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Archivos Latinoamericanos de Produccion Animal
Asociacion Latinoamericana de Produccion Animal
ISSN: 1022-1301 EISSN: 2075-8359
Vol. 13, Num. 3, 2005, pp. 97-102
Archivos Latinoamericanos de Produccion Animal, Vol. 13, No. 3, 2005, pp. 97-102

Comportamento de touros jovens em confinamento alojados isoladamente ou em grupo

Behavior of young bulls in confinement housed separately or in group

J. de Araujo Marques1, D. Maggioni2, J.J. dos Santos Abrahao3, E. Guilherme2, G. Arruda Bezerra2, S.M. Bernardo Lugao3

Faculdade Estadual de Campo Mourão. R. Pernambuco, 1915, Centro. Paranavaí PR. Brasil
1IAPAR/EMATER-PR e Integrado Colégio e Faculdade de Campo Mourão. R. Pernambuco, 1915, Centro. CEP: 87.705-000. Paranavaí PR. E-mail: jmarques@iapar.br
2R. Santa Cruz, 1456, apto 201, CEP: 87.303.210. Campo Mourão PR.
3IAPAR de Paranavaí. Fazenda Experimental. Iapar, S/N. CEP: 87.700-000. Paranavaí PR.  

Recibido Septiembre 6, 2004. Aceptado Febrero 1, 2005.

Code Number: la05014

ABSTRACT.

The objective of this study was to evaluate the behavior of young bulls (between September and October of 2003) and to associate this with their performance. Fifty crossbred animals were divided among three treatments: T1, with a pair of animals in each of 10 pens; T2, with 10 animals in individual stalls; and T3, with 20 animals in a collective pen. An adaptation period was followed by 5 d of observations, with annotations every 15 min between 6:00 and 20:00 h. The observed activities were ingestion, rumination and leisure. Dry and wet bulb temperatures, black glove temperature in shade and in the sun, and relative humidity were recorded at 10:00 and 15: h. Conditions of thermal comfort were also evaluated through the temperature and humidity index (THI). The mean THI value of 78.0 indicated thermal discomfort of the animals. Time dedicated to ingestion by T1 animals (113.5 min) surpassed that of the other treatments (T2, 88.6 min and T3, 102.1 min). Ruminations time was similar for animals of T1 (121.3 min) and T2 (116.2 min), but greater than that of T3 (100.8 min). Leisure time of T1 animals (185.1 min) was less than those of T2 (215.1 min) and T3 (217.0 min). Animals of all the treatments preferred to ruminate while lying. Time spent lying was greater in individually housed animals (T2) and in those of the collective pen (T3). However, there were no significant differences among the treatments in weight gain of the animals.

Key words: Ingestion, housing, Rumination, Young Bulls

RESUMO.

O objetivo do presente trabalho foi avaliar o comportamento de touros jovens mestiços em confinamento, associando este ao desempenho. As avaliações de comportamento de 50 amimalis mestiços forma feitas entre setembro e outubro de 2003. Os animais foram divididos entre três tratamentos: T1 com 20 animais alojados em dupla por baias, T2 com 10 animais alojados individualmente por baias e o último grupo T3 com 20 animais alojados em baia coletiva. Após o período de adaptação, realizou-se cinco dias de observações, com anotações a cada 15 minutos entre as 6:00 e 20:00 horas. As variáveis observadas foram as atividades de ingestão de alimento, ruminação e ócio. A temperatura de bulbo seco e bulbo úmido, umidade relativa do ar, temperatura de globo negro à sombra e ao sol foram anotados as 10:00 e 15:00 h, também foram avaliadas as condições de conforto térmico, através do índice de temperatura e umidade (THI). O resultado do THI (78,0) mostrou que os animais estavam em condições de desconforto térmico. O tempo de ingestão dos animais do tratamento em dupla (113,5 min.) foi superior aos demais tratamentos (88,6 min. individual e 102,1 min. coletivo). Com relação ao tempo de ruminação, este foi semelhante entre os animais dos tratamentos em duplas (121,3 min.) e individuais (116,2 min.), mas superior aos do tratamento coletivo (100,8 min.) Ócio, o tempo dos animais em dupla (185,1 min.) foi inferior aos demais tratamentos (215,1 min. individual e 217,0 min. coletivo). Os animais de todos os tratamentos preferiram ruminar deitado, sendo o tempo dessa atividade superior para os animais alojados em baias individuais e coletivas. Todavia, não houve diferença no ganho em peso.

