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Memórias do Instituto Oswaldo Cruz
Fundação Oswaldo Cruz, Fiocruz
ISSN: 1678-8060 EISSN: 1678-8060
Vol. 91, Num. 5, 1996, pp. 639-640
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Mem Inst Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, Vol. 91(5),
639-640, Sep/Oct 1996,
RESEARCH NOTE
Resistencia ao Jejum de Triatoma nitida Usinger,
1939 em Laboratorio (Hemiptera, Reduviidae,
Triatominae)
Cleber Galvo ^+, Jose Jurberg , Herman Lent*
Laboratorio Nacional e Internacional de Referencia em
Taxonomia de Triatomineos, Departamento de Entomologia,
Instituto Oswaldo Cruz, Av. Brasil 4365, 21045-900 Rio de
Janeiro, RJ, Brasil
*Centro de Ciencias Biologicas, Universidade Santa rsula, Rua
Jornalista Orlando Dantas 59, 22231-010 Rio de Janeiro, RJ,
Brasil
^+Autor de contato. Fax: 55-21-290.9339
Recebido em 21 de novembro de 1995
Aceito em 29 de maio de 1996
Code Number: OC96115
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[TABLES AND FIGURES AT END OF TEXT]
Resistance to fast of Triatoma nitida Usinger,1939 in
laboratory - The authors observed the resistance to the fast
of Triatoma nitida in all phases of the life cycle. The
nymphs of 1st and 2nd instars resisted about two months, and
the 3rd ones more than three months and the 4th were more
resistants (five months). The nymphs of 5th instar resisted
for four months, and the adults about two months.
Key words: Triatominae - Triatoma nitida -
Chaga's disease - resistance to starvation
Triatoma nitida foi descrita por Usinger em 1939, com
base em especimes coletados na Guatemala e Honduras; somente
cerca de uma decada depois sua infecc o natural pelo
Trypanosoma cruzi foi relatada por E Dias (1952 Rev
Bras Malariol D trop 4: 75-84). JR Leon (1959 Rev
Goiana Med 5: 445-455) chamou a atenc o para o alto grau
de infecc o dessa especie na Guatemala, onde 83% dos especimes
capturados albergavam o T. cruzi, colocando-a ao lado
de Rhodnius prolixus Stal,1859 e de Triatoma
dimidiata (Latreille,1811) como as unicas transmissoras da
doenca de Chagas naquele pais; anos mais tarde W Gonzalez-
Angulo e RE Ryckman (1967 J Med Ent 4: 44-47)
encontraram, pela primeira vez, representantes dessa especie
no Mexico (Yucatan).
Segundo R Zeledon (1983 Interciencia 8: 384-394)
T. nitida e uma especie silvestre dificil de ser
encontrada, pois, apesar de os adultos invadirem o domicilio
ocasionalmente, n o s o capazes de colonizar.
Ate o presente, apenas trabalhos sobre sistematica e
morfologia dedicados a esta especie foram publicados estando
sob este ponto bem estudada; entretanto, pouco se conhece
sobre seus hospedeiros e habitats naturais. Alguns aspectos de
sua biologia foram abordados recentemente por C Galv o et al.
(1995 Mem Inst Oswaldo Cruz 90: 657-663) onde os
autores destacaram o longo periodo de desenvolvimento em
laboratorio e o pequeno numero de defecac es realizadas
imediatamente apos o repasto.
O presente trabalho teve como objetivo estabelecer o periodo
de resistencia ao jejum em condic es controladas no
laboratorio.
Os insetos estudados s o provenientes do insetario do
Laboratorio Nacional e Internacional de Referencia em
Taxonomia de Triatomineos, Departamento de Entomologia,
Instituto Oswaldo Cruz, onde s o mantidos em temperatura
ambiente com alimentac o quinzenal em pombos (Columba
livia).
Machos e femeas foram transferidos da colnia para um
recipiente metalico de 21 cm de altura e 16 cm de diametro com
o fundo de tela de arame visando facilitar a coleta dos ovos
que deram origem a uma nova colnia que foi mantida em camara
climatizada tipo B.O.D. a temperatura de 28 +/- 1 C e 80 +/-
5% de UR, com fotofase de 12 h e alimentac o semanal em
camundongos albinos (Mus musculus). Desta colnia foram
retirados 50 ovos e 50 ninfas visivelmente n o alimentadas de
cada estadio (exceto do 5^o estadio de onde foram retirados 60
especimes). Os insetos foram agrupados, de acordo com a fase
de desenvolvimento, em cristalizadores de vidro de 20 cm de
altura por 17 cm de diametro e submetidos ao jejum por 15
dias. Ao final desse periodo oferecia-se a fonte alimentar por
cerca de 5 h.
Apos a eclos o, ou muda, isolaram-se 30 especimes de cada
estadio, 15 machos e 15 femeas, em frascos de Borrel numerados
conforme a data da muda. Os insetos foram mantidos em jejum e
observados diariamente ate a morte.
