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Desenvolvimento de Rhodnius pictipes Stal, 1872 alimentado atraves de membrana de silicone e em camundongos (Hemiptera, Reduviidae, Triatominae) Dayse da Silva Rocha/^+, Adivaldo Henrique da Fonseca*, Francisco Ademar Costa**, Jose Jurberg, Cleber Galvao Laboratorio Nacional e Internacional de Referencia em Taxonomia de
Triatomineos, Departamento de Entomologia, Instituto Oswaldo Cruz, Av.
Brasil 4365, 21045-900 Rio de Janeiro, RJ, Brasil
Recebido em 17 de janeiro de 1997
Code Number: OC97100 File Sizes: Text: 24.3K Graphics: Tables (jpg) - 177K
Parte deste trabalho foi apresentada na XXII Annual Meeting on Basic Research in Chagas' Disease, Caxambu, MG, Brasil, 1995 Development of Rhodnius pictipes Stal, 1872 Fed on Mice and through a Silicone Membrane (Hemiptera, Reduviidae, Triatominae) - Rhodnius pictipes (Hemiptera, Reduviidae) from Serra Norte, State of Para, Brazil, aclimatized in an insectary at the Laboratorio Nacional e Internacional de Referencia em Taxonomia de Triatomineos, Departamento de Entomologia, Instituto Oswaldo Cruz, were fed through a silicone membrane. In order to know the viability and the efficiency of this membrane compared with insects fed on mice, the number of bloodmeals taken, period of development of the five nymphal instars, longevity of adults, average amount of blood intake in each meal and percent of mortality were observed. A total of 310 insects, were used, comprising 50 nymphs of each instar, as well as 30 male and 30 female adults. Insects fed artificially had reduced minimal and maximal periods of development than the group fed on mice. The largest relative increase of body weight was observed in the 2nd instar followed by the 1st, and the amount of blood ingested increased during the development, to the 5th instar for both groups. There were no significant differences between the groups fed artificially and in vivo according to Tukey's test for p>0.05. The percent of mortality in the 1st instar was 18% for artificially fed and 16% for the group fed on mice; these percentages decreased as insects developed until the 4th instar, without mortality, returning to increase in the 5th instar. R. pictipes was shown to be easily adaptable to artificial feeding, and could be considered as an important and viable experimental model. Key words: Rhodnius pictipes - Triatominae - artificial feeding - life cycle - Chagas' disease A necessidade de manutencao de triatomineos em laboratorio vem motivando diversos autores a estudarem metodologias alternativas a utilizacao de animais mantidos em laboratorio. A alimentacao artificial supre as necessidades nutricionais desses insetos, sem os inconvenientes da manutencao de hospedeiros vivos, alem de minimizar efeitos de caracteristicas individuais dos hospedeiros nos estudos de transmissao do Trypanosoma cruzi. Este metodo foi tambem utilizado como isca em medidas de controle, conforme demonstrado por Lima et al. (1991, 1992) e Lima (1994); para manutencao de colonias em laboratorio (Garcia et al. 1975), alem da utilizacao no xenodiagnostico artificial. Neste ultimo caso torna-se ainda mais indicado, ja que podem ocorrer casos de reacoes alergicas cutaneas as picadas desses insetos (Mott et al. 1980, Costa et al. 1981). Rhodnius pictipes Stal, 1872 e uma especie silvestre de ampla distribuicao na America do Sul. Tem sido encontrada no Brasil nos estados do Acre, Amazonas, Maranhao, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Para, Piaui e Tocantins (Castro-Filho & Silveira 1979, Lent & Wygodzinsky 1979, Silveira et al. 1984, Brazil et al. 1985, Silva & Silva 1990). Quanto a infeccao por flagelados, R. pictipes foi encontrado naturalmente infectado pelo T. cruzi, pelo T. rangeli e com infeccao mista (Dias 1952, Carcavallo et al. 1975, Otero et al. 1976). No presente trabalho foi verificada a viabilidade e a eficiencia da membrana