Palavras chave: Alojamento, Ingestão, Ruminação, Touros Jovens

Introdução

A etologia estuda o comportamento e manifestações vitais dos animais em seu ambiente de criação ou em ambientes modificados pelo homem. O conhecimento do comportamento dos animais é essencial para a obtenção de condições ótimas de criação e alimentação, podendo, desta forma, obter-se o máximo de eficiência da produção (Swenson, 1988).

Para a manutenção da vida, o objetivo primário de todos os animais é de se alimentarem. Os ruminantes, de um modo geral, respondem de forma diferente às diferentes dietas ou alimentos. Assim, o conhecimento de alimentação e nutrição destes, bem como, o conhecimento de seu comportamento ingestivo é fundamental para o sucesso da criação. O comportamento ingestivo varia conforme a consistência física da ração, pois pastagens são apreendidas com a língua e cortadas com os dentes incisivos inferiores, já os concentrados são apreendidos com a língua e sugados com a boca, já que suas partículas são pequenas, não havendo a necessidade de secções, embora ocorram movimentos mastigatórios (Albright, 1993).

Os animais ruminantes, ao ingerirem, mastigam o alimento superficialmente, sendo este transportado até o rúmen e retículo e, após algum tempo, este alimento retorna a boca para a ruminação que é uma atividade que permite a redução do tamanho das partículas dos alimentos, favorecendo, desta forma, a degradação e digestão destes, melhorando absorção dos nutrientes. O tempo total de ruminação pode variar de quatro até nove horas, sendo dividido em períodos de poucos minutos a mais de uma hora. A atividade de ruminação pode ocorrer com o animal em pé ou deitado, sendo que esta última posição demonstra uma condição de conforto e bem estar animal. O tempo em que o animal não está ingerindo alimento, água e ruminando é considerado ócio. Este tempo pode variar com as estações do ano, sendo maior durante os meses mais quentes (Marques, 2000).

O clima é um dos fatores mais importante a ser considerado na produção animal. As alterações climáticas mudam o comportamento fisiológico dos animais, ocasionando um declínio na produção, principalmente, no período de menor disponibilidade de alimentos. A alta temperatura, associadas à umidade relativa do ar elevada, afeta a temperatura retal e a freqüência respiratória, podendo causar estresse (Baêta e Souza, 1997). Estes parâmetros climáticos são os que exercem maiores efeitos sobre o desempenho dos rebanhos em clima quente. As condições ambientais que preenchem as exigências da maior parte dos animais são: temperatura entre 13 e 18ºC e umidade relativa do ar entre 60 e 70 %, segundo Silva (2000).

Todavia, temperatura elevada, acima da zona de conforto, reduz o consumo de alimento, principalmente para aqueles com altos teores de fibra, cabendo aos animais ajustarem sua fisiologia e comportamento para mostrar respostas adequadas às diversas características e condições do ambiente adverso em que está sendo criado.

Desta forma, quando se busca intensificação dos sistemas de produção, em função das necessidades de mercado, ocorrem alterações no ambiente de criação. O transporte ou mudança dos animais dos seus ambientes de criação para ambientes restritos, como confinamentos, levam os animais a alterar seus hábitos, pois começam a competir por alimento, liderança e até, muitas vezes, por espaço.

Este trabalho teve como objetivo avaliar o comportamento ingestivo, ruminação e ócios dos touros jovens confinados isoladamente ou em grupos, associando este ao desempenho.

Material e Métodos

O presente trabalho foi realizado na Estação Experimental do Instituto Agronômico do Paraná - IAPAR - Paranavaí, localizada no Noroeste do estado do Paraná. A avaliação do desempenho foi de 05 de junho a 23 de outubro de 2003, perfazendo um total de 140 dias. No entanto, as avaliações do comportamento foram conduzidas no período de 23 de setembro de 2003 a 18 de outubro de 2003. Foram utilizados 50 animais cruzados com idade média de 20 meses e peso vivo médio inicial de 329 kg.

