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Archivos Latinoamericanos de Produccion Animal
Asociacion Latinoamericana de Produccion Animal
ISSN: 1022-1301 EISSN: 2075-8359
Vol. 13, Num. 3, 2005, pp. 87-91
Archivos Latinoamericanos de Produccion Animal, Vol. 13, No. 3, 2005, pp. 87-91

Engorda final de tilápias (Oreochromis niloticus) no meio-oeste catarinense no período de verão com alevinos nascidos no outono-inverno oriundos do litoral de Santa Catarina (BRASIL)

Finishing of tilapia niloticus (Oreochromis niloticus) in the midwest of Santa Catarina State in Summer using Autumn and Winter-born coastal fingerlings

Á. Graeff1, H. Amaral Junior2

Unidade de Pesquisa em Piscicultura. Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural EPAGRI 89500-000 - Caçador SC BRASIL
1Nutrição de Peixes de Clima Tropical/EPAGRI Estação de Piscicultura de Caçador SC (BRASIL) e-mail: agraeff@epagri.rct-sc.br
2Reprodução de Peixes/EPAGRI Estação de Piscicultura de Camboriu SC (BRASIL) e-mail: Hilton@epagri.rct-sc.br 

Recibido Marzo 16, 2005.
Aceptado Septiembre 20, 2005.

Code Number: la05012

ABSTRACT.

The objective of this research was to verify the zootechnical viability of culturing tilapia niloticus in midwestern Santa Catarina in Summer, based on the criteria of growth in length and weight, survival rate, apparent feed conversion and total biomass. The experiment was conducted in three dug ponds of 180 m2 area each. On September 17th, 2001 all the ponds were stocked with fingerlings of 7.0 cm mean length and 7.3 mg mean weight, at a density of 3 fish/m2 in ponds 1 and 2 and 1.3 fish/m2 in pond 3. After 180 days, the experiment ended on March 19th, 2002. Feed, with 28% crude protein and 2800 kcal/kg, was offered twice daily in the total quantity of 5% of liveweight of the lot, being readjusted every 30 days. Monthly sampling was done using 35% of each lot. At the end of the culture period mean weights per individual were 250.6, 272.3, and 296.3 g; total biomass figures were 2380.2, 3040.5 and 1402.0 kg; survival rates were 33.33, 37.22, and 36.40%; and apparent feed conversions were 1.77, 2.07, and 1.38 for treatments (ponds) I, II, and III, respectively. These results demonstrate the biological feasibility of intensive culture of tilapia niloticus during the Summer season in the region in question.

Key words: Fattening, Oreochromis niloticus, seasonality, tilápia nilótica.

RESUMO.

Este estudo tem por objetivo verificar, através da análise do crescimento (peso e comprimento), sobrevivência, conversão alimentar aparente e biomassa total, a viabilidade zootécnica de cultivos de tilápias nilóticas (Oreochomis niloticus) na região meio-oeste catarinense no período de verão. O experimento foi conduzido na Unidade de Piscicultura da EPAGRI, em três viveiros escavados com 180 metros quadrados cada um. Iniciou em 17 de setembro de 2001 quando todos foram povoados com alevinos com comprimento médio de 7.0 cm e peso médio de 7.3 g na densidade de 3 peixes por metro quadrado no viveiro 1 e 2 e no viveiro 3 com 1.3 peixes por metro quadrado. O experimento terminou em 19 de março de 2002, perfazendo 180 dias. A ração utilizada para os peixes continha 28% proteína bruta e 2800 kcal/kg de ração e foi oferecido em duas vezes na quantidade de 5% do peso vivo do lote por dia, sendo reajustada a cada 30 dias conforme seu crescimento em peso. Amostras de 35% do lote total, de cada viveiro, foram medidos e pesados mensalmente. Ao termino do cultivo, os pesos médios foram 250.6; 272.3 e 296.3 g , a biomassa total de 2.510,5; 3040.5 e 1402.0 kg, a sobrevivência de 33.33; 37.22 e 36.40% e a conversão alimentar aparente de 1.77; 2.07 e 1.38 respectivamente dos tratamentos I, II e III. Os resultados mostram a viabilidade zootécnica da instalação de cultivos intensivos de tilápias nilóticas no período de verão na região meio-oeste de Santa Catarina.

