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Triatoma jurbergi sp. n. do Norte do Estado do Mato Grosso, Brasil (Hemiptera, Reduviidae, Triatominae) com uma Atualizacao das Sinonimias e outros Taxons Rodolfo U Carcavallo/^+, Cleber Galvao, Herman Lent*
Laboratorio Nacional e Internacional de Referencia em Taxonomia de
Triatomineos, Departamento de Entomologia, Instituto Oswaldo Cruz, Av.
Brasil 4365, 21045-900 Rio de Janeiro, RJ, Brasil Recebido em 6 janeiro de 1998; Aceito em 8 de abril de 1998
Code Number:OC98089 Triatoma jurbergi sp. n. from the State of Mato Grosso, Brazil (Hemiptera, Reduviidae, Triatominae) with an Updated List of Synonyms and other Taxa - Triatoma jurbergi n. sp. is described based on nine specimens of both sexes deposited in the Rodolfo Carcavallo Collection in the Oswaldo Cruz Institute Entomological Collection. The new species can be separated from the closely related Triatoma guazu Lent Wygodzinsky, 1979 by several characters. The most important are longer anteocular region; thin and pointed juga; the shape of the eyes without concavity in the posterior edge; much longer second rostral segment, passing the posterior edge of eye; the absence of a ventral longitudinal depression on the abdomen; the general color redish, brown and orange and the male genitalia, mainly in the vesica lightly chitinized and smaller, the phallosome with apical projection and the pointed apex of the endosome process. Key words: Triatominae - Chagas' disease - Triatoma jurbergi sp. n. Triatoma jurbergi sp. n. do Norte do Estado do Mato Grosso, Brasil (Hemiptera, Reduviidae, Triatominae) com uma Atualizacao das Sinonimias e outros Taxons A captura de especimes de Triatoma guazu Lent Wygodzinsky, 1979 em domicilios no Brasil foi realizada pela primeira vez em 1994, por tecnicos da Fundacao Nacional de Saude (FNS), na localidade de Barra do Garca, Mato Grosso. Isto permitiu que esta especie, descrita com base em um unico especime femea, proveniente do Paraguai, pudesse ter sua diagnose ampliada atraves da descricao do alotipo macho, do estudo da genitalia externa masculina realizada por Lent et al. (1996) e pelo estudo morfologico atraves da microscopia eletronica de varredura (Galindez-Giron et al. 1997b). Alem disso, foi possivel iniciar uma colonia desta especie no insetario do Laboratorio Nacional e Internacional de Referencia em Taxonomia de Triatomineos, o que permitira a ampliacao do conhecimento sobre sua bionomia e morfologia das ninfas. Desde 1994, pesquisadores da FNS vem avaliando a importancia desta especie na epidemiologia da doenca de Chagas e resultados preliminares foram publicados recentemente (Valente et al. 1997). Em um novo lote de especimes enviados pela FNS para identificacao, provenientes da localidade de Rondonopolis, Mato Grosso, a cerca de 280 km de Barra do Garca, a presenca de adultos e ninfas assemelhados a T. guazu foi observada. Esses especimes apresentavam um colorido avermelhado em todos os estadios, comparavel ao de Triatoma rubrovaria (Blanchard, 1843), porem deste se distinguindo pela ausencia da coloracao negra. Esta carateristica cromatica foi constante em todos os exemplares nascidos e mantidos na atual colonia. Apos a analise comparativa das caracteristicas anatomicas de ambos os sexos e da observacao da descendencia em laboratorio das duas amostras, concluimos que sao especies distintas, sendo designada a que aqui se descreve como Triatoma jurbergi sp. n. (Figs. 1, 2, 3).
Fig. 2: Triatoma jurbergi sp. n., femea, vista dorsal. Fig. 3: Triatoma jurbergi sp. n., femea, vista ventral.