Os grupos genéticos utilizados no experimento são os seguintes: ¾ Red Angus + ¼ Nelore; ¾ Red Angus + ¼ Guzerá; ½ Marchigiana + ¼ Simental + ¼ Nelore; ¾ Marchigiana + ¼ Nelore; ¼ Limousin + ¾ Nelore; ¾ Nelore + ¼ Red Angus; ½ Limousin + ¼ Red Angus + ¼ Nelore; ½ Limousin + ¼ Simental + ¼ Nelore.

Os animais foram sorteados entre os tratamentos considerando o grau de sangue (½ ou ¾ de sangue europeu) divididos em três tratamentos sendo o primeiro tratamento (T1) composto por 20 animais alojados dois por baia num total de dez baias, com área por animal de 16 m2; o segundo (T2) com dez animais alojados individualmente em baia num total de dez baias, sendo a área por animal de 32 m2. As baias destes tratamentos apresentavam área de 32 m2 sendo 12 m2 coberta com cocho de 3 m de comprimento, localizado na parte coberta, e cocho de água na área descoberta. O terceiro tratamento (T3) com 20 animais em ambiente coletivo ocupou uma área de 3600 m² sendo 180 m²/animal com cocho de alimentação coberto e cocho de água na área descoberta.

Os animais ao entrarem em confinamento foram vermifugados, banhados contra ectoparasitos e identificados. O período de adaptação foi de 28/05 à 05/06/2003 totalizando nove dias de adaptação. A alimentação foi à base de silagem de sorgo (AG 2002®) como volumoso (ad libitun) e o concentrado contendo milho (83,20%), farelo de soja (13,80%), uréia (1,20%), calcário (1,40%), fosfato bicálcio (0,30%), premix vitamínico (0,10%) recebendo 1,00% MS do peso vivo de concentrado. A composição média dos alimentos utilizados na formulação da dieta é apresentada no Quadro 1.

A alimentação foi fornecida diariamente pela manhã ás 9:00 horas oferecendo-se metade do concentrado estipulado, mais a silagem de sorgo misturada ao concentrado de forma a reduzir a seletividade pelos animais e a outra metade juntamente com a silagem foi fornecida as 15:00 horas. A silagem e os concentrados oferecidos diariamente foram pesados e anotados, sendo a oferta da silagem controlada de forma que as sobras não excedessem 5,00% do total oferecido, sendo estas pesadas, anotadas e descartadas, diariamente. A cada período de 28 dias eram coletadas amostras de silagem para determinar a matéria seca.

Os animais tinham a disposição mistura mineral fornecida à vontade, composto por cloreto de sódio e microelementos com a seguinte composição por kg produto: (Zn 5000mg), Cu (2000mg), Co (30mg), Se (67mg), I (155mg) e Na (387g).

Quadro 1. Teores de proteína bruta (PB), fibra bruta (FB), extrato etéreo (EE), matéria mineral (MM), extrativo não nitrogenado (ENN), fibra em detergente neutro (FDN), fibra em detergente ácido (FDA), dos alimentos concentrados e da silagem (% na MS) 
Componentes PB FB EE MM ENN FDN FDA
Milho grão 9,69 2,63 4,60 1,42 81,66 24,50 3,64
Farelo de Soja 49,26 7,16 1,77 5,69 36,12 14,57 10,14
Silagem de Sorgo 5,73 28,69 2,40 3,61 32,39  64,08 37,24

Os animais eram pesados a cada 28 dias, após jejum de sólidos de 16:00 horas antes da pesagem pela manhã. As quantidades de concentrados foram ajustadas após cada pesagem dos animais, de acordo com o peso vivo se ajustava com 1.10 % de concentrado em relação ao peso vivo dos animais, calculando-se as quantidades para cada lote, sendo o volumoso ajustado de acordo com o consumo.

Nos dias determinados para as avaliações de comportamento foram anotados às 10:00 e às 15:00 horas, a Temperatura do Bulbo Seco (TBS), Temperatura do Bulbo Úmido (TBU), e a Umidade Relativa do Ar (UR) através de um Psicrometro não ventilado de Bulbo Seco (BS) e Bulbo Úmido (BU), a temperatura do globo negro ao sol e a sombra, através do uso de um globo de Vernom de 0.15 m de diâmetro. Os dados foram correlacionados para a avaliação pelos índices de conforto térmico. Sendo os índices utilizados nessa analise de dados os seguintes.