de silicone na alimentacao e o consequente numero de repastos realizados em cada fase de desenvolvimento; a quantidade de sangue ingerido em cada repasto; o periodo de desenvolvimento dos cinco estadios ninfais; a longevidade dos adultos e o percentual de mortalidade das ninfas. MATERIAIS E METODOS Foram utilizados especimes de R. pictipes provenientes de uma colonia iniciada com insetos capturados em 1989 em Serra Norte, Estado do Para, e alimentados em pombos no insetario do Laboratorio Nacional e Internacional de Referencia em Taxonomia de Triatomineos do Departamento de Entomologia do Instituto Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro. Insetos e ovos foram retirados aleatoriamente da colonia. As ninfas receberam uma alimentacao em camundongos com o intuito de padronizar o periodo de ocorrencia das ecdises. Apos a eclosao e ecdise das ninfas, os insetos foram acondi-cionados, de acordo com a fase do desenvol-vimento, em frascos de vidro (15 cm de altura x 6 cm de diametro) forrados no fundo com papel de filtro e contendo tiras do mesmo papel, dobradas em sanfona, para aumentar a superficie de contato e para absorver a umidade. Para alimentacao artificial foram utilizados 310 especimes: 50 ninfas de cada estadio, 30 machos e 30 femeas. A alimentacao foi realizada atraves de membrana de silicone, conforme descrito por Butler et al. (1984), com sangue desfibrinado de car-neiro. O sangue foi colocado em placas retangulares de vidro de 9 cm de comprimento x 7 cm de largura e capacidade de 16 ml. Estas foram colocadas sobre uma placa aquecedora mantida a 39-40 C; a temperatura foi verificada atraves de um termometro de precisao, e por meio de testes previos verificou-se que com esta temperatura o sangue contido nas placas de vidro atingia a temperatura de 37-38 C. As placas de vidro foram cobertas com a membrana de silicone, ficando a face rugosa em contato com os insetos e a face lisa em contato com o sangue. No momento da alimentacao os insetos foram colocados em frascos Becker de 250 ml contendo sanfonas de papel de filtro para facilitar seu deslocamento ate a fonte sanguinea e para absorver as excretas eliminadas durante o repasto, e fechados por tela de nailon fixada com elastico. A alimentacao foi oferecida, aproximadamente, a cada 15 dias e o tempo de oferecimento da fonte sanguinea foi de 2 h, tempo suficiente para a replecao total dessa especie conforme demonstrado por Rocha et al. (1994). Todos os insetos foram pesados antes e imediatamente apos o repasto, para verificacao da quantidade de sangue ingerido. Diariamente foram verificadas as ocorrencias de ecdises e mortes. O mesmo numero de insetos e metodologia semelhante foram utilizados na alimentacao em camundongos (Mus musculus). Estes foram imobilizados em sacos confeccionados com telas de nailon e colocados dentro de um cristalizador de vidro de 20 cm de altura X 20 cm de diametro, onde colocavam-se os insetos. Durante a realizacao do experimento ambos os grupos foram mantidos em estufa B.O.D. a 28+/-1 C e 80+/-5% de U.R. com fotoperiodo de 12 h. RESULTADOS Numero de repastos realizados - No presente trabalho observou-se, em ambos os grupos, um pequeno numero de repastos em cada fase de desenvolvimento. Os insetos alimentados artificialmente apresentaram numero de repastos minimos e maximos inferiores aos obtidos no grupo alimentado em camundongos; alem disso, as medias foram inferiores no 1 , 2 e 4 estadios e nas femeas; apenas no 3 estadio a media do grupo alimentado em camundongo foi superior (Tabela I). Outro aspecto importante constatado foi a maior homogeneidade no periodo de intermuda obtido na alimentacao artificial. Esse e um fator importante no controle de uma criacao em laboratorio, permitindo que um maior numero de insetos alcancem, simultaneamente, a fase adulta aumentando a possibilidade e frequencia de copulas. Nos insetos alimentados artificialmente, observou-se que no 