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Archivos Latinoamericanos de Produccion Animal
Asociacion Latinoamericana de Produccion Animal
ISSN: 1022-1301 EISSN: 2075-8359
Vol. 14, Num. 2, 2006, pp. 49-55

Archivos Latinoamericanos de Produccion Animal, Vol. 14, No. 2, 2006, pp. 49-55

Desempenho e indicadores de estresse térmico em bezerras alimentadas com sucedâneo lácteo Com ou sem probiótico no semi-árido Brasileiro

Performance and indicators of thermal stress in heifer calves fed a milk replacer with or without a probiotic in a semi-arid region of Brazil

P. O. Lima1, A. A. Moura, D.A. Façanha, M. M. Guilhermino2

1Bolsista CNPq
2Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Departamento de Agropecuária, Campus Universitário, Natal, RN. Email: mmgb2000@hotmail.com
Universidade Federal do Ceará, Departamento de Zootecnia, Campus do Pici, Fortaleza, CE, Brasil

Recibido Febrero 09, 2005. Aceptado Marzo 01, 2006.

Code Number: la06007

ABSTRACT.

An experiment was conducted to study the effects of feeding a milk replacer with or without addition of an acidifying probiotic until weaning at 6 weeks of age, and of climatic conditions in a semi-arid region during four dry summer months on the performance of female crossbred (Holstein x Guzera) calves from 7 to 60 days of age. In a factorial arrangement of two principal treatment factors in complete protection against solar radiation in individual hutches, versus supplemental tree shade for the hutches, and use or not of the probiotic (four treatments), the effects on liveweight gain, intake of water and of dry matter, heart rate, respiration rate, and rectal temperature were determined. The results showed that provision of supplementary shade was unnecessary since its small effect on the environmental temperature did not improve animal performance; neither did use of the probiotic during the dry season benefit health and performance of the calves, probably because of little animal exposure to infectious agents, unlike what commonly occurs in the rainy season. The climatic conditions recorded of high maximum daily ambient temperature in the morning (34ºC) and afternoon (36.2ºC) but low relative humidity (46 to 67%) did not produce signs of thermal discomfort as indicated by the physiological indicators recorded.

Key word: Crossbreed Calves, Feed Intake, Milk Replacer, Shelters

RESUMO.

Um experimento foi conduzido para estudar os efeitos do uso de substituto do leite, com e sem a adição de probióticos acidificantes, até a desmama com 6 semanas de idade e das condições climáticas na região semi-árida durante 4 meses de verão seco sobre ao desempenho de bezerras mestiças (Holstein x Guzerá) de 7 a 60 dias de idade. Num experimento fatorial com dois tratamentos: abrigos individuais com completa proteção solar e abrigos individuais com sombra suplementar de árvores e o uso ou não de probióticos (4 tratamentos), o efeito no ganho de peso, ingestão de água e de matéria seca, freqüência cardíaca, freqüência respiratória e temperatura retal foram determinados. Os resultados mostraram que a provisão suplementar de sombra foi desnecessária uma vez que seu pequeno efeito sobre a temperatura ambiente não afetou o desempenho animal; nem o uso de probióticos durante a estação seca beneficiou a saúde e o desempenho das bezerras provavelmente devido a pouca exposição dos animais à agentes infecciosos ao contrário do que normalmente ocorria na estação das águas. As condições climáticas observadas, da mais alta temperatura máxima diária de ambiente pela manhã (34ºC) e da tarde (36,2ºC) e a baixa umidade relativa do ar (46 a 67%) não produziu sinais de desconforto térmico como indicado pelos parâmetros fisiológicos observados.