Índice da Temperatura do Globo (WBGT), proposto por Bond e Kelly (1955).

WBGT = 0.7 TBU + 0.2 TG + 0.1 TA

Em que:

WBGT - Índice da Temperatura do Globo;
TBU - Temperatura do Bulbo Úmido (oC);
TG - Temperatura do Globo Negro (oC);
TA - Temperatura do Ar (oC).

Índice de Temperatura e Umidade Relativa do Ar (THI), desenvolvido por Thom (1958).

THI = TBS + 0.36 TBU + 41.5

Em que:

THI - Índice de Temperatura e Umidade Relativa do Ar;
TBS - Temperatura do Bulbo Seco (oC);
TBU - Temperatura do Bulbo Úmido (oC).

Após um período de adaptação, realizou-se cinco observações em dias escolhidos ao acaso, de acordo com o manejo da fazenda, sendo nas datas 23/09, 30/09, 02/10, 15/10 e 18/10/2003. As observações do comportamento dos animais foram feitas a cada 15 minutos no período das 6:00 às 20:00 h para determinar a distribuição diária das atividades de alimentação, ruminação e em ócio. No qual foi dividido em dois períodos, o primeiro das 6:00 às 13:00 h e o segundo das 13:15 às 20:00 h.

O delineamento experimental foi inteiramente casualizado com três tratamentos, sendo dois com vinte repetições e um com 10 repetições. Os dados tempo de ingestão de alimento, ruminação e ócio foram submetidos a análise de variância e as médias comparadas pelo teste de Tukey, ao nível de 5 % de significância, utilizando-se o SAEG (1997), conforme modelo descrito abaixo.

Yijk = m + Ti + Pj + TPij + eijk

Em que:

Yijk = observação do animal k submetido ao tratamento i, no período j;
m = constante geral;
Ti = efeito do tratamento i; i = 1;...;3;
Pj = efeito do período j; j = 1;2;
TPij = interação entre tratamento Ti e o período Pj;
eijk = erro aleatório associado a cada observação Y.

Resultados e Discussão

O Quadro 2 apresenta os dados relativos as variáveis ambientais anotadas as 10:00 e as 15:00 h do horário oficial do Brasil. Obtendo-se os valores médios para o período para temperatura ambiente (TA) de 28,80 e 32,40 oC, umidade relativa do ar (UR) de 56,40 e 44,00%, índice de temperatura e umidade (THI) de 75,10 e 81,60 unidades e do Índice de Temperatura do Globo (WBHT) de 21,80 e 25,10 unidades à sombra e 22,70 e 27,10 unidades ao sol, ficando os valores médios gerais em 30,60; 50,20; 78,35 e 24,90, respectivamente.

THI (78,35) demonstra que os animais estavam numa condição de alerta, estando no limite superior deste estágio, segundo a classificação de Rosenberg et al. (1983).

Esta classificação apresenta que THI entre 68,00 e 74,00 pode causar perdas produtivas aos animais, entre 75,00 e 78,00 o produtor deve ficar em alerta, pois pode haver morte de animais, entre 79,00 e 84,00 é sinal de perigo principalmente para rebanhos confinados e se ultrapassar 85,00 é sinal de morte se não forem tomadas providencias urgente. Apesar desse índice ter sido desenvolvido para bovinos nas condições norte-americanas, Hahn (1999), tomando por base esta classificação, cita que THI abaixo de 75,00 pode não causar danos a produção de animais confinados, desde que as temperaturas noturnas não excedam 23,00oC.

Quadro 2. Valores médios das variáveis ambientais observados durante o experimento. Umidade Relativa do Ar (UR), Temperatura do Ar (TA), Índice de Temperatura e Umidade (THI) e Índice de Temperatura de globo (WBHT). 
  Manhã Tarde Média Geral
TA ºC 28,80 32,40 30,60
UR % 56,40 44,00 50,20
THI 75,10 81,60 78,35
WBHT à sombra  21,80 25,10 23,45
WBHT ao sol  22,70 27,10 24,90

No presente trabalho, apesar do THI estar acima de 75,00; as temperaturas médias noturnas ficaram em 16,00 oC e 18,10oC, respectivamente, para os meses de setembro e outubro. No entanto, o THI de 78,35 pode ter afetado o desempenho global dos animais, independente de tratamento. Corroborando com as informações de Silva et al. (2002), que afirmaram ser este índice um parâmetro importante, pois THI acima de 72,00 resultou em declínio da produção de leiteira em vacas Holandesas de alta produção.

