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Memórias do Instituto Oswaldo Cruz
Fundação Oswaldo Cruz, Fiocruz
ISSN: 1678-8060 EISSN: 1678-8060
Vol. 90, Num. 2, 1995, pp. 307-309
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Memorias Instituto Oswaldo Cruz, Vol. 90(2):307-309
mar./apr. 1995
Schistosomiasis Control in the State of Sao Paulo
Carmen Moreno Glasser
Superintendencia de Controle de Endemias, Secretaria de Estado
da Saude, Rua Paula Souza 166, 01027-000 Sao Paulo, SP,
Brasil
Code Number: OC95061
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[TABLES AT END OF TEXT]
The program of schistosomiasis control for the State of Sao
Paulo, where only low endemicity areas occur, is discussed in
this paper. Inclusion of schistosomiasis among the diseases
due to obligatory notification is considered as a measure of
great importance. Accordingly the search for passive cases
conducted by the publich health system acquired major
importance in the disease surveillance. As from 1981 to 1992
only 11% of the detected cases were considered as
autochthonous. The main transmission areas are located at the
Litoral and Paraiba Valley regions. In the period of time
under analysis, the epidemiological surveillance data suggest
a decrease in the morbidity and in the autochthony tendency in
the State of Sao Paulo.
Key words: schistosomiasis - control - epidemiology
O Estado de S o Paulo situa-se na Regi o Sudeste brasileira e
possui uma populac o de 31 milh es de habitantes (SEADE 1993).
Devido sua importancia na economia nacional, tem recebido
grande contingente de migrantes de varias regi es brasileiras,
destacadamente do Nordeste e Sudeste (IBGE 1982), onde a
esquistossomose apresenta elevada endemicidade (Freitas
1972).
Nas ultimas decadas, o Estado passou por intenso processo de
urbanizac o, sendo que atualmente 93% da populac o vive em
areas urbanas. A taxa de crescimento populacional, para as de-
cadas de 50 a 70, se apresentou bastante elevada (em torno de
3,5% ao ano), caindo para 2,1% ao ano na decada de 80. A
reduc o do fluxo migratorio foi um dos fatores responsaveis
por essa queda (SEADE 1993).
Atualmente, e boa a cobertura da populac o por rede de
distribuic o de agua potavel (95%). Ja, a coleta de esgoto
atende 76% da populac o e somente 28% dos municipios possuem
sistemas de tratamento (SEMA 1992).
Das tres especies hospedeiras intermediarias presentes em
territorio paulista, apenas Biomphalaria
tenagophila e B.glabrata s o responsaveis pela
transmiss o da endemia. B. tenagophila possui ampla
distribuic o geografica, apresentando maior concentrac o de
criadouros a leste do Estado. Essa especie e a responsavel
pela grande maioria dos focos de transmiss o. A distribuic o
geografica de B. glabrata esta restrita a alguns
municipios vizinhos ao norte do Parana, em continuidade a area
colonizada por essa especie naquele Estado (Teles & Vaz 1987,
Teles 1989).
Como resultado da interac o dos determinantes assinalados
anteriormente, e outros micro-regionalizados, verifica-se
grande predominancia de casos procedentes de outros estados
brasileiros endemicos, entre aqueles detectados no Estado de
S o Paulo, oriundos principalmente de Minas Gerais, Bahia e
Pernambuco, sendo que dos 226 mil casos notificados no
periodo de 1981 a 1992, apenas 11% contrairam a
esquistossomose no Estado de Sao Paulo.
Diante disso, para o acompanhamento da situac o epidemiologica
da endemia tem sido de grande valia o fato da mesma figurar no
elenco das doencas de notificac o compulsoria do Estado de S o
Paulo. Todos os casos detectados s o investigados e
classificados em tres categorias: autoctones - aqueles que
adquiriram a parasitose no Estado de S o Paulo; importados -
aqueles que adquiriram a parasitose em outros estados brasi-
leiros; e indeterminados - aqueles que frequentaram areas de
transmiss o no Estado de S o Paulo e em outros estados
brasileiros (CIS 1978).