Palavras-chave: Bezerras Mestiças, Consumo de alimentos, Abrigos, Substituto do Leite

Introdução

Em sistemas de produção de bovinos leiteiros, a comercialização do leite apresenta a principal fonte de renda, mas parte do leite é destinada à alimentação dos bezerros. Uma das maneiras de se reduzir o custo do aleitamento em sistema de produção de leite é antecipar a idade ao desaleitamento e reduzir a quantidade de leite fornecida ou pela substituição parcial ou total do leite integral por um substituto de leite (sucedâneo), em geral subprodutos da indústria de laticínios. Os bezerros apresentam limitações com as enzimas presentes no trato intestinal nas primeiras semanas de vida, daí a importância do acidificante (probiótico) junto aos nutrientes adicionados ao sucedâneo visando melhorar a conversão alimentar (Jenkins et al., 1985). Esses acidificantes são compostos por microrganismos que alteram beneficamente o pH, promovendo o estabelecimento da flora ruminal e conseqüentemente reduzindo a ocorrência de distúrbios gastrintestinais (Heirinchs et al., 1995). Os animais alimentados com sucedâneo consomem maior quantidade de matéria seca da dieta sólida em comparação aos alimentados com leite. Isto se deve possivelmente ao menor aporte de matéria seca do sucedâneo, que pode induzir os animais a consumir mais concentrado e volumoso na tentativa de suprirem suas necessidades (Façanha et al., 2000).

Muitas pesquisas relatam que condições ambientais adversas causam prejuízos à produção, especialmente em vacas leiteiras, porém pouco se tem estudado sobre os efeitos do clima sobre o desempenho de animais jovens. Muller (1989) cita temperatura, umidade, vento e radiação solar, como fatores climáticos que podem induzir estresse calórico e afetar o ritmo de crescimento fetal e ao nascer, antes e após a desmama. Os danos causados pelo estresse calórico dependem da intensidade e duração do calor. No primeiro momento o animal utiliza-se de meios como vasodilatação periférica, acamamento dos pêlos, sudorese, taquipnéia, entre outros mecanismos de defesa, para tentar dissipar o calor sem gasto de energia (Baccari Jr., 1998). Entretanto, após ultrapassar uma faixa limite de adaptação, têm início os efeitos negativos do estresse, dos quais Encarnação (1991) cita a inibição do crescimento, redução na resistência orgânica contra infecções e diminuição do consumo de matéria seca. Este trabalho objetivou avaliar o desempenho de bezerras mestiças Holandês x Guzerá aleitadas com um substituto do leite, adicionado de probiótico ou não, bem como a influência dos aspectos climáticos (semi-árido) sobre o consumo de alimentos e desenvolvimento ponderal das mesmas.

Material e Métodos

Local e período

O trabalho foi conduzido no período de novembro/2000 a março/2001, na Fazenda Canhotinho, localizada no município de Quixeramobim, semi-árido do Ceará, situado a uma altitude de 191,74m, latitude e longitude de 5°11'57" sul e 39°17'34" oeste, respectivamente. A temperatura anual média é de 28,5°C, sendo as médias, máxima de 32°C e mínima de 25°C, com precipitação anual média de 707,7 mm. A fazenda possui um rebanho mestiço Holandês x Guzerá de, aproximadamente, 1.200 cabeças (monitorado pelo Projeto Infoleite, com controle zootécnico sistemático), das quais 310 são vacas em lactação produzindo cerca de 4.300 litros por dia (14 litros/animal). As bezerras permanecem com as matrizes apenas 24 horas e após esse período, são criadas em abrigos individuais até os 60 dias de idade, recebendo 4 litros de leite integral divididos em dois fornecimentos diários.

Delineamento experimental

Foram utilizadas 24 bezerras distribuídas em quatro tratamentos com seis repetições. Os tratamentos foram: T1= abrigos locados ao sol e aleitamento com sucedâneo; T2=abrigos locados ao sol e aleitamento com sucedâneo adicionado de probiótico; T3= abrigos com sombra suplementar e aleitamento com sucedâneo; T4= abrigos com sombra suplementar e aleitamento sucedâneo adicionado de probiótico (Quadro 1).

Quadro 1. Composição bromatológica: matéria seca (MS), proteína bruta (PB), fibra em detergente neutro (FDN) e extrato etéreo (EE) dos alimentos utilizados na dieta dos animais durante o período experimental. 