Com relação ao comportamento dos animais, não houve interação entre tratamentos e períodos, assim as avaliações e discussões dos dados foram feitas entre os tratamentos.

No Quadro 3, estão os dados médios dos cinco dias de observação das características de comportamento: tempo ingestivo (ALIM), de rumiação (RUM) e do ocio (OCI); porcentagem do tempo de rumiação deitado (RUDE) e porcentagem do tempo de ocio deitado (OCID) dos animais alojados individualmente, em dupla e em baias coletivas, cujos valores médios independente do tratamento foram 101.40, 112.80, 205.70, 83.20% e 38.70%, respectivamente.

O comportamento ingestivo de ruminantes mantidos em pastagens caracteriza-se por longos períodos de alimentação, de quatro a doze horas por dia, concentrando-se nos finais de tardes e inícios de manhã. Entretanto, para animais confinados, os períodos variam de uma hora, para alimentos ricos em energia, a seis, ou mais horas, para fontes de baixo teor de energia (Van Soest, 1994).

No Quadro 3, pode-se verificar que o tempo de ingestão (ALIM) foi maior no tratamento em dupla (113,50 minutos), possivelmente isso ocorreu em função da competição pelo alimento entre os dois animais; ficando os animais alojados coletivamente (102,10 min) em posição intermediária e os alojados individualmente (88,60 min), provavelmente, devido a inexistência de competição pelo alimento e espaço no cocho, este tratamento apresentou um menor ALIM.

Todavia, o valor médio de ALIM (101,40 min) do presente trabalho foi inferior ao encontrado por Rabello et al. (2002), trabalhando com novilhas Nelore, em baias individuais alimentados com dietas a base de bagaço de cana tratado sob pressão e vapor, esses autores obtiveram tempo de ingestão, (176,20 minutos). Da mesma forma foi inferior ao tempo de ingestão obtido por Marques (2004), ao trabalhar com búfalas, em baias coletivas, recebendo silagem de cana-de-açúcar e concentrado, na proporção de 55:45, que obteve tempo de ingestão de 240,00 min./dia. Estes valores superiores da literatura pode ter ocorrido em função da característica físicas do volumoso (cana-de-açúcar), o que proporciona um maior tempo de ingestão, segundo Fraser e Broom (2002).

A ruminação é uma atividade que permite a regurgitação, mastigação e a passagem do alimento previamente ingerido, para o interior do rúmen, nesse período os animais ficam relaxados. Conforme Van Soest (1994), o tempo de ruminação é influenciado pela natureza da dieta e parece ser proporcional ao teor de parede celular dos volumosos ou da dieta.

Comparando os tratamentos, o tempo de ruminação (RUM) dos animais alojados individualmente (116,20 min./dia) e em dupla (121,30 min./dia) foi semelhante, sendo que os animais do coletivo tiveram um tempo menor de ruminação (100,80 min./dia). Todavia, apesar de não ter havido diferença entre os tratamentos individual e em dupla com relação ao RUM, este comportamento não acompanhou o de ALIM, pois os animais alojados em dupla tiveram um ALIM de 28,10 % superior ao individual.

O RUM médio para os três tratamentos foi de 112,80 minutos, sendo inferior ao encontrado por Miranda et al. (1999), trabalhando com novilhas mestiças (½ Holandês x ½ Zebu) submetidas a dietas a base de cana-de-açúcar e uréia, alojadas em baias individuais, obtiveram tempo de ruminação de 580,00 minutos, atribuindo isso ao alto teor de FDN. Da mesma forma, foi inferior aos dados de Rabello et al. (2002) com novilhas Nelore em confinamento, alimentadas com bagaço de cana de açúcar tratado a pressão e vapor. Estes autores obtiveram tempo médio total de 1 593,7 min. para cinco dias (318,7 min./dia). Como também, foi inferior ao RUM obtido por Marques (2004), ao trabalhar com búfalas, em baias coletivas, recebendo silagem de cana-de-açúcar e concentrado, na proporção de 55:45, que obteve tempo de ruminação de 237,51 min./dia.

