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Ciência Florestal, Vol. 15, No. 4, 2005, pp. 3377-389 DISTÚRBIOS NUTRICIONAIS INDUZIDOS PELA ADUBAÇÃO DE FÓSFORO E FERRO EM PLANTAS JOVENS DE GRÁPIA (Apuleia leiocarpa) NUTRITIONAL DISTURBANCE INDUCED BY PHOSPHORUS AND IRON FERTILIZATION ON YOUNG PLANTS OF GRÁPIA (Apuleia leiocarpa) Evandro Luiz Missio1, Fernando Teixeira Nicoloso2 1Engenheiro Agrônomo, MSc., Técnico da FEPAGRO no município de Júlio de Castilhos (RS). Recebido para publicação em 6/08/2002 e aceito em 20/12/2005. Code Number: cf05037 RESUMO A grápia (Apuleia leiocarpa Vog. Macbride) é uma espécie florestal nativa de grande interesse madeireiro, encontrando-se, atualmente, bastante dizimada. Em trabalhos anteriores, foi observado que as folhas novas de plantas jovens de grápia apresentaram sintomas visuais indicativos de deficiência de Fe na presença de doses crescentes de P. O presente trabalho teve como objetivo caracterizar os efeitos da interação da adubação de P e Fe no balanço nutricional e no crescimento de plantas jovens de grápia cultivadas num ARGISSOLO VERMELHO Distrófico arênico, sob condições de casa de vegetação. Os tratamentos consistiram de uma combinação bifatorial (2x3) completa, com dois níveis de adubação de fósforo (60 e 180 mg kg-1) e três níveis de ferro (0, 6 e 12 mg kg-1); além disso, realizou-se adubação complementar de N, K, Ca e Mg em todos tratamentos. A análise de crescimento das plantas foi realizada mensalmente, considerando a altura de planta, diâmetro do caule e número de folhas por planta. Aos 150 dias após a emergência das plantas, avaliaram-se ainda a massa seca de raízes, do caule, das folhas e total da planta, comprimento das raízes, comprimento radicular específico, número de folhas caídas, relação entre a massa seca de raízes e da parte aérea e a concentração de P, Fe, Cu e Zn nos tecidos da planta. A relação de concentração entre o P e os micronutrientes Fe, Cu e Zn é mais apropriada na avaliação do estado nutricional da grápia que a análise da concentração absoluta desses elementos nos tecidos. A alta disponibilidade de P no solo causou deficiência de Fe, Cu e Zn nas plantas de grápia. O aumento da disponibilidade de Fe, ocasionado pela adubação desse elemento, ou pela diminuição do pH do solo, induzida pela adubação com outros nutrientes, provocou decréscimo nas concentrações de Cu e Zn nas raízes. Na presença de 180 mg de P kg-1 de solo, a aplicação de 12 mg de Fe kg-1 de solo, na forma de Fe-EDTA, diminuiu a clorose foliar e aumentou o crescimento de plantas jovens de grápia. Palavras-chave: grápia; fósforo; ferro; cobre; zinco. ABSTRACT Grápia (Apuleia leiocarpa Vog. Macbride) is an important native forest species that has been in an extinction process. In previous studies with young plants of grápia, visual Fe-deficiency symptoms in new leaves were related with increasing P fertilization. The aim of this study was to characterize the effects of the interaction between P and Fe fertilization on nutritional balance and growth of young plants of grápia cultivated in a Paleaudalf soil, under glasshouse conditions. The treatments consisted of a bifactorial scheme (2x3), represented by the combination of two levels of Pfertilization (60 and 180 mg kg-1) and three levels of Fe (0, 6, and 12 mg kg-1); in addition a supplementary fertilization of N, K, Ca and Mg were carried out for all treatments. The plant growth was analysed monthly through plant height, stem diametrer, and number of leaves measurement. After 150 days of seedling emergence, the dry weight of roots, stem, leaves, and the whole plant, length of the root system, specific root length, number of abscissed leaves, root/shoot dry weight ratio, and P, Fe, Cu and Zn contents in plant tissue were analyzed. The ratio of P/Fe, P/Cu, and P/Zn was more suitable to evaluate the nutritional status of young plants than the analysis of the absolute content of those nutrients in the tissues. High P availability in soil caused Fe, Cu and Zn deficiency in plants of grápia. Increasing the availability of Fe, due to Fe fertilization, or by decreasing of soil pH, induced by fertilization of several nutrients, caused