Alimentos Composição
  MS PB  FDN EE
Sucedâneo 91,05 22,47 3,84 7,25
Concentrado 90,15 22,27 25,4 3,02
Feno 95,8 14,69 71,09 2,37

Manejo dos animais

Os abrigos individuais foram distribuídos de forma que 12 deles recebessem sombreamento natural suplementar proveniente de algarobeiras, e outros 12 restantes ficaram permanentemente ao sol. No segundo e terceiro dia, após o nascimento, as bezerras receberam 4 litros de colostro integral no balde, divididos em dois fornecimentos: 7:30 e 15:30 horas. O sucedâneo foi introduzido de maneira gradativa, nas proporções de: 25, 50, 75 e 100% no 4º, 5º, 6º e 7 º dias, respectivamente. A partir do 7º dia receberam apenas o sucedâneo, adicionado ou não de probiótico, conforme os tratamentos. O probiótico (ACID-MOS) foi dissolvido no substituto do leite na quantidade de 3g/litro, desde o nascimento até o desmame, o qual foi realizado aos 42 dias de idade. Os animais tiveram acesso a um concentrado (com 20% de proteína bruta e 75% de nutrientes digestíveis totais) e feno (Cynodon dactylon) até o desmame. A água foi fornecida ad libitum desde o nascimento.

Coleta de dados

O desempenho ponderal das bezerras foi mensurado através de pesagens no horário entre 14 e 15 horas, sempre antes do aleitamento. Tais medições foram iniciadas ao nascer e realizadas semanalmente até o desaleitamento. Para determinação de consumo de matéria seca (MS) e conversão alimentar fizeram-se medições de consumo de feno e concentrado, a cada dois dias, pela manhã e à noite, pelo método da oferta/sobra. A aferição feita pela manhã representou o consumo no intervalo compreendido entre 16h às 08h da manhã do dia seguinte, enquanto que a da tarde representa o intervalo entre 08 e 16 horas do mesmo dia. Estes alimentos foram analisados quanto aos teores de MS, proteína bruta (PB), extrato etéreo (EE) e fibra em detergente neutro (FDN) (Silva, 1999) (Quadro 1). A estimativa do consumo de água foi feita descontando-se a taxa de evaporação em dois baldes padrão graduados (localizados ao sol e à sombra) aos quais os animais não tiveram acesso, nos mesmos dias de medida do consumo de alimentos. O experimento desenvolvido, durante a época de estiagem caracterizada basicamente por ausência de chuvas e temperatura ambiente elevada e pouco variável entre dias, restringindo-se as variações àquelas ocorridas ao longo do dia. Devido a isto, a temperatura ambiente e umidade foram coletadas uma única vez por semana, em dois horários (08:00 e 15:00 horas), sendo os termômetros de máxima e mínima e os termohigrômetros locados ao sol e à sombra. No mesmo dia, os parâmetros fisiológicos relacionados a termoregulação usados foram: temperatura retal (TR), freqüência respiratória (FR) e freqüência cardíaca (FC), medidos semanalmente pela manhã e à tarde (9:00 e 15:00 h). A TR foi medida com o auxílio de um termômetro clínico (escala em °C), durante cerca de 5 minutos e a FR foi expressa em movimentos por minuto (mov./min.), controlados pela observação direta do flanco durante 60 segundos. A FC foi auscultada com o auxílio de estetoscópio, posicionado entre as patas dianteiras durante 30 segundos e expressa em batimentos por minuto (bat./min.).

Análise estatística

Os efeitos dos tratamentos (sol e sombra/dieta) sobre as variáveis dependentes (ganho de peso, consumo de água e MS, FC, FR e TR) foram avaliados através da análise de variância pelos procedimentos disponíveis no SAS, 2000. Modelo estatístico:

Yijk = µ + Ti + Aj + Pk + Eijk

Onde:

Yijk = ganho de peso, consumo de água e MS, FC, FR e TR;

µ = média geral;

Ti = efeito tratamento (probiótico/sombra);

Aj = efeito da fase de aleitamento (pré e pós-desaleitamento);

Pk = efeito do período do dia (manhã e tarde);

Eijk = erro associado a cada observação, assumindo uma distribuição normal dos dados.