1 e 2 estadios todos necessitaram de apenas um repasto para que ocorressem as mudas. Nos demais estadios tambem ocorreram diversas mudas com apenas uma alimentacao (Tabela II). Ingestao de sangue - Observou-se que o 2 estadio foi o que apresentou o maior aumento de peso corporal seguido do 1 (Tabela III, Tabela IV). Em R. pictipes o aumento da quantidade de sangue ingerido foi crescente com o decorrer do desenvolvimento dos insetos, alcancando o pico no 5 estadio. Na fase adulta houve um decrescimo na quantidade de sangue ingerido, com o aumento do numero de repastos, tambem em ambos os grupos. Periodo de desenvolvimento ninfal e longevidade dos adultos - O periodo medio do desenvolvimento dos insetos alimentados artificialmente foi superior, em todas as fases, ao registrado para os insetos alimentados em camundongos, exceto em relacao as femeas que apresentaram periodo de sobrevida menor que os machos (Tabela VI). Do 1 ao 4 estadios, em ambos os grupos, os insetos necessitaram, em media, de menos de um mEs para alcancarem o estadio seguinte. Nao houve diferenca significativa nos periodos de desenvolvimento entre os grupos alimentados artificialmente e in vivo, segundo o teste de Tukey para p>0,05, embora algumas medias apresentem diferencas. Percentual de mortalidade - No 1 estadio de 50 especimes alimentados artificialmente, so 9 nao atingiram o 2 estadio, o que representa uma taxa de mortalidade de 18% proxima a obtida para o grupo alimentado em camundongos, que foi de 16% (Tabela VII). Os percentuais de mortalidade diminuiram nos dois grupos durante o periodo de desenvolvimento ate o 4 estadio onde nao houve mortes. No 5 estadio, os percentuais voltaram a crescer atingindo 10% na alimentacao artificial e 6% na alimentacao em camundongos. DISCUSSAO Numero de repastos realizados - Segundo Juarez (1970) o numero de repastos realizados por triatomineos tem uma grande importancia do ponto de vista epidemiologico, ja que quanto mais contatos ocorrerem entre vetores e hospedeiros, maior sera a probabilidade de infeccao ou transmissao do T. cruzi. Em 1994, Rocha et al. observaram que o 1 estadio de R. pictipes necessitou, em media, de 1,6 repastos, quando alimentado em pombos, para alcancar a fase seguinte, media essa superior a obtida no presente trabalho em alimentacao artificial, que foi de um repasto. A regularidade nos periodos de intermuda registrada no presente trabalho foi observada tambem por Garcia et al. (1975) para R. prolixus Stal, 1859 e por Lent e Valderrama (1977) para R. pictipes. Ingestao de sangue - A importAncia da quantidade e qualidade do alimento no desen-volvimento dos triatomineos tem sido ressaltada por diversos autores. O numero de ovos produzidos esta diretamente relacionado a quantidade de sangue ingerido (Buxton 1930, Friend et al. 1965, Regis 1979). Garcia et al. (1975) estudando R. prolixus submetido a alimentacao artificial, obtiveram resultados semelhantes aos obtidos no presente trabalho (Tabelas III, IV). Perlowagora-Szumlewicz (1975) registrou para R. neglectus Lent 1954, atraves de alimentacao in vivo, as seguintes medias de sangue ingerido por estadio: 1 1,71 mg; 2 8,7 mg; 3 13,5 mg; 4 17,8 mg; 5 124 mg; machos 67,5mg e fEmeas 100,5mg. Esses resultados sao inferiores aos obtidos no presente trabalho, para ambos os grupos, exceto para o 5 estadio. A quantidade de sangue ingerido por algumas especies de triatomineos esta listada na Tabela V. Os resultados observados demonstram a heterogeneidade da capacidade alimentar de R. prolixus quando submetido a condicoes distintas de alimentacao, confirmando a influEncia que a qualidade do sangue exerce sobre o desenvol-vimento desses insetos. O peso medio da quantidade de sangue ingerido varia de especie para especie, ou mesmo dentro da mesma especie, inclusive utilizando-se a mesma fonte alimentar, em repastos distintos, conforme demonstrado nas Tabelas III e IV. Os resultados obtidos