Palavras chave: Engorda, Oreochromis niloticus, sazonalidade, tilápia nilótica

Introdução

A piscicultura no meio-oeste de Santa Catarina (Brasil) encontra-se em ritmo de crescimento acelerado, bastando para tanto visualizar os números crescentes divulgados (IDEPA, 2001). Esta atividade apresenta um grande atrativo para produtores rurais por se tornar uma atividade complementar em suas propriedades agregando valores aos outros produtos produzidos. Algumas barreiras, porém, ainda impedem um crescimento mais efetivo da aquicultura, tais como crédito insuficiente, alto custo da matéria-prima para fabricação de rações, dificuldades na realização de pesquisas e extensão aquícola, e complicada adequação dos produtores as técnicas de cultivo de peixes, mais minuciosas e intensivas quando comparadas às de outros animais. Em virtude desta premissa, procurou-se novas alternativas de criações de peixes, pois a região é reconhecida por ser um dos pólos de produção de ciprinídeos.

Além da superpopulação encontrada em viveiros pela precocidade e proliferocidade das tilápias de um modo geral, ocasionando uma supressão do crescimento acarretado pela competição alimentar, tem-se a temperatura como fator de impedimento à criação de tilápias em certas regiões. Através de trabalhos e pesquisas realizados, verificou-se que a tilápia nilótica (Oreochromis niloticus), peixe tropical, apresenta uma variação sazonal de crescimento (peso e comprimento), tendendo a uma diminuição e até uma parada no crescimento durante o inverno com baixas temperaturas, ou seja, menores que 18oC (Kubitza, 2000).

Dada a importância desta espécie para viabilizar o cultivo intensivo da piscicultura na região, este trabalho se propõem a analisar sob o ponto zootécnico a terminação de tilápias nilóticas oriundas de recria de inverno do litoral de Santa Catarina em condições de verão no meio oeste catarinense.

Material e Métodos

O experimento foi conduzido na Unidade de Piscicultura da EPAGRI, em três viveiros de terra escavados com 180 metros quadrados cada um. Iniciou em 17 de setembro de 2001 quando todos foram povoados com alevinos de tilápia nilótica (Oreochromis niloticus) com comprimento médio de 7.0 cm e peso médio de 7.3 g na densidade de 3 peixes por metro quadrado no viveiro 1 e 2 e no viveiro 3 com 1.3 peixes por metro quadrado. O experimento terminou em 19 de março de 2002, perfazendo 180 dias. O alimento utilizado para os peixes continha 28% proteína bruta e 2800 kcal/kg de ração, encontrado no comércio local de marca Nicoluzzi e foi oferecido em duas vezes na quantidade de 5 % do peso vivo do lote por dia, sendo reajustada a cada 30 dias conforme o crescimento em peso.

As avaliações de temperatura da água foram feitas diariamente, com termômetro eletrônico - THIES CLIMA, sempre às 9.00 horas e 15.00 horas. Nesse momento, os peixes recebiam a ração. Também verificou-se a temperatura ambiente, umidade relativa do ar, com um aparelho de corda da marca Wilh-Lambrech Gmbh Gottingen e a precipitação com pluviômetro.

Semanalmente, as condições da água foram verificadas por meio da análise da amostra coletada em um dos viveiros, para as variáveis pH, oxigênio dissolvido, gás carbônico, dureza, alcalinidade, amônia, nitrito, transparência, turbides, cor, fósforo total, orto-fosfato e mensalmente para determinação biológica de coliformes fecais e totais através do colilert 24.00 horas pelo Laboratório de Qualidade de Água/EPAGRI de Caçador, SC.

A cada 30 dias, até o final do experimento (180 dias), 35% dos peixes estocados foram medidos e pesados individualmente com ictiômetro e balança de precisão de 0,01g, ambos da marca MARTE, tendo sido feitas as seguintes análises quantitativas: conversão alimentar aparente, taxa de sobrevivência, comprimento e peso. Antes da realização das biometrias, os peixes eram sedados em solução tranqüilizante contendo 0,5 mL de quinaldina e 15 litros de água.

Resultados e Discussão

A temperatura da água durante o período experimental as 9.00 e 15.00 horas (Quadro 1) manteve-se respectivamente entre 18.3°, 25.6°C e 20.0°, 26.2 ficando a média do período em 22.0° e 23.7oC. As temperaturas foram inferiores a que (Kubitza, 2000) afirma: «tilápias são peixes tropicais que apresentam conforto térmico entre 27 a 32°C,fato que aparentemente não trouxe prejuízo ao crescimento dos alevinos, conforme demonstra a quadro 2 grande adaptabilidade deste peixe.