Resultados e Discussão

Durante o período experimental a temperatura ambiente, ao sol e à sombra, não apresentaram grandes variações, tanto pela manhã quanto à tarde (Quadro 2). As médias de temperatura máxima e mínima ao sol foram, respectivamente, pela manhã 35,5 e 23,4ºC e à tarde 37,9 e 27,9ºC, e na área de sombra 34,6 e 24,4°C pela manhã, 36,4 e 27,9ºC à tarde. A umidade relativa do ar manteve-se baixa, com médias pela manhã de 61,7% (sol) e 63,9% (sombra) e à tarde, de 40,7% (sol) e 41,7% (sombra), que resultou em ambiente sempre seco, geralmente favorável ao conforto dos animais e higiene do local. As temperaturas mais amenas registradas pela manhã possivelmente decorreram do resfriamento noturno e elevaram-se gradativamente com o aumento da radiação solar durante o dia, apresentando à tarde, médias mais elevadas com umidade relativa do ar mais baixa.

Quadro 2. Médias mensais de temperatura máxima (TMA;°C), temperatura mínima (TMI;°C) e umidade relativa do ar (UR; %), no período da manhã e tarde (M / T), ao sol e à sombra, em região semi-árida do Nordeste (Quixeramobim - CE).  

TMAM TMAT TMIM TMIT URM URT
Meses Sol  Sombra Sol  Sombra Sol  Sombra Sol  Sombra Sol  Sombra Sol  Sombra
Dezembro 35,8 35,6 37,7 36,3 24,0 23,7 27,2 28,3 57,5 60,0 38,2 39,2
Janeiro 35,4 33,8 38,0 36,4 22,8 25,0 34,8 26,8 61,0 63,0 42,4 38,4
Fevereiro 35,7  34,7 38,3 37,0 23,3 25,3 28,0 29,0 65,7 67,3 40,0 49,0
Março  34,0 32,0 37,0 35,0 23,0 24,0 28,0 28,0 77,0 77,0 51,0 56,0
Período 35,2 34,0 37,8 36,2 23,3 24,5 29,5 28,0 65,3 66,8 42,9 45,7

Estudos conduzidos por Spain e Spiers (1996), em Missouri/EUA, verificaram em experimento com e sem sombra adicional em abrigos individuais, que o aumento da média da temperatura ambiente (amplitude) da sombra para o sol foi de 1,8°C no período da manhã e de 7,8°C à tarde, sendo superiores às temperaturas encontradas no presente experimento (durante os períodos de pré e pós-desaleitamento), cujas diferenças de temperatura entre os ambientes com ou sem sombra foram de 1,2°C e 1,6°C para os períodos da manhã e tarde, respectivamente. Os dados obtidos mostraram que a variação de temperatura nos ambientes estudados foi mínima em função, provavelmente, do uso dos abrigos individuais e/ou incidência de ventos na área experimental, embora este parâmetro não tenha sido avaliado com precisão.

A temperatura retal das bezerras praticamente não foi influenciada pela disposição dos abrigos em áreas com sol (38,5 e 39,6ºC; 38,6 e 39,4ºC manhã e tarde, nas fases de aleitamento e pós, respectivamente) ou com sombra suplementar (38,5 e 39,4ºC; 38,5 e 39,5ºC manhã e tarde, nas fases de aleitamento e pós, respectivamente). No período da tarde, a TR das bezerras apresentou médias sempre mais elevadas, em torno de 1°C, em relação àquelas registradas para o período da manhã.

Também não foi observado efeito do probiótico sobre nenhum parâmetro fisiológico das bezerras, assim como a análise de variância não detectou interação significativa entre a condição ambiental e o tipo de dieta. Entre o período de aleitamento e pós-desaleitamento não houve diferença para este parâmetro, tanto pela manhã quanto à tarde, quer os abrigos estivessem ao sol ou sob sombreamento natural. Após o desaleitamento, as médias verificadas para TR foram semelhantes àquelas do período em que as bezerras recebem o sucedâneo lácteo.

As temperaturas ambientes encontradas no estudo de Spain e Spiers (1996) durante os períodos da manhã e da tarde não foram suficientes para produzir diferenças significativas na TR entre os bezerros mantidos à sombra e ao sol. Mudanças, porém, foram significativas entre os períodos da manhã e da tarde, com variações de 38,0 a 38,8°C para o ambiente à sombra e de 38,6 a 39,3°C para os animais mantidos ao sol. No presente estudo, a baixa umidade relativa do ar e a sombra promovida pelos abrigos, reduzindo a radiação solar, podem ter concorrido para dissipar os efeitos das elevadas temperaturas ambientes.