decreasing on Cu and Zn content in roots. In the presence of 180 mg of P kg-1 of soil, the addition of 12 mg of Fe kg-1 of soil, as Fe-EDTA, decreased leaf chlorosis and increased the growth of young plants of grápia. Key words: grápia; phosphorus; iron; copper; zinc. INTRODUÇÃOA grápia (Apuleia leiocarpaVog. Macbride), pertencente à família Leguminosae, é uma espécie florestal que apresenta ampla distribuição geográfica no território brasileiro, porém atualmente se acha bastante descontínua, em conseqüência da devastação intensa das matas e à falta de reposição por meio do reflorestamento (Mattos e Guaranha, 1983). Segundo Brasil (1973), no estado do Rio Grande do Sul, a área ocupada por essa espécie é pequena, encontrando-se nas partes mais altas do noroeste do planalto, onde o solo é fértil, profundo e úmido, e em pontos esparsos na Depressão Central. Na região de maior dispersão, a grápia ocorre em LATOSSOLO VERMELHO Distroférrico típico, e também em NEOSSOLO LITÓLICO Eutrófico chernossólico e CHERNOSSOLO ARGILÚVICO Férrico típico. Segundo Reitz et al. (1988), diante das suas múltiplas aplicações, a grápia deve ser considerada como uma das mais valiosas madeiras do Estado e, conseqüentemente, merece uma atenção especial nos estudos sobre a viabilidade de seu reflorestamento em larga escala. Estudos realizados em plantas jovens de grápia por Fogaça (1999), demonstraram que a concentração de Fe no caule apresentou resposta linear negativa à adubação isolada de N e quadrática ao P, com dose de máxima eficiência técnica estimada (DMET) de 40 mg de P kg-1 de um ARGISSOLO VERMELHO Distrófico arênico. Missio (2002), testando doses mais elevadas de adubação fosfatada em combinação com enxofre, observou que a produção da biomassa das plantas jovens de grápia respondeu à interação desses nutrientes, com DMET de, respectivamente, 204,2 e 16,0 mg kg-1 de solo. Por outro lado, também constatou que a adubação de P acima de 120 mg kg-1 induziu o aparecimento de clorose foliar típica da deficiência de Fe. O balanceamento nutricional nos tecidos da planta é um aspecto importante a ser considerado na obtenção de uma relação favorável entre todos os nutrientes minerais bem como com outros elementos químicos (Marschner, 1995). Algumas plantas desenvolvem clorose típica de deficiência de Fe quando existe alta disponibilidade de P no solo ou na solução nutritiva (Biddulphe Woodbridge, 1952; Watanabe et al., 1965). Na presença de 2 mg de Fe L-1 de solução nutritiva, Watanabe et al. (1965) observaram que plantas de milho (Zea mays L.) sofreram redução no crescimento, bem como apresentaram-se extremamente deficientes em Fe, quando o nível de P aumentou de 6,2 para 18,6 mg L-1. Nesse mesmo trabalho, a clorose de Fe e a redução do rendimento de grãos foram corrigidas pelo aumento da dose de FeEDDHA (de 2 para 4 mg L-1). Interessantemente, a concentração de Fe na parte aérea da planta não foi alterada pela dose de Fe, mas a relação de concentração do P/Fe nos tecidos diminuiu de 158 para 61. Assim, um aumento no suprimento de Fe3+ quelatizado preveniu o efeito do excesso de P. Num levantamento sobre a interação do P e do Fe, Olsen (1977) relata que alguns experimentos indicam a existência de fosfato de ferro precipitado externamente às raízes. Entretanto, esse mesmo autor salienta que a interação desses nutrientes, provocando a clorose de Fe, parece ser causada pela imobilização interna do Fe, provavelmente pela formação de fosfato de Fe. Várias outras investigações têm indicado que as folhas podem mostrar sintomas de deficiência de Fe mesmo que contenham concentrações de Fe mais altas do que as folhas verdes (Carter, 1980; Malavolta, 1980; Mengele Malissiovas, 1981; Sahu et al., 1987). Plantas de feijão (Phaseolus vulgaris L.), visualmente deficientes em Fe, apresentaram conteúdo total elevado desse elemento nas folhas (em torno de 500 mg kg-1), enquanto que folhas de plântulas normais possuíam em torno de 400 mg kg-1 (Malavolta, 1980). Esses dados sugeriram que parte do Fe foi inativado nas plantas que apresentaram sintomas de deficiência, sendo atribuído esse evento à alta relação P/Fe nas plantas cloróticas. O presente trabalho teve como objetivo