por Buxton (1930), Zeledon et al. (1970a, b), Rabinovich (1972) e Brasileiro e Perondini (1974) aproximam-se aos do presente trabalho onde foi verificado que o 2 estadio foi o que apresentou maior aumento de peso corporal. Periodo de desenvolvimento ninfal e longe-vidade dos adultos - No presente trabalho R. pictipes necessitou, em media, de um mEs do 1 ao 4 estadio para atingir o estadio seguinte, o que foi observado tambem para R. neglectus por Perlowagora-Szumlewicz (1975), para R. neivai Lent, 1953 por Carcavallo et al. (1976) e Lent e Valderrama (1977), para R. prolixus por Lent e Valderrama (1977) e para R. pictipes por Silva e Silva (1990). Tambem para ambos os grupos foi registrado, para o 5 estadio, periodo medio de 35 dias para a ocorrencia da muda imaginal, aproximando-se dos resultados obtidos por Otero et al. (1976) que registraram media de 26 dias quando alimentados em galinhas; esse periodo foi nitidamente inferior ao registrado para essa mesma especie por Lent e Valderrama (1977) que registraram uma media de 52,5 dias, por Silva e Silva (1990) que observaram 51,1 dias em media e por Rocha et al. (1994) que obtiveram 107 dias em media. Percentual de mortalidade - As taxas de mortalidade verificadas (Tabela VII) podem ser consideradas baixas se levarmos em conta fatores que dificultam a realizacao do primeiro repasto, como fragilidade do aparelho bucal, dificuldade para alcancar o hospedeiro e atingir um capilar. Embora esses dois ultimos inconvenientes nao existam na alimentacao artificial, a referida fragilidade do rostro dos insetos nesta fase dificulta a alimentacao e consequentemente o desenvolvimento. Lent e Valderrama (1977), usando pombos como fonte alimentar, constataram 33% de mortalidade para R. pictipes durante todo o ciclo; resultados similares foram obtidos por Rocha et al. (1994) que registraram percentual de mortalidade de 38% durante todo o ciclo, destacando porem que 12% so no 1 estadio, utilizando pombos como fonte sanguinea. Taxas de mortalidade na faixa de 10 a 20% para o 1 estadio vEm sendo observadas com frequencia tambem em especies dos generos Triatoma Laporte 1832; Panstrongylus (Berg, 1859); Dipetalogaster Usinger, 1939 e Cavernicola Barber, 1937. Rabinovich (1972) estudando Triatoma infestans (Klug, 1834) registrou o maior indice de mortalidade no 1 estadio ninfal; o mesmo foi observado por Feliciangeli e Rabinovich (1985) em relacao a T. maculata (Erickson, 1848) alimentado in vivo, onde a mortalidade foi de 17,2% no 1 estadio. CorrEa (1962), utilizando tres fontes para alimentacao de T. infestans, obteve percentuais de mortalidade no 1 estadio distintos para cada uma sendo 20,4% nos insetos alimentados em gamba, 11,5% em galinha e 5,7% em cao. Os resultados obtidos, comparando-se os dois grupos, mostram que podemos otimizar a manu-tencao de colonias de R. pictipes em laboratorio atraves da alimentacao artificial com o uso de membrana de silicone. A membrana demonstrou ser de facil manipulacao e lavagem, podendo ser reutilizada e apresentando baixo custo. O comportamento dessa especie em relacao a membrana foi similar ao observado durante a alimentacao em hospedeiros vivos. Esses resultados comparativos de desenvolvimento indicam que cada especie possui diferentes comportamentos e adaptacoes quando submetidas a condicoes artificiais, e que somente estudos especificos podem esclarecer a dinAmica biologica de cada especie e assim determinar detalhes que poderao ser utilizados em campanhas de controle, utilizacao de especies em xenodiag-nostico e criacao em laboratorio. AGRADECIMENTOS Ao Dr. Rodolfo U Carcavallo pela leitura critica do texto e pela revisao do resumo em inglEs. Aos tecnicos do laboratorio Vanda Cunha, Jose Luis da Costa Giesteira e Luciana da Fonseca Silva pela manutencao do insetario. Com auxilio do CNPq e convEnio BIRD/FNS/FIOCRUZ 027/93 REFERENCIAS
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