A FR medida à tarde, durante o aleitamento, não apresentou variações significativas em função do local dos abrigos ou dieta fornecida às bezerras. Embora os valores registrados tenham sido maiores ao sol (45,6 mov./min.) que na sombra (44,4 mov./min.) no períodos da manhã e da tarde (57,2 e 56,4 mov./min., respectivamente). A razão destas variações não é clara, mas é possível que outros fatores, além dos tratamentos em estudo, tenham influenciado as mudanças nas FR e FC durante o experimento, dado que estes parâmetros são susceptíveis aos mais variados agentes externos. Após o desaleitamento, bezerras mantidas à sombra tiveram menor FR (43,7 mov./min.) do que as mantidas ao sol (51,4 mov./min.). Porém este comportamento não foi sempre verificado, tendo havido aumento ou redução, embora de reduzida magnitude neste último caso. A suspensão da dieta líquida aos animais na 6a semana de vida foi acompanhada por aumentos na FR e esta elevação foi maior nos animais mantidos ao sol (aumentos de 7 e 7,7% nos períodos da manhã e tarde, respectivamente) do que naqueles mantidos à sombra (aumentos de 0,5 e 5,6% pela manhã e à tarde, respectivamente). Durante a fase de aleitamento, verificou-se que no período da manhã, animais mantidos à sombra tiveram maior FC (71,9 batimentos/minuto) do que aqueles mantidos em abrigos sem sombra adicional (67,5 batimentos/minuto); e após a fase de aleitamento, a FC mostrou ser semelhante para os animais mantidos tanto à sombra como ao sol (72,3 e 72,2 batimentos/minuto). Já no período da tarde, tanto para a fase de aleitamento e de pós-aleitamento, as médias de FC dos animais nos abrigos à sombra foram maiores (76,2 e 80,5 batimentos/minuto, respectivamente) do que nos animais mantidos ao sol (73,6 e 78,0 batimentos/minuto, respectivamente).

A freqüência respiratória dos animais sempre foi maior à tarde do que pela manhã resultado também observado para os valores de freqüência cardíaca, conseqüência provável da elevação da temperatura ambiente, da maior movimentação do animal ou aumento dos processos químicos originados pela ingestão de alimentos.

No estudo de Spain e Spiers (1996) a instalação de sombra adicional sobre os abrigos individuais reduziu a taxa de respiração de bezerros da raça holandesa no período da tarde de 57,7 ciclos/min. para 47,3, a magnitude desta melhora foi diretamente relacionada com o aumento da temperatura ambiente, especialmente para o período da tarde, reduzindo efetivamente o estresse térmico dos animais criados ao sol tornando-os mais refrescados e saudáveis do aqueles criados sem a sombra.

As diferenças observadas nas FR e FC aparentemente não causaram desconforto aos animais indicando que as condições ambientais, especialmente a baixa umidade relativa do ar, favoreceram a utilização de mecanismos fisiológicos que visam à manutenção da homeotermia dos mesmos. Além disso, as diferenças de temperatura observadas entre os ambientes com ou sem sombra (1,2°C manhã e 1,6°C tarde) não foram suficientemente elevadas para promover tais reações.

Houve tendência de maior consumo de matéria seca do concentrado (Figura 1a) e feno (Figura 1b) pelas bezerras aleitadas com sucedâneo + probiótico em relação ao grupo controle, independente do ambiente (sol ou sombra). As médias para o consumo de matéria seca do concentrado no período da manhã, na fase de aleitamento, foram 291,5 e 272,9 g/animal e após o desaleitamento de 788,4 e 787,7g, para os ambientes de sol ou com sombra suplementar, respectivamente. No período da tarde, na fase de aleitamento, foram 234,4 e 231,0 g e após o desaleitamento de 699,8 e 598,9 g, para os ambientes de sol ou com sombra suplementar, respectivamente. Os valores encontrados para o período da manhã (superiores ao da tarde) foram, provavelmente, devidos ao fato da aferição da manhã referir-se ao das temperaturas ambientes mais amenas (final da tarde, noite e início da manhã seguinte) e, por conseguinte, maior consumo de alimentos.