caracterizar os efeitos da interação da adubação de P e Fe no balanço nutricional e no crescimento de plantas jovens de grápia (Apuleia leiocarpa Vog. Macbride). MATERIAL E MÉTODOSFoi conduzido um experimento na casa de vegetação não-climatizada do Departamento de Fitotecnia do Centro de Ciências Rurais, na Universidade Federal de Santa Maria, RS. Foram testados seis tratamentos em esquema bifatorial completo (2 x 3), representados por dois níveis de adubação de fósforo (60 e 180 mg kg-1), na forma de Ca(H2PO4)2, e três níveis de adubação de ferro (0, 6, 12 mg kg-1), na forma de Fe-EDTA. O delineamento experimental usado foi de tratamentos inteiramente casualizados, com cinco repetições. A parcela experimental foi constituída de um vaso com 3,5 kg de terra fina seca ao ar e duas plantas, as quais foram submetidas a rodízio periódico para evitar algum efeito de localização na casa de vegetação. Realizou-se uma adubação suplementar de N (60 mg kg-1), de K (80 mg kg-1), de Ca (39 a 116 mg kg-1) e de Mg (19 a 58 mg kg-1). As fontes de nutrientes foram KNO3, NH4NO3, NaNO3, Ca(H2PO4)2 e MgCl2. Manteve-se a relação N-NO3- e N-NH4+ em 2:1 bem como a de Ca e Mg em 2:1. Todos nutrientes foram aplicados na forma de solução nutritiva em dose única, dois dias após a semeadura. O solo utilizado no experimento foi coletado de 0 a 65 cm de profundidade do horizonte A de um ARGISSOLO VERMELHO Distrófico arênico no município de Santa Maria, RS. Antes da instalação do experimento e no término, aos 150 dias após a emergência das plantas (DAE), realizou-se a análise química do solo (Tabela 1).
Em que: 1 = Solo sem adubação; 2 = Extrator Mehlich-I (HCl 0,05N +H2SO4 0,025N); 3 = Extrator KCl 0,1N; 4 = Oxidação em solução sulfocrômica a quente e determinação por espectrofotometria com Cr3+; 5 = Extrator HCl 0,1N; 6 = Extrator oxalato de amônio 0,2M a pH = 3,0; 7 = Extrator KCl 1N + HCl 0,1N. Os vasos foram pintados externamente com tinta branca para evitar o aquecimento excessivo por causa da incidência de luz solar e, internamente, foram forrados com sacos plásticos contendo o solo, evitando a perda de água e nutrientes pela drenagem. Para reposição da água evapotranspirada foi realizada irrigação, com água deionizada, sobre a superfície ou através de canos PVC perfurados e introduzidos no solo, mantendo-se a umidade do solo entre 40 e 60% da capacidade de campo, segundo método descrito por Embrapa (1979), por meio de aferições diárias por pesagem. As sementes receberam escarificação química com H2SO4 concentrado, segundo Nicoloso et al. (1997), seguido de tratamento com solução fungicida à base de Benlate (Benomyl) a 0,2%. Após procedeu-se à semeadura de quatro sementes diretamente nos vasos. Após a emergência das plântulas, realizou-se a seleção destas deixando-se duas por vaso. A análise do crescimento das plantas foi realizada mensalmente, iniciando-se aos 30 e finalizado aos 150 DAE, perfazendo um total de cinco avaliações, nas quais, foram avaliadas o diâmetro do caule, altura da planta e número de folhas remanescentes. Apenas aos 150 DAE, avaliaram-se ainda o comprimento de raízes, segundo o método descrito por Tennant (1975), comprimento radicular específico, a massa seca de raízes, do caule, de folhas e total da planta, relação entre a massa seca de raízes e da parte aérea, número de folhas caídas e a concentração de P, Fe, Cu e Zn nos tecidos da planta, segundo a metodologia descrita por Tedesco et al. (1995). O experimento foi instalado no dia 29 de setembro de 2000, e a emergência da plântulas foi observada no dia 4 de outubro de 2000. Durante a condução do experimento foram feitas aplicações de inseticida via foliar para o controle da trips, utilizando-se Confidor (Imidacloprid) na concentração de 0,6 g L-1. A análise estatística dos resultados observados baseou-se na comparação de médias e análise de regressão, ao nível de probabilidade de erro de 5%. RESULTADOS E DISCUSSÃO Efeito isolado da adubação de fósforoA altura de planta, do 30º ao 150º dia após a emergência das plantas (DAE), o diâmetro do caule, aos 90 DAE, e o número de folhas por planta, aos 60 e 120 DAE, apresentaram efeito isolado à adubação fosfatada (Tabela 2).