A vigilancia epidemiologica da esquistossomose mansonica no
Estado de Sao Paulo esta centrada na busca passiva de casos
realizadas pela rede de Unidades de Saude, ficando a busca
ativa restrita a areas de transmiss o anteriormente conhecidas
e aquelas apontadas pela busca passiva como novas areas de
autoctonia. Esse segundo tipo de busca e realizada pela
Superintendencia de Controle de Endemias (SUCEN) a qual tambem
compete a vigilancia dos hospedeiros intermediarios, visando
conhecer sua distribuic o e, em areas de transmiss o, detectar
exemplares infectados por Schistosoma mansoni (SUCEN
1989).
Dentre as atividades de controle de esquistossomose, destaca-
se a quimioterapia com oxamniquina, realizada pelas Unidades
de Saude e eventualmente pela SUCEN. A aplicac o de molus-
cicidas em colec es hidricas com planorbideos infectados e as
ac es educativas tem assumido papel complementar no programa
(SUCEN 1989).
O saneamento basico, incluindo sistemas de abastecimento de
agua potavel, coleta e destino adequado de esgoto, drenagem e
aterro de criadouros de planorbideos, e de responsabilidade de
org os de outras Secretarias de Estado e das prefeituras
municipais (SUCEN 1989). Existe, no entanto, um intercambio de
informac es entre a Secretaria de Estado da Saude e esses
org os que, apesar de n o estarem adequadamente sistematiza-
dos, tem resultado na priorizac o de medidas de saneamento em
algumas areas importantes de transmiss o.
Esse programa tem permitido acompanhar a situac o da doenca no
Estado, apesar de haver ocorrido descontinuidade do trabalho
nas areas de transmissao. Nos ultimos 12 anos, podemos dife-
renciar do ponto de vista das ac es de controle executadas
pela SUCEN, dois momentos: o primeiro de 1981 a 1985, quando o
programa n o sofreu descontinuidade operacional, e o segundo
de 1986 a 1992, quando foram deslocados recursos deste
programa para o controle de Aedes aegypti e A.
albopictus.
Os dados de busca ativa de casos mostram uma media de exames
de fezes de 249 mil/ano no primeiro momento e apenas 53
mil/ano no segundo. Nas pesquisas planorbidicas tambem houve
reducao, embora menos acentuada (249 mil planorbideos
examinados/ano para 162 mil/ano).
A analise das investigac es epidemiologicas dos casos
notificados no periodo de 1981 a 1992, levou ao conhecimento
de varios aspectos da epidemiologia da esquistossomose no
Estado: 1) Verificou-se que apenas duas regioes do Estado
(Litoral e Vale do Paraiba) concentraram 86% dos casos
autoctones detectados. A unica area de transmiss o com
presenca de B.glabrata (regiao de Marilia) foi
responsavel por apenas 4,8% dos casos autoctones do Estado no
mesmo periodo; 2) O mapeamento dos municipios onde ocorreu
transmiss o de esquistossomose, segundo trienios, mostrou
pequena alterac es na distribuic o geografica das areas de
transmiss o, destacando-se a regi o de Campinas, onde se
verificou a maior expans o dessas areas; 3) Entre os casos
importados, 61% s o representados por adultos em idades econo-
micamente produtivas (20 a 40 anos), como consequencia do
fluxo migratorio em busca de trabalho, e entre os autoctones
46% s o menores de 15 anos, sugerindo a importancia do lazer
no contato com colec es hidricas, embora a influencia do
contato profissional em arrozais do Vale do Paraiba nao deva
ser desconsiderada.
Como pode ser verificado pela Tabela I, o numero de casos
investigados diminuiu de 26,4 mil em 1981 para 13,0 mil em
1992, sendo grande a contribuic o das Unidades de Saude na
detecc o desses casos. No entanto, a situac o se inverte quan-
do se consideram os casos autoctones, pois a busca ativa em
areas de transmiss o tem contribuido para a detecc o de mais
de 60% da autoctonia (Tabela II), ainda que tenha havido
grande reduc o dessa atividade a partir de meados da decada de
80. O numero de casos autoctones notificados pelas Unidades de
Saude diminuiu gradativamente no periodo analisado, enquanto
que a reduc o verificada nos casos detectados pela SUCEN foi
ainda mais acentuada (Tabela II). Neste ultimo tipo de busca,
a descontinuidade ocorrida no trabalho, deve ter contribuido
na diminuic o verificada.