A temperatura média do ambiente durante o experimento comportou-se como normal para a época, de um mínimo de 22.1°C em outubro a um máximo de 28.3°C em janeiro e ficando a média do período de 25.7°C (Quadro 1). Diferente do inverno onde a temperatura da região do meio-oeste catarinense se caracteriza por apresentar um inverno com temperaturas médias das águas abaixo de 18°C no período de maio a setembro (Graeff et al., 2001), portanto constituindo-se um fator limitante para a propagação e terminação de tilápias neste época do ano. Também Caetano - Filho e Riveiro (1995) identificaram os meses de julho e agosto como sendo o período de menor incremento em peso e comprimento para as tilápias. Já Coda et al. (1996) em cultivo no período de outubro a abril mostram que o fator de condição ambiental não foi significativo mesmo em densidades diferentes ou seja 3 e 5 tilápias por metro quadrado. Mesmo com peixes aclimatados a baixa temperatura, Molnar e Tölg (1962) observaram alteração sazonal no trânsito alimentar, caracterizada por inibição no inverno e aumento no verão. Por outro lado Mainardes Pinto et al. (1989) com cultivo de tilápia nilótica (Oreochromis niloticus) em dois períodos diferenciados demonstra que há uma desaceleração do crescimento mais acentuada no povoamento de peixes no momento de declínio de temperatura no qual o efeito da influência direta da temperatura no metabolismo afeta mais drasticamente os peixes em fase inicial de desenvolvimento.

Apesar da existência destas barreiras, a região vem apresentando um significativo incremento na piscicultura, principalmente no que se refere à produção de carpas (Cyprinus carpio L.), jundiás (Rhamdia quelen) e mesmo tilápias (Oreochromis niloticus). A umidade relativa do ar (URA) foi registrada como normal para esta época do ano com 61.6 %. Embora a URA estivesse normal a precipitação média com 14.5 mm de chuva esteve bem abaixo da média regional que é de 157.4 mm caracterizando-se este verão como um período seco.

Os valores do pH da água (Quadro1), variaram entre 6.9 a 7.5, segundo Reide Wood (1976) e Huet (1978), estes valores são considerados normais para criações de peixes.

Quadro 1. Parâmetros limnológicos observados durante o período experimental 
Parâmetros Out Nov Dez Jan Fev Mar Média
pH 6.9 7.1 7.1 7.4 7.5 7.0 7.2
O2D (mg/L) 5.6 4.3 5.5 5.5 4.8 4.9 5.1
CO2 (mg/L) 5.8 3.5 4.2 1.9  2.3 7.5 4.2
Dureza (mg/L) 12.8 19.0 18.0 19.0 19.0 16.6 17.4
Alcalinidade (mg/L) 24.4 24.5 28.0 25.5 28.0 24.6 25.8
Amônia (mg/L) 1.1 0.5 0.1 0.4 0.1 0.0 0.4
Nitrito (mg/L) 2.3 2.4 - - 1.7 1.0 1.2
Fósforo total (mg/L) - - - - 0.1 0.1 0.1
Orto-fosfato (mg/L) - - - - 0.4 0.4 0.4
Transparência (cm) 27.0 28.7 32.2 32.5 27.5 27.0 29.1
Turbides 40.1 33.5 29.2 50.5 58.2 59.6 45.1
Temperatura ambiente oC 22.1 24.4 26.2 28.3 27.8 25.6 25.7
Temperatura da água as 09.00 hs oC 18.3 20.0 22.4 23.8 25.6 22.1 22.0
Temperatura da água as 15.00 hs oC 20.0 22.6 23.0 25.6 26.2 25.0 23.7
Umidade relativa (%) 66.8 49.7 57.0 48.5 75.5 72.6 61.6
Precipitação (mm) 59.5 - - 15.6 - 10.3 14.2

Os teores do oxigênio dissolvido (Quadro 1) permaneceram entre um mínimo de 4.3 e um máximo de 5.6mg/L que, segundo (Arrignon, 1979) encontram-se dentro de uma faixa considerada normal para criação de tilápias, embora Papoutsouglou e Tzira (1996) afirmem que o aumento na concentração de oxigênio na água melhora o crescimento e a conversão alimentar das tilápias. Também o gás carbônico manteve-se sempre em níveis considerados satisfatórios, de 1.9 e 7.5mg/L de CO2 livre.