Esta e a 112 especie de triatomineo nas Americas a ser descrita, pois desde a obra de Lent e Wygodzinsky (1979) que agrupou num mesmo trabalho a descricao pormenorizada de cada especie, dados de sua distribuicao geografica e habitats, foram descritas outras dez especies (Jurberg Galvao 1997). Algumas especies foram sinonimizadas e outras sofreram mudancas nas posicoes sistematicas. Sinonimias Triatoma gallardoi Carpintero, 1986 e sinonimo de Triatoma patagonica Del Ponte, 1929 (Carcavallo Martinez 1987). Triatoma funerea Carpintero Leguizamon, 1994 de Triatoma melanosoma Martinez, Olmedo Carcavallo, 1987 (Lent et al. 1995). Psammolestes salazari, Aldana, Lizano, Ramon Valderrama, 1996 de Psammolestes arthuri (Pinto 1926) (Lent 1997). Panstrongylus turpiali Valderrama, Lizano, Cabello Valera, 1996 de Panstrongylus chinai (Del Ponte, 1929) (Lent 1997). Mudancas de genero Triatoma spinolai Porter, 1934 para Mepraia spinolai, pela revalidacao do genero Mepraia Mazza, Gajardo Jorg, 1940 (Lent et al. 1994). Triatoma matsunoi Fernandez-Loayza, 1989 para Hermanlentia matsunoi pela descricao de um novo genero (Jurberg Galvao 1997). Nomen nudum Rhodnius jacundaensis Serra, Serra Atzingen, 1980. Segundo o Art. 9^o do Codigo Internacional de Nomenclatura Zoologica (Serra et al. 1980). Triatoma jurbergi sp. n. Descricao -Comprimento total dos machos: 25 a 26 mm, das femeas: 27 a 28 mm; largura do pronoto dos machos: 6 mm, das femeas: 7 mm; largura do abdomen dos machos ao nivel do 5^o segmento: 9 mm, das femeas: 11 mm (Figs. 1, 2, 3). Cor geral, marrom avermelhado. A coloracao e alaranjada em quase todo o corio e nas manchas semi-circulares do conexivo nos segmentos dorsais e nos y dos segmentos ventrais. O VII urotergito e totalmente alaranjado. Areas de coloracao marrom escuro: clavo, veias, especialmente Cu, M e R+M, manchas triangulares no ¼ anterior dos segmentos conexivais e uma linha estreita na regiao posterior de cada segmento. Sao castanho-piceo o abdomen visto ventralmente e o segundo segmento antenal. Cabeca castanho vermelho com tegumento suavemente granuloso, 2,8 vezes mais longa que larga ao nivel dos olhos e muito mais longa que o pronoto (relacao 1:0,58). Regiao ante-ocular seis ou mais vezes mais longa que a pos-ocular (relacao 1:0,16). Regiao pos-ocular fortemente convexa com os lados suavemente arredondados. Clipeo nao alcancando o nivel das genas, ficando com uma apreciavel diferenca, com a metade posterior moderadamente alargada. Genas ligeiramente agucadas apicalmente, jugos estreitos com aspecto laminar afilados no apice. Olhos medianos, quando vistos lateralmente, ultrapassam nitidamente o bordo inferior da cabeca. Relacao entre a largura de um olho e a regiao inter-ocular ou sinlipsis 1:1,16. Ocelos pequenos, separados dos olhos por quase duas vezes seu comprimento. Tuberculos anteniferos situados bem agrave; frente da metade da regiao pre-ocular; 1^o segmento antenal muito mais curto que o nivel apical das genas e do clipeo. Relacao dos segmentos antenais 1: 4.5: 3.5: 3. Rostro com o 1^o segmento curto, 2^o segmento ultrapassando o bordo posterior dos olhos chegando quase ao nivel dos ocelos, 3^o segmento do mesmo comprimento do primeiro chegando ao terco anterior do sulco estridulatorio. Relacao dos segmentos rostrais: 1: 3.2: 1 (Fig. 4).
Hemelitros nao alcancando o apice do VIII tergito. Corio laranja, membrana cinza, clavo e veias marron-escuro. Patas inteiramente castanho-avermelhadas com excecao dos trocanteres que sao amarelados, todos os femures possuem pequenos tuberculos. Abdomen com os urotergitos expostos, ventralmente convexo e de superficie brilhante, microestriado, com micropilosidade abundante, espiraculos situados na linha da sutura conexival. Conexivo castanho escuro, com uma mancha subtriangular alaranjada em cada segmento que chega ventralmente ate a sutura conexival. Falo composto de um aparelho articular (Apb) e um edeago (Ae) de proporcoes iguais. Em repouso o falo fica dobrado com o aparelho articular dorsalmente situado e o edeago com o apice voltado em direcao agrave; cabeca. O falo fica localizado dentro do 9^o segmento que alberga 1+1 parameros (Pa) e o processo mediano do pigoforo (PrP) (Figs. 5-10). Parameros iguais, cilindricos, curvados com o apice dilatado em forma de aba com uma area terminal como se fosse um espinho, metade apical da face externa com pelos longos entremeados de pelos curtos (Figs. 8, 9). Processo mediano do pigoforo (PrP) bastante quitinizado situado no bordo inferior da abertura genital com formato trianguliforme (Fig. 10). Edeago globoso, complexo constituido de estruturas quitinizadas e membranosas, destacando-se o falosoma (Ph), o suporte do falosoma (Sph), a vesica (V), endosoma (En) e a conjuntiva (Cj) (Figs. 5, 6, 7). Falosoma (Ph) constituido por uma placa laminar, ovoide, com uma projecao apical (Fig. 6). Suporte do falosoma (SPh) localizado internamente e constituido por uma estrutura de base cilindrica e a parte apical de dois bracos paralelos unidos por uma area membranosa no apice (Fig. 6). Processo do endosoma (PrEn) constituido por 1+1 estruturas medianamente quitinizadas situadas nas laterais do edeago, estriadas longitudinalmente, apice acuminado recoberto de pequenos espinhos voltados para baixo (Figs. 7, 11). Vesica (V), estrutura impar, fracamente quitinizada presa ao endosoma e localizada no apice do edeago (Fig. 12). Conjuntiva (Cj) membrana elastica, estriada longitudinalmente que envolve o endosoma (Figs. 5, 7). Aparelho articular (Apb) com a forma de um Y invertido e constituido pela placa basal (Plb), pela ponte basal (PB), extensao mediana da placa basal (Eplb) e processo do gonoporo (PrG), funciona como estrutura de articulacao para o edeago se exteriorizar no momento da copula (Figs. 5, 6). Placa basal (Plb) constitue os bracos do Y invertido e se prende dentro do pigoforo atraves de tres estruturas denominadas cada uma de processo capitato. A extensao mediana da placa basal e o braco impar do aparelho articular, constituido de uma placa retangular cujo apice e levemente fendido mostrando o bordo superior fendido e o inferior soldado agrave; placa basal (Fig. 5). Processo do gonoporo (PrG) constituido por uma estrutura cilindrica oca localizada na area interna do aparelho articular (Fig. 6). Ponte basal (PB) cilindrica fortemente quitinizada, une dois pontos da placa basal (Fig. 5) (Jurberg et al. 1997).