Quadro 3. Dados médios das características observadas de comportamento ingestivo (ALIM), ruminação (RUM), ócio (OCI), ruminação deitado (RUDE) e ócio deitado (OCID) dos animais alojados individualmente, em dupla e em baias coletivas 
Variables Individual Dupla Coletivo Média C.V.1
ALIM (minutos) 88,60c 113,50a 102,10b 101,40 30,70
RUM (minutos) 116,20a 121,30a 100,80b 112,76 35,40
OCI (minutos) 215,10a 185,10b 217,00a 205,73 22,50
RUDE (%)  80,00 82,40 87,10 83,16 -
OCID (%) 45,60 44,00 26,40 38,66 -

1 Coeficiente de variação 1 Coefficient variation
Números seguidos de letras diferentes, no mesmo item avaliado, diferem significativamente pelo teste de Tukey ao nível de 5%.
Numbers followed by different letters, in the same appraised item, differ significantly for the test of Tukey at the level of 5%.

A atividade RUM pode ocorrer com os animais deitados ou em pé, sendo que na maioria do tempo os animais ficam deitados (Fraser and Broom, 2002). No presente trabalho, os animais passaram a maior percentagem do tempo de ruminação deitados (RUDE), independente do tipo de alojamento, sendo 80,00; 82,40 e 87,10%, respectivamente, para os tratamentos individual, dupla e coletivo. Esta posição, segundo Balbinotti et al. (2003) é a posição em que os animais demonstram estar em condições de bem-estar e também por aumentar a área de superfície para perda de calor por condução.

Segundo Costa et al. (1983), o comportamento de ócio é considerado como sendo o período em que os animais não estão comendo, ruminando ou ingerindo água. No presente trabalho, observa-se que o período que os animais permaneceram em ócio foi maior que o tempo em ruminação e ingestão. Isso ocorreu em função da limitação do fornecimento das dietas a duas refeições e ao ambiente estar fora das condições de conforto térmico. Desta forma, os animais usaram mais a noite, em função da temperatura estar mais amena, para as atividades avaliadas, como foi comprovada por Miranda et al. (1999) que trabalhando com novilhas mestiças ½ Holandês x ½ Zebu, observaram que os animais desenvolveram a maioria das atividades a noite, atribuindo este procedimento as variáveis climáticas. Contrariando as informações de Ortêncio Filho et al. (2001) que constataram que os animais durante o período noturno passavam a maior parte do tempo em ócio ou em ruminação.

Quando se avalia o OCI entre os tratamentos, observa-se que os tempos foram semelhantes para os animais alojados individualmente (215,10 min./dia) e em baia coletiva (217,00 min./dia) e estes foram superiores aos alojados em dupla (185,10 min./dia). Possivelmente, isso ocorreu em função do maior espaço físico por animal nestes dois tipos de alojamentos. Já que os animais alojados individualmente ficavam grande parte do OCI observando os animais das outras baias, por cima da cerca de alvenaria. Ao passo que, os animais do coletivo ocupavam o seu tempo em movimentos pela baia e em contado com os companheiros de alojamento.

Todavia, quando se observa a forma de utilização do tempo em OCI, constata-se que os animais alojados individualmente e em dupla o fizeram, aproximadamente, a metade do tempo deitado, 45,60% e 44,00%, respectivamente, e os alojados na baia coletiva ocuparam apenas 26,40% do tempo deitado (OCID). Este comportamento dos animais alojados em grupo foi diferente por estes utilizarem o tempo em OCI em atividades exploratórias ou disputando a liderança do grupo, fato este comprovado por Prince et al. (2003), ficando, assim, pouco tempo em OCID.

Na Figura 1 encontram-se os valores de percentagem de tempo de ALIM, RUM e OCI dos animais distribuídos nos dois períodos. Sendo: ALIM/M percentagem do tempo de alimentação pela manhã, ALIM/T percentagem do tempo de alimentação à tarde; RUM/M percentagem do tempo de ruminação pela manhã, RUM/T percentagem do tempo de ruminação à tarde; OCI/M percentagem do tempo de ócio pela manhã e OCI/T percentagem do tempo de ócio à tarde.