A dureza (Quadro 1), manteve-se sempre entre 12.8 a 19.0 mg/L de CaCO3 e abaixo dos parâmetros aceitáveis. A alcalinidade tambén manteve-se sempre entre 24.4 a 280 mg/L CaCO3, próximo do mínimo recomendado (Boyd, 1976) que é de 30 a 300 mg/L. Apesar disto, não foram ocasionadas oscilações no pH e nem alterações comportamentais nos peixes.

A amônia (Quadro 1) permaneceu acima do tolerável (0.24mg/L) em boa parte do tempo do experimento, oscilando entre 0.0 e 0.5mg/L, apesar de no início do experimento tivesse apresentado parâmetros bem acima do permitido. Autores como Lin et al. (1997) em trabalhos com tilápias, verificaram a tolerância desta bem acima deste nível.

O nitrito (Quadro 1) oscilou entre 1.0 a 2.4 mg/L. Estes valores estão distantes das concentrações referenciadas por Palacheck e Tomasso (1984) em trabalho de concentração letal de nitrito para tilápias.

O fósforo (Quadro 1) manteve-se em 0.1 mg/L e o orto-fosfato em 0.4 mg/L, sendo classificado como ambiente eutrófico ou seja, rico em nutrientes, tendo boa capacidade de multiplicação da biomassa natural (Tavares, 1995). O que Esteves (1988) classifica como oligomesotrófico

A transparência (Quadro 1) permaneceu, durante todo o período experimental, entre 27.0 e 37.5 cm de altura, conferido pelo disco de Secchi, indicando boa densidade de plâncton (Tavares, 1995; Boyd, 1988). A turbidez, que está diretamente correlacionada à transparência, permaneceu entre 29.2 e 59.6; onde houve a influência da presença de argilas colóidais, substâncias em solução e principalmente do plâncton em suspenção (Boyd, 1996).

Considerando-se o período total dos cultivos e as condições em que foram desenvolvidos, os valores dos incrementos médios foram de 2.02; 2.21 e 2.41 g/dia para os tratamentos I, II e III respectivamente (Quadro 2). Estes valores estes superiores aos observados por Lovshin (1977), que obteve incremento médio de 1.3 g/dia para machos de tilápias à razão de 1 peixe/m2 por Bezerra e Silva et al. (1984) que obtiveram 1.0 g/dia para híbridos de tilápia em sistema de policultivo com carpas comum (Cyprinus carpio L.) na densidade de 1.2 peixes/m2. Em ambos os casos as densidades assemelhavam-se ao do presente trabalho, pois as sobrevivências dos tratamentos I, II e III foram 33,3; 37.2 e 36,4 % terminando os mesmos com densidades de 1.00; 1.11 e 0,46 peixes/m2. O tratamento III, ficou descaracterizado pois o mesmo terminou com 0.46 peixes/m2 considerado uma densidade muito baixa para criação econômica de tilápias.

Melo et al. (1985) obtiveram um alto incremento diário em peso (3.5 g/dia), quando trabalharam com híbridos de tilápias, na densidade de 1.0 peixe/m2, consorciados com suínos. É válido ressaltar que tais experimentos foram realizados no nordeste do Brasil, onde a temperatura da água mantém-se acima de 27 °C durante, praticamente, o ano todo. Também Mainardes Pinto et al. (1989) que obtiveram 1.9 e 2.0 g/dia para criações de tilápias com densidades de 2.0 peixes/m2 demonstraram a capacidade zootécnica desta espécie para altas densidades. Semelhantes resultados foram obtido neste trabalho que iniciou com densidade de 3.0 peixes/m2 nos experimentos 1 e 2 e densidade de 1.3 peixes/m2 no experimento 3 e terminaram com densidade de 1,00 e 1,11 peixes/m2 nos experimentos 1 e 2 e 0.46 peixes/m2 com ganho de peso ao dia de 2.02; 2.21 e 2.41 g confirmando a forte participação da densidade no peso final dos peixes.

Quadro 2. Comprimento e peso médio das tilápias nilóticas (Oreochromis niloticus) em cada avaliação 
  Comprimento (cm) Peso (g)
Data T I T II T III T I T II T III
17/09 7.0 7.0 7.0  7.3 7.3 7.3
17/10 10.9 11.5 12.1 22.8 24.3 26.0
19/11 12.9 14.7 14.6 39.4 42.9 45.7
18/12 15.5 14.7 14.6 61.9 51.9 65.3
21/01 18.9 18.3 19.1 102.3 88.2 125.3
18/02 21.0 19.9 20.5 158.0 144.0 180.0
19/03 23.6 23.7 24.9 250.6 272.3 296.3
Ganho g/dia       2.02 2.21 2.41

Analisando a Quadro 2 no item incremento do comprimento nota-se que não ocorre uma diferença marcante entre os tratamentos I, II e III até o final, dando a certeza que a espécie não é longílínea e sim mais compacta, semelhante às carpas comuns. Quanto ao incremento do peso, até os 60 dias de cultivo, não há diferença significativa mas a partir deste ponto observa-se que a densidade começa a ser fator preponderante pois o tratamento III com densidade menor acelera a biomassa em todas avaliações até o final (250.6; 272.3 e 296.3 g).