Segundo A Neiva e H Lent (1936 Rev Ent Rio de Janeiro
6: 153-190) os primeiros relatos sobre a capacidade de
resistencia ao jejum se devem a Darwin, que observou um
especime resistir a falta de alimento por quatro meses, a
Laboulbene que observou um periodo ainda maior e a Porter que
constatou a sobrevivencia de um especime de Triatoma
infestans (Klug, 1834) durante 17 meses de jejum. Desde
ent o, diversos autores tem documentado a capacidade de jejum
desses insetos. C Uribe (1926 J Parasitol 13: 129-136)
observou uma ninfa de 3^o estadio de R. prolixus
resistir a privac o alimentar por cinco meses enquanto PA
Buxton (1930 Trans Entomol Soc London 78: 227-236)
afirmou que os machos s o capazes de resistir por 41 dias e as
femeas por 35 dias em media. J Pelegrino (1952 Rev Brasil
Biol 12: 317-320) foi o primeiro a ressaltar a importancia
epidemiologica da capacidade de resistencia ao jejum,
lembrando que, em situac es adversas, estes insetos podem se
deslocar ativa ou passivamente, mantendo-se vivos ate
encontrar um novo ambiente favoravel, criando, assim, novos
focos da doenca em areas anteriormente livres de vetores.
Segundo JCP Dias (1965 Rev Bras Malariol D trop 17: 55-
63) a resistencia ao jejum seria extremamente vantajosa para
as especies domiciliadas, que, protegidas em frestas
inacessiveis a aspers o de inseticidas, resistiriam ate que o
efeito residual cessasse, quando ent o sairiam a procura do
alimento.
Os resultados obtidos para T. nitida est o na Tabela.
Observa-se que as ninfas de 1^o e 2^o estadios resistiram por
cerca de dois meses, as do 3^o estadio por mais de tres e as
do 4^o foram as mais resistentes (sobreviveram por volta de
cinco meses). Este periodo diminuiu consideravelmente nas
ninfas de 5^o estadio, que suportaram a falta de alimento por
quatro meses em media. Os adultos sobreviveram por periodos
semelhantes aos do 1^o e 2^o estadios e as femeas mostraram-se
um pouco mais resistentes que os machos.
As comparac es entre os resultados obtidos por diversos
autores devem ser feitas levando-se em considerac o as
diferentes metodologias e condic es de realizac o dos
experimentos. JM Costa e J Jurberg (1989 Mem Inst Oswaldo
Cruz 84: 129-137) apresentaram tabelas comparativas de
varios trabalhos; nota-se que ocorreram variac es no periodo
de resistencia de acordo com a metodologia utilizada. J
Jurberg e JM Costa (1989 Mem Inst Oswaldo Cruz 84: 393-
399) chamaram a atenc o para os periodos divergentes
encontrados por varios autores para a mesma especie. Os
periodos de resistencia obtidos por A Perlowagora-Szumlewicz
(1969 Rev Brasil Malariol D trop 21: 117-159) para
T. infestans foram inferiores aos registrados por
Pelegrino (1952 loc.cit.), WH Hack (1955 Ann Inst
med Reg 4: 125-147) e E Dias (1956 Mem Inst Oswaldo
Cruz 54: 115-124) que estudaram a mesma especie.
No presente trabalho, os resultados concordam, em linhas
gerais, com os obtidos, por outros autores, em condic es de
laboratorio semelhantes, mas demonstram que T. nitida
possui uma grande capacidade de resistencia, superior a de
outras especies do genero.
MJ Costa e ALP Perondini (1973 Rev Saude Publ S Paulo
7: 207-217) mantiveram o T. brasiliensis em
jejum a 30 C e 70 a 80% de U.R., e obtiveram medias inferiores
as de T. nitida em todas as fases do ciclo de vida; o
mesmo ocorreu em relac o ao T. sordida mantido a 30^oC
por E Juarez e EPC Silva (1982 Rev Saude Publ S Paulo
16: 1-36). A resistencia ao jejum de T. nitida foi
parcialmente superior (maior no 1^o e 5^o estadios) a do
R. prolixus estudado por MD Feliciangeli et al. (1980
Rev Inst Med Trop S Paulo 22: 53-61) e, totalmente
superior a de cinco especies mantidas a 30 ^oC: R. nasutus,
R. neglectus, P. megistus, T. vitticeps e T. rubrovaria
(IG Silva 1985 Tese de Doutorado, UFPR, Brasil).
Agradecimentos: ao Dr. Rodrigo Zeledon, da Universidade
da Costa Rica pelos especimes que originaram a colnia de
T. nitida; a tecnica Vanda Cunha pela observac o
diaria; ao tecnico Jose Luis da Costa Giesteira e a estagiaria
Luciana da Fonseca Silva pela manutenc o do insetario.
Com auxilio do CNPq, FAPERJ, convenio BIRD/FNS/FIOCRUZ n^o
027/93 e Comission of the European Communities STD-TS3-
CT920092
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TABELA Periodo de resistencia ao jejum (em dias) em
Triatoma nitida Usinger, 1939
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Fases Min. Max. X S S^2 N
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1 estadio 33 71 56,3 9,2 86,1 30
2 estadio 16 113 63,0 25,1 632,4 30
3 estadio 65 167 102,5 26,9 724,9 30
4 estadio 82 221 158,0 25,4 648,7 30
5 estadio 41 159 114,3 26,4 702,2 30
Machos 12 85 58,6 19,9 398,8 15
Femeas 39 89 66,0 16,0 256,6 15
Min. = periodo minimo. Max. = periodo maximo. X = media.
S = desvio padr o. S^2 = variancia. N = tamanho da amostra.
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Copyright 1996 Fundacao Oswaldo Cruz
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