Como se observa na Figura 1, a percentagem de tempo com a atividade de alimentação foi semelhante entre os tratamentos individual e dupla, no entanto os animais do coletivo tiveram uma percentagem de tempo de alimentação superior no período da tarde em relação ao da manhã, o que também se verificou quando se comparou com os outros tipos de alojamentos no período da tarde.

No que se refere a percentagem do tempo na atividade de ruminação, esta foi semelhante entre os animais dos diferentes tipos de alojamentos no período da manhã. Todavia, no período da tarde, esta percentagem foi semelhante entre os animais alojados individualmente e em dupla e bastante superior aos da baia coletiva. Os animais alojados coletivamente apresentaram uma percentagem de tempo de ruminação inversa a do tempo de alimentação no período da tarde.

Quando se avalia a percentagem do tempo em ócio, os animais do alojamento individual foram superiores aos dos tratamentos duplo e coletivo, no período da manhã. No período da tarde, os animais do alojamento coletivo tiveram uma percentagem de tempo em ócio superior aos do alojamento individual e a percentagem destes, por sua vez, foi superior aos alojados em dupla. Todavia, quando se observa a percentagem de tempo em ócio dentro do mesmo grupo, os animais dos alojamentos individual e em dupla foram superiores no período da manhã. No entanto, os animais da baia coletiva apresentaram comportamento inverso.

O Quadro 4 apresenta os valores de peso vivo inicial (PVI), peso vivo final (PVF) e ganho em peso diário (GMD) dos animais alojados individualmente, em duplas ou coletivo, durante todo o período de confinamento, que se estendeu de 05/06/03 a 23/10/03.

O desempenho dos animais não teve diferença significativa entre tratamentos, os pesos dos tratamentos individuais, em dupla e coletivo foram de 1,25, 1,19 e 1,20 kg, respectivamente, e o ganho médio diário geral dos tratamentos foi de 1,21 kg.

Quadro 4. Peso vivo inicial (PVI), peso vivo final (PVF), o ganho em peso diário (GMD) dos tourinhos em alojamentos individual, dupla e coletivo 
Variável Individual Dupla Coletivo Média C.V.1
PVI (kg) 338,90 317,65 324,35 326,97 11,70
PVF (kg) 513,40 484,36 492,95 496,99 10,02
GMD (kg/dia) 1,25 1,19 1,20 1,21 16,46

1Coeficiente de variação 1

Abrahão (2004) utilizando animais oriundos dos mesmos grupos genéticos, alojando dois animais por baias, com alimentação a base de milho ou resíduo úmido da extração da fécula de mandioca (em níveis de substituição ao milho) teve um GMD de 1,59 kg, sendo superior ao presente trabalho (1,19 kg). Todavia, Perotto (2001), com animais dos mesmos grupos genéticos, com alimentação semelhante e avaliação anual de desempenho no período compreendido entre 1987 e 2001, obteve um desempenho semelhante com um GMD de 1,22 kg de peso vivo. Aguilar et al. (1998), trabalhando com animais mestiços (½ Simental x ½ Nelore), com alimentação semelhante, não obtiveram diferença no ganho de peso com animais alojados individualmente (1,41 kg) e em dupla (1,40 kg), porém estes ganhos foram superiores aos do presente trabalho.

Conclusão

Os animais alojados individualmente apresentaram um menor tempo de ingestão de alimentos, contudo este tempo reduzido não influenciou o ganho em peso, pois apresentaram ganhos semelhantes aos outros tipos de alojamento.

Os animais, independente do tipo de alojamento, apresentaram preferência pela ruminação deitada em relação a em pé. Todavia, esta atividade nos animais alojados em baia coletiva foi 7,10% superior aos animais alojados individualmente e 4,70% aos alojados em dupla.

Os animais da baia coletiva apresentaram um tempo de ócio deitado de 26,40%. Sendo a maior parte do tempo restante ocupado por disputas por liderança, isto sugere a necessidade de formação de lotes homogêneos para tentar-se minimizar estas disputas e conseqüentemente lesões aos animais em confinamentos coletivos.

Literatura Citada

  • Abrahão, J.J.S. 2004. Avaliação do resido úmido de extração de fécula de mandioca em substituição ao milho em dietas de tourinhos em terminação. Maringá. Universidade Estadual de Maringá. 2004. 150 p. Tese (Doutorado em Zootecnia). Universidade Estadual de Maringá.
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