No Quadro 3 verifica-se que as densidades iniciais dos tratamentos I, II eram 3, e no III era 1.3 peixes/m2, com o término do experimento e despesca de 100% dos peixes verificou-se que a sobrevivência final foi de 33.33; 37.22 e 36.40% ou seja 1; 1.11 e 0.46 peixes/m2 respectivamente (Quadro 4). Este resultado demonstra que as tilápias sofreram com o deslocamento e temperatura do litoral (400 km e 22.3°C em setembro). Com temperatura da água abaixo de 18°C (condição comum no inverno no sudeste e sul do Brasil), o sistema imunológico das tilápias é debilitado, assim, o manuseio e transporte destes peixes nos meses de inverno e inicio de primavera (mesmo se as temperaturas já ultrapassaram a casa dos 22°C), invariavelmente resultam em grande mortalidade devido a infeções bacterianas e fúngicas (Kubitza, 2000).

Os valores do coeficiente aparente de conversão alimentar (Quadro 4) variaram em função da densidade ou seja densidade menor conversão menor. Autores como Henao e Bolaños (1982) e Bezerra e Silva et al. (1984) justificam que o maior índice de conversão alimentar está ligado ao aumento da densidade dos peixes e à procura dos mesmos pelos alimentos naturais. O resultado considera o cultivo dentro do parâmetro considerado econômico e reflete um bom aproveitamento do alimento ministrado, como também a sua qualidade, pois como salienta Hepher (1978), que, "quando o alimento não supre as exigências nutricionais dos peixes, tal coeficiente aumenta rapidamente, tornando o cultivo economicamente inviável". Os resultados obtidos (1.77; 2.07 e 1.38 respectivamente nos tratamentos I, II e III) apresentam-se sensivelmente favoráveis ao cultivo de tilápias na região meio-oeste de Santa Catarina quando comparados aos de Lovshin et al. (1974) e Mainardes Pinto et al. (1989), desenvolvidos na região nordeste e sudeste com temperaturas bem mais favoráveis.

Com taxas de sobrevivência muito baixas nos tratamentos I, II e III (33.33; 37.22 e 36.40 % ), ou seja 1; 1.11 e 0.46 peixes/m2 respectivamente (Quadro 4), a biomassa total calculada no final dos 180 dias alcançou 2505.5; 3040.5 e 1402.0 quilos por hectare, não sendo muito diferente de outros trabalhos em condições semelhantes. Hayashi et al. (1999) em trabalhos com tilápias alimentadas com ingredientes moídos em diferentes graus também obteve pesos e por conseqüência biomassa semelhantes a este trabalho.

Quadro 3. Densidade inicial , numero de peixes inicial e final e sobrevivência final 
Tratamento Densidade (peixe/m2) Número de peixes Sobrevivência (%)
  Inicial Final Inicio Final  
I 3.00 1.00 540 180 33.33
II 3.00 1.11 540 201 37.22
III 1.30 0.46 228 83 36.40

Quadro 4. Densidade final dos tratamentos, peso médio inicial e final, biomassa total produzida e conversão alimentar 
Tratamento Densidade Peso médio (g) Biomassa total (kg) Conversão alimentar
    Inicial Final    
1 1.00 7.3 250.6 2505.5 1.77
2 1.11 7.3 272.3 3040.5 2.07
3 0.46 7.3 296.3 1402.0 1.38

Conclusões

É recomendável que ao se manejarem tilápias nilóticas em regiões com temperaturas semelhantes, sejam feitas a partir de outubro ou que a temperatura das águas de origem e destino estejam acima de 22°C, evitando com isto mortalidades crescentes. Apesar desta constatação experimental os resultados da presente pesquisa demonstraram a viabilidade do cultivo de tilápias nilóticas no período da primavera até outono (outubro a abril) com bom crescimento e ganho de peso.

Literatura Citada

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