O comprimento radicular específico foi o único parâmetro de crescimento avaliado aos 150 DAE que não diferiu entre os níveis de adubação fosfatada (Tabela 3). Já a massa seca da parte aérea aumentou cerca de 100%. Utilizando o mesmo tipo de solo, no cultivo da grápia, Nicoloso et al. (1999) observaram que a omissão isolada de P da adubação reduziu a biomassa em 92%. Num estudo mais detalhado sobre o efeito da adubação NPK na produção de biomassa de plantas jovens de grápia, Nicoloso et al. (2001) constataram que a dose de máxima eficiência técnica estimada (DMET), para à adubação fosfatada, ficou acima de 80 mg kg-1. A razão entre a massa seca de raízes e da parte aérea (RRPA) diminuiu pelo aumento da adubação fosfatada (Tabela 3). É conhecido o fato que, na menor disponibilidade de P no solo, as plantas direcionam uma maior quantidade de fotossintatos para o crescimento das raízes (Marschner, 1995). Nicoloso et al. (2001), trabalhando com níveis de adubação de N, P e K em ARGISSOLO VERMELHO Distrófico arênico, observaram que o aumento da fertilização de N e P resultou na diminuição da RRPA, demonstrando que, na alta disponibilidade desses nutrientes para a planta, promove um maior crescimento da parte área em relação as raízes.
Também não houve interação entre as adubações de P e Fe na concentração de P nos tecidos da planta. A concentração de P nas raízes, caule e folhas aumentou em, respectivamente, 100%, 175% e 227% pelo incremento da adubação fosfatada de 60 para 180 mg kg-1 (Tabela 3). Esse resultado demonstra um expressivo transporte do P em direção a parte aérea da planta numa situação de grande disponibilidade de P, fato que corrobora as observações de Marschner (1995). Fogaça (1999), Nicoloso et al. (2001) e Missio (2002) também verificaram aumento na concentração de P nos tecidos da grápia, com efeito positivo no crescimento das plantas, pela adubação fosfatada, demonstrando que essa espécie florestal, quando cultivada num ARGISSOLO VERMELHO Distrófico arênico, é muito exigente em P. Efeito da interação entre a adubação de fósforo e de ferroHouve interação entre a maior dose de P e a adubação de Fe no crescimento das plantas aos 150 DAE (Figuras 1 e 2). Na presença de 180 mg de P kg-1 desolo, o diâmetro do caule (Figura 1a), número de folhas (Figura 1b), massa seca da folha (Figura 2a) e total da planta (Figura 2c) responderam de forma linear positiva à adubação de Fe. Já a massa seca de raízes (Figura 2b) e o comprimento de raízes (Figura 2d) responderam de forma quadrática, sendo que as doses de mínima eficiência técnica estimada à adubação de Fe foram de, respectivamente, 3,7 mg kg-1 e 4,3 mg kg-1. O número de folhas caídas por planta também respondeu de forma quadrática, em que a maior queda ocorreu na presença de 5,2 mg de Fe kg-1 de solo (Figura 1c). Os resultados apresentados nas Figuras 1 e 2 mostram que, na maior dose de Fe utilizada (12 mg kg-1), associada a 180 mg de P kg-1 de solo, houve aumento para a maioria dos parâmetros de crescimento analisados. Além disso, constatou-se diminuição marcante nos sintomas visuais de clorose internerval típica da deficiência de Fe nas folhas jovens (Figura 3). Observações relatadas por Biddulphe Woodbridge (1952), Watanabe et al. (1965) e Olsen (1977) também mostram que a alta disponibilidade de P no substrato pode induzir deficiência de Fe nas plantas. Em razão da pequena acumulação de massa seca pelos órgãos da planta, a determinação da concentração dos micronutrientes nos tecidos foi limitada a duas amostras compostas cujos resultados são apresentados como média aritmética (Tabela 4). A concentração de Fe nas raízes foi de, respectivamente, 12,6 e 9,2 vezes maior daquela encontrada no caule e folhas (Tabela 4). Essa distribuição desigual do Fe nos órgãos de