Figs. 5, 6, 7: falo, vista dorsal, ventral e lateral respectivamente (Ae: edeago, Apb: aparelho articular, Cj: conjuntiva, En: endosoma, EPlb: extensao mediana da placa basal, PB: ponte basal, Ph: falosoma, Plb: placa basal, PrEn: processo do endosoma, PrG: processo do gonoporo, SPh: suporte do falosoma, V: vesica). Figs. 8, 9: paramero em vista lateral e dorsal, respectivamente . Fig. 10: processo mediano do pigoforo. Fig. 11: processo do endosoma. Fig. 12: vesica.
Diagnose: a nova especie apresenta seme-lhanca morfologica com T. guazu da qual se diferencia entre outras caracteristicas pelo comprimento da regiao anteocular em vista dorsal nitidamente maior que o comprimento de tres olhos, enquanto em T. guazu essa relacao e de apenas duas vezes e meia, ou menos, o que confere agrave; cabeca um aspecto mais robusto e os olhos sao maiores; jugos mais estreitos e agucados enquanto que em T. guazu, segundo Lent e Wygodzinsky (1979) sao narrowly rounded apically, caracter nao muito marcado, mas constante, que foi confirmado nos especimes criados no insetario; pelas proporcoes das diversas areas da regiao pos-ocular; pela escultura da regiao oculo-ocelar; pela forma do olho com uma depressao posterior acentuada em T. guazu e ausente na nova especie; pelo tamanho do 2^o segmento do rostro que ultrapassa nitidamente o bordo posterior dos olhos em vista lateral, chegando ao nivel dos ocelos, o que nao ocorre em T. guazu, pois nao alcanca o bordo ocular posterior; pelas distintas esculturas do tegumento do pronoto; pela ausencia de depressao longitudinal abdominal ventral no centro da area convexa; pelas diferencas nas estruturas falicas (Figs. 5-10, Tabela). Forma do falosoma (Ph) ovoide com projecao acuminada, vesica (V) fracamente quitinizada e processo do endosoma com apice acuminado com numerosos denticulos voltados para baixo. Macroscopicamente a diferenciacao e mais simples atraves da coloracao. Em T. guazu a coloracao geral e negra com marcas amareladas enquanto que T. jurbergi apresenta uma coloracao avermelhada forte resultante da conjugacao de sua cor castanha com areas vermelhas e amareladas. Triatoma oliveirai (Neiva, Pinto Lent, 1939) pertence ao mesmo grupo mas e muito diferente pelo tamanho menor dos olhos, os hemielitros muito curtos que apenas cobrem o 6^o urotergito e a cor das manchas claras do conexivo e dos hemielitros, amarelo palido. Etimologia: esta especie e dedicada ao Dr. Jose Jurberg, pesquisador do Instituto Oswaldo Cruz, que desde 1960 se dedica ao estudo dos insetos, principalmente dos triatomineos, vetores da doenca de Chagas, dos quais publicou mais de cem trabalhos cientificos sobre morfologia comparada, biologia e taxonomia. AGRADECIMENTOS A equipe da FNS - Coordenadoria Regional do Mato Grosso, em especial ao Dr. Andre Avelino de Siqueira Filho, a Sonia Vieira Camargo da Silva e a Maria Auxiliadora de Moura pelo envio dos especimes, base da colonia que estudamos. Com auxilio do CNPq, Convenio FNS/Fiocruz no 123/97, European Commission contract IC1B-CT96-0042/ECLAT. REFERENCIAS
Galindez Giron I, Carcavallo RU, Jurberg J, Galvao C, Lent H, Barata JMS 1997a. External morphology and anatomy. Morfologia e anatomia externa, p. 53-83. In RU Carcavallo, I Galindez Giron, J Jurberg, H Lent (eds), Atlas of Chagas' Disease Vectors in the Americas. Atlas dos Vetores da Doenca de Chagas nas Americas, Editora Fiocruz, Rio de Janeiro
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