em cada fazenda, pelo preço médio recebido por litro na mesma. Considerou-se descarte do leite durante período médio de tratamento de três dias e mais três dias após a última aplicação de medicamento (Oliveira, 1989) de forma que a quantidade de leite descartado foi seis vezes a produção média diária por vaca em cada fazenda, para cada caso de mastite clínica. O valor do leite descartado foi obtido multiplicando a quantidade pelo preço em cada fazenda. O custo de reposição de animais descartados por causa de mastite (CRM) foi obtido pelo produto do custo de reposição de uma vaca descartada (cD) = vezes o número de vacas descartadas por mastite (NDM), CRM = NDM cD. O custo de reposição de uma vaca descartada (cD) foi estimado pela diferença entre o preço médio por vaca vendida para abate e o valor médio de inventário, por vaca, em cada fazenda. O número de vacas descartadas por mastite (NDM) foi estimado a partir da regressão da proporção de vacas vendidas para abate em cada fazenda sobre o número de casos de mastite (NDM=2,06pC; material suplementar disponível com os autores). Os valores de venda das vacas para descarte foram obtidos dos registros de vendas disponíveis em cada fazenda. Resultados e Discussão
As fazendas estudadas tinham vacas mestiças Holandês:Zebu, com freqüência gênica esperada entre inferior a ½ e ¾ de grau de sangue Holandês. Em média, 78% do total de vacas estiveram em lactação no período estudado. As produções diárias variaram de 193 à 442 L e a produção por vaca em lactação de 5,2 à 10,3 L/dia. O preço médio do litro de leite foi R$ 0,245. Em duas fazendas foi utilizada ordenha mecânica (Quadro 4). As fazendas V e VI tiveram maior produção por vaca em lactação, adotaram ordenha mecânica, apresentaram percentual de vacas em lactação abaixo da média, maiores custos com o dia de serviço da mão-de-obra para tratar casos clínicos de mastite. A fazenda VI foi a fazenda com maior percentual de vacas ¾ HOL:ZEBU e maior produção diária de leite. Durante o período estudado foram descartadas por todas as causas, em média, 4,83 vacas por fazenda, sendo estimado em 13% os descartes por causa de mastite. Santos (2001b) cita que as taxas médias de descarte por mastite são de aproximadamente 15%, variando entre 5 e 24%. Existiram 8,81 quartos subclínicos para cada quarto clínico, valor próximo dos encontrados por Langenegger et al. (1970) e Oliveira (1989) e inferior ao apresentado por Costa et al. (1995). Estimou-se média de 75 quartos/fazenda afetados por mastite, sendo 86% por mastite subclínica e 10% por clínica (Quadro 5 ), representando perdas, incluindo descarte e redução na produção, anuais na produção de leite de 18.729 litros de leite por fazenda (Quadro 6). Estas perdas representam 17% do total de leite produzido, o que significa um valor de R$ 389 por fazenda por mês. De acordo com Santos (2001a), não é possível eliminar totalmente as perdas por mastite em uma fazenda, porém, sabe-se que a implantação de medidas de prevenção podem resultar em relações benefício-custo favoráveis para os produtores. Oliveira (1989) obteve média de 2,6 unidades de benefício para cada unidade de custo de implantação de dois programas experimentais de tratamento e prevenção de mastite subclínica em dois rebanhos de Minas Gerais e dois do Rio de Janeiro. Considerando o percentual do total de quartos que foi acometido pela mastite, 51%, as perdas de leite estimadas foram relativamente menores que os valores apresentados por Santos (2001a,) para os EUA, 32% de quartos infectados e 18% do total de perdas de produção. Isso pode ser devido a diversos fatores, inclusive a raça, a ordenha com bezerro e as menores produções nas fazendas estudadas em comparação com as fazendas americanas. Sem considerar os quartos afuncionais e as perdas relativas, o percentual de quartos acometidos cai para 49% e as perdas para 14%. Este valor estar de acordo com o apresentado por Santos (2001a), como estimativa dessas perdas de leite no Brasil, 12 à 15% do total produzido. Os custos e perdas totais com mastite foram equivalentes à US$ 126 por vaca em lactação por ano (Quadro 7). Deste total, 60% foi por causa da redução na produção provocada por mastite subclínica, 15% com redução provocada por mastite clínica, 12% com perdas por quartos afuncionais, 6% com mão-de-obra extra com mastite, 2% com reposição de animais, 2% com medicamentos, 2% com descarte de leite por causa de tratamento e 2% com serviços veterinários. Segundo Santos (2001b) as estimativas de custos podem variar em função da metodologia utilizada, sendo que, em média, os casos clínicos representam custo de US$ 100,00 por caso, incluindo neste valor: perda na produção de leite, descarte de leite, custo de tratamento, e custos associados ao descarte, morte prematura e trabalho extra. Este autor cita custos com mastite clínica, nos EUA, variando de US$ 36 a 50 vaca/ano. Neste artigo, considerando os itens citados por esse autor, à exceção da morte prematura, os custos médios com mastite clínica foram de US$ 43/ vaca em lactação/ano. No Brasil, Vercesi Filho et al. (2000) e Martins et al. (2002) estimaram, respectivamente, em 91 e 125 litros de leite, os gastos com medicamentos e descarte do leite por caso clínico. No presente estudo, esses itens significaram 70,18 litros de leite/fazenda, o que representa apenas 2% dos custos e perdas totais. É provável que o peso da mastite na lucratividade real de fazendas leiteiras seja ainda maior que a estimada por Vercesi Filho et al. (2000). Provavelmente, os gastos com mão-de-obra prevenção de mastite estão subestimados, posto que apenas incluem a lavagem e desinfeção de tetas. Alerta- se para que os resultados encontrados são válidos apenas para estas seis fazendas e para o período estudado. Porém, diante da escassez de informações, este estudo representa importante contribuição ao tema. O teste de modelos de estimativa número de casos subclínicos com maior número de observações pode ser importante para aumentar a precisão de pesquisas em que a obtenção dos custos com mastite se faz necessária e não se tem disponível o número de casos subclínicos nos rebanhos estudados. O redirecionamento das pesquisas sobre mastite no Brasil parece ser uma necessidade, pois a maioria das pesquisas feitas no Brasil versam mais sobre tratamento e diagnóstico da mastite, sendo pouco conhecidas as relações entre os sistemas de criação, incluindo fatores humanos, e a incidência de mastite. O estabelecimento destas relações permitiria a constituição pelos produtores de sistemas de menores custos e riscos à saúde. Literatura Citada
© 2005 ALPA. Arch. Latinoam. Prod. Anim. The following images related to this document are available:Photo images[la05009t6.jpg] [la05009t3.jpg] [la05009t5.jpg] [la05009t2.jpg] [la05009t1.jpg] [la05009t7.jpg] [la05009t4.jpg] |
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