Bezerros com peso vivo entre 40 e 50 kg, alimentados com leite ou substituto de leite e concentrado, necessitam consumir de 0,66 a 0,76 kg de MS (de 148 a 154 g de PB) para atingirem ganho de peso diário de 400 g (NRC, 2001). Na semana do desaleitamento, as bezerras utilizadas neste estudo pesaram de 41,5 a 49,0 kg, consumiram de 1,26 a 1,48 kg de MS total (267,8 a 317,2 g de PB) e ganharam de 360 (sombra/probiótico) a 600 g (sol/controle) nos tratamentos que apresentaram menor e maior consumo, o que atendeu às exigências nutricionais das bezerras.

Para todos os tratamentos, o consumo médio de MS do concentrado verificado na semana do desaleitamento das bezerras foi de 0,950 kg (1,057 kg de matéria natural) e o de feno, de 0,171 kg (0,180 kg de matéria natural). Estes valores assemelham-se aos encontrados por Susin et al. (1988) em experimento conduzido com bezerros Holandês x Guzerá, aleitados com substituto de leite (1,109 kg), sendo, entretanto inferiores aos relatados por Silva et al. (1987) com bezerros da raça holandesa (1,29 kg).

Não foram verificadas tendências de maior consumo de água em favor de nenhum dos tratamentos aplicados aos animais do presente experimento, cujas diferenças foram mínimas e não significativas. Na fase de aleitamento: manhã 0,20 e 0,21L/ tarde 0,28 e 0,29L, sol e sombra, respectivamente; e após o desaleitamento: manhã 0,42 e 0,45L/ tarde 0,40 e 0,44L, sol e sombra, respectivamente. Observou-se, porém, que o consumo elevou-se gradativamente com o aumento da idade e substancialmente (66%) após a suspensão do fornecimento da dieta líquida. Os aumentos verificados neste período de transição, embora não significativos, foram maiores para a aferição da manhã do que para a da tarde e para a adição de sombra do que para o sol, acompanhando diretamente o aumento também verificado no consumo de MS. Também foi verificado por Façanha et al. (2000) elevado consumo de água após a suspensão da dieta líquida, ambos justificaram-no como devido à eliminação da água proveniente do sucedâneo e ao aumento no consumo de MS.

Quadro 3. Consumo de matéria seca total, conversão alimentar e relações de consumo de bezerras mestiças (Holandês x Guzerá) criadas em abrigos expostos ao sol e sombra, recebendo ou não probiótico, durante as fases de pré e pós- desaleitamento, em região semi-árida do Nordeste (Quixeramobim - CE). 

  Sol Sombra
  Probiótico Controle Probiótico Controle
Médias Pré- Pós- Pré- Pós- Pré- Pós- Pré- Pós-
  desmame* desmame desmame desmame desmame desmame desmame desmame
CMST 1,08 1,7 1,30 2,05 1,21 1,51 1,27 1,79
CvA  2,16 3,24 2,30 2,05 4,16 1,97 4,94 3,02
CMS/PV 2,50 3,50 2,80  3,40 3,00 3,10 3,20 3,78
CA/PV 1,19 1,66 1,06 1,49 1,01 1,48 1,69 2,14
CA/CMS 0,48 0,50 0,38 0,44 0,33 0,48 0,53 0,58

CMST: Consumo de matéria seca total
CvA: Conversão alimentar (Consumo de MS/ganho de peso)
CMS/PV: Consumo de matéria seca (MS)/kg de peso vivo (PV)
CA/PV: Consumo de água (CA)/kg de peso vivo (PV)
CA/CMS: Consumo de água (CA)/kg de MS
*Para o cálculo do desmame foram utilizadas as médias das duas últimas semanas de aleitamento.