Concluindo, destaca-se que as series historicas do numero de
casos investigados e autoctones referentes a busca passiva,
que n o sofreu descontinuidade no periodo, apontam para uma
tendencia de reduc o do numero de portadores da doenca no
Estado, e ate da autoctonia. Todavia, e importante que a busca
ativa seja retomada, o que proporcionara, alem do
aprofundamento dos conhecimentos sobre a epidemiologia das
areas de transmiss o, um controle mais efetivo da endemia.
Por outro lado, a intensa urbanizac o do Estado, a diminuic o
do crescimento populacional verificada na ultima decada, em
func o inclusive de reduc o da migrac o, a boa cobertura da
populac o com abastecimento de agua potavel, a tendencia de
aumento da cobertura com sistemas de coleta de esgoto e a
maior disponibilidade de assistencia medica para a populac o,
s o aspectos que devem contribuir para a melhoria gradativa da
situac o epidemiologica da esquistossomose mansnica no Es-
tado de Sao Paulo.
TABELA I
Casos de esquistossomose investigados segundo
unidade notificante e ano. Estado de Sao Paulo
1981 a 1992
N^o de casos investigados (em mil)
----------------------------------------
Ano Unid. de Saudea SUCEN^b Total
81 18,3 8,1 26,4
82 16,7 7,2 23,9
83 15,5 6,7 22,2
84 15,3 6,0 21,3
85 14,0 4,4 18,4
86 14,0 3,7 17,7
87 16,0 2,1 18,1
88 16,9 1,6 18,5
89 16,5 1,1 17,6
90 14,3 1,1 15,4
91 12,7 0,6 13,3
92 12,3 0,7 13,0
---------------------------------------
Total 182,5 43,3 255,8
TABELA II
Casos de esquistossomose autoctones segundo
unidade notificante e ano. Sao Paulo 1984 a 1992
Ano Nø de casos autoctones
------------------------------------
Unid. de Saude^a SUCENb Total
----------------------------------------
84 966 2113 3079
85 702 1922 2624
86 634 1758 2392
87 596 842 1438
88 532 794 1326
89 567 563 1130
90 493 709 1202
91 460 525 985
92 483 480 963
----------------------------------------
Total 5433 9706 15139
a: busca passiva de casos
b: busca ativa de casos
Fonte: Divisao de Orientacao Tecnica - SUCEN
REFERENCIAS
Centro de Informac es de Saude CIS 1978. Manual de
Vigilancia Epidemiologica Sao Paulo, Secretaria de Estado
da Saude, 329 pp.
Freitas CA 1972. Situac o atual da esquistossomose no Brasil.
Rev Brasil Malariol D Trop 24: 3-63.
Fundac o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatistica, IBGE
1982. Censo Demografico de 1980 - Sao Paulo. Rio de
Janeiro (Recenseamento Geral do Brasil, 9.v.1.t.4.n.19).
Fundacao Sistema Estadual de Analise de Dados, SEADE 1993.
O novo retrato de Sao Paulo. Avaliac o dos primeiros
resultados do Censo Demografico de 1991 Governo do Estado
de Sao Paulo, 151 pp.
Secretaria de Estado do Meio Ambiente SEMA 1992. Inventario
Ambiental do Estado de Sao Paulo.Governo do Estado de Sao
Paulo, 67 pp.
Superintendencia de Controle de Endemias SUCEN 1989.
Programa de Controle de Esquistossomose. Sao Paulo,
Secretaria de Estado da Saude, 8 pp.
Teles HMS 1989. Distribuic o de Biomphalaria
tenagophila e B. occidentalis no Estado de Sao
Paulo (Brasil). Rev Saude publ 23:244-53.
Teles HMS, Vaz IF 1987. Distribuicao de Biomphalaria
glabrata (Say, 1818) (Pulmonata, Planorbidae) no Estado de
Sao Paulo (Brasil). Rev Saude publ 21:508-12.
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