Confrontando-se a última semana de aleitamento com o período seguinte, verificou-se um aumento do consumo de MS total (incluindo a matéria seca do sucedâneo) de 17% em relação à primeira semana após o desaleitamento, e de 41% quando relacionada à segunda semana, independente dos tratamentos aplicados aos animais. Este consumo representou de 2,9 e 3,4% do peso vivo para as fases de pré e pós-desaleitamento. Façanha et al. (2000) encontraram consumo de matéria seca total, na fase de aleitamento de bezerros holandeses de apenas 0,85% do peso vivo.

Os animais que receberam o probiótico adicionado ao sucedâneo obtiveram melhores médias para a conversão alimentar que os animais do controle, no sol ou na sombra (Quadro 3). As médias para o período de aleitamento (3,38) e pós-desaleitamento (2,57), independente dos tratamentos aplicados, encontradas no presente estudo estão em concordância com os resultados encontrados por Silva et al. (1987) e Meyer et al. (2000) para as médias de 2,46; 3,18 e 2,62, respectivamente, e são superiores aos registrados por Zanetti (1999) de 1,22.

A maioria dos estudos cita melhoria da conversão alimentar e do ganho de peso como conseqüência da melhoria das condições sanitárias dos animais e, embora alguns autores tenham encontrado resultados positivos com o uso de acidificantes em substitutos de leite. A suplementação com ACID-MOS, no presente estudo, não interferiu com o consumo nem com os dados de desempenho dele decorrentes. Isto pode ter sido devido à condução do experimento durante o verão, onde a incidência de diarréias e outros problemas relacionados ao ambiente não tenham sido verificados e a própria radiação solar e baixa umidade evitem seu aparecimento.

A relação entre o consumo de água e consumo de MS apresentou um acréscimo no período pós-desaleitamento de 15,7%, provavelmente devido ao aumento substancial no consumo de alimentos também verificado nesta fase. Já o consumo de água relativo ao peso vivo (CA/kg de PV) mostrou aumento de 41,7% após o desaleitamento dos animais (Quadro 3). Embora as informações sobre o consumo de água de bezerras sejam escassas, especialmente no semi-árido, sabe-se que essa variável depende da quantidade de matéria seca ingerida, da temperatura ambiente e dos teores de sal e proteína da dieta oferecida (Lucci, 1989). Como mostrado anteriormente, não houve diferenças no consumo de MS, além de não ter sido observado influência tanto do probiótico quanto da temperatura ambiente sobre os tratamentos, capazes de promover diferenças significativas de consumo de água.

As variações do peso corporal não foram influenciadas pelo tipo de dieta ou pela adição de sombra suplementar aos abrigos. Embora a média para este parâmetro tenha se mostrado um pouco maior nos animais que receberam sucedâneo sem a adição de probiótico e tiveram os abrigos ao sol, esta diferença (também verificada nos consumos de MS do feno e do concentrado) não foi estatisticamente significativa. Assim como não foi evidenciada diferença significativa no consumo de MS e o ganho de peso, diretamente relacionados ao consumo, também mostraram resultados semelhantes entre os tratamentos. Os animais mestiços, alimentados com substituto comercial de leite e desaleitados aos 42 dias de idade, apresentaram ganho de peso de 0,34 e 0,42 kg/dia, para os ambientes com e sem sombra adicional até o desaleitamento, superiores aos encontrados por Banys et al. (2000) 0,32 kg/dia, em estudos com bezerros da raça holandesa. Independente da fase, considerando-se os ambientes, o sombreamento natural promoveu sempre melhores ganhos de peso para as bezerras do estudo.

Conclusão

A adição de sombra suplementar aos abrigos individuais, no ambiente em que se desenvolveu a pesquisa, pode ser dispensada uma vez que variação de temperatura ambiente observada não foi suficiente para interferir negativamente sobre o desempenho dos animais. O uso de probiótico, especialmente durante a época seca, não tem expressão sobre a saúde dos animais, provavelmente devido ao pouco contato dos mesmos com os agentes causadores de doenças, principalmente parasitárias, como acontece nos períodos chuvosos. As características climáticas observadas na região, durante o experimento, promoveram as condições necessárias ao bom desempenho dos animais, já que os mesmos não apresentaram sinais de desconforto térmico de acordo com os parâmetros avaliados.

(Figura 2a, b)

Literatura Citada

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