plantas jovens de grápia, cultivadas em ARGISSOLO VERMELHO Distrófico arênico, também foi constatada por Fogaça (1999) e Nicoloso et al. (1999), porém esses autores observaram diferenças menos acentuadas, sendo de, no máximo, 5,6 vezes. Tal diferença pode estar relacionada às distintas adubações realizadas nesses trabalhos. De forma interessante, o aumento da adubação fosfatada de 60 para 180 mg kg-1 aumentou a concentração de Fe em todos órgãos da planta, sendo esse incremento na ordem de 8%, 35% e 47% respectivamente nas raízes, caule e folhas (Tabela 4). É importante ressaltar que a adubação utilizada diminuiu o pH do solo em 0,4 unidades (Tabela 1). Esse efeito pode responder pela maior disponibilidade do Fe e Zn no solo respectivamente em, aproximadamente, 24% e 38%, enquanto as concentrações de Cu e Mn permaneceram quase-inalteradas (Tabela 1). Portanto, o aumento da absorção de Fe pela planta pode estar relacionado ao efeito do pH do solo na disponibilidade do Fe. Por outro lado, na presença de 180 mg de P kg-1 de solo, de modo geral, a concentração de Fe nos tecidos diminuiu pelo incremento da adubação de Fe. Esse comportamento pode ser relacionado ao aumento na produção de biomassa (Figura 1c) que provocou efeito de diluição do Fe nos tecidos da planta. Já na presença de 60 mg de P kg-1 de solo, houve apenas redução da concentração de Fe no caule e folhas, quando a adubação de Fe foi aumentada de 6 para 12 mg kg-1. Segundo Silveira et al. (2000), as concentrações adequadas de Fe nas folhas de Eucalyptus spp. variam entre 65 e 125 mg kg-1. Portanto, as concentrações de Fe nas folhas de plantas jovens de grápia, registradas no presente trabalho (Tabela 4) e também por Fogaça (1999), Nicoloso et al. (1999) e Fortunato (2001), demonstram que essa espécie se distancia do Eucalyptus em sua exigência por Fe, porém se aproxima da Araucaria angustifolia (Bert.) O. Ktze. (Malavolta et al., 1997) que também é uma espécie nativa.
Vários fatores podem provocar deficiência de Fe nas plantas, tais como: baixo nível de Fe no solo, alto nível de P no solo, temperaturas extremas, diferenças genéticas, baixo conteúdo de matéria orgânica em solos ácidos e CaCO3 livre (Lucase Knezek, 1977). Desses fatores, pode-se inferir como tendo influenciado no estabelecimento da deficiência de Fe na grápia, o alto nível de P no solo (Tabela 1) por causa da adubação realizada, baixo conteúdo de matéria orgânica (Tabela 1) e a alta temperatura do ambiente. Similarmente ao observado por Fogaça (1999) e Nicoloso et al. (1999), as raízes apresentaram a maior concentração de Cu, sendo de, respectivamente, 3,5 e 4,5 vezes maior da encontrada no caule e folhas (Tabela 4). A concentração de Cu nas raízes e caule foram de, respectivamente, 50% e 93% maiores do que aquelas registradas por Nicoloso et al. (1999), enquanto nas folhas foram 116% menores. De modo geral, as concentrações de Cu nas raízes e caule não foram alteradas pela adubação fosfatada. Já nas folhas, a adubação de 180 mg de P kg-1 de solo aumentou em 29% a concentração de Cu (Tabela 4). Diferentemente desses resultados, Spencer (1966) observou que a adubação fosfatada, associada à aplicação de quatro níveis de Cu (0 a 250 mg kg-1), reduziu a concentração de Cu nas raízes e folhas de mudas de Citrus reticulata Blanco Cleópatra, sendo que, nos casos em que o Cu se tornou tóxico para o crescimento das plantas, o P adicionado reduziu a toxidez de Cu. Na presença de 60 e 180 mg de P kg-1 de solo, com exceção do registrado para o caule, o incremento da adubação de 6 para 12 mg de Fe kg-1 de solo diminuiu a concentração de Cu nas raízes e folhas (Tabela 4). Em conseqüência da diminuição do pH do solo, fato associado ao efeito da adubação (Tabela 1) não ter alterado a disponibilidade do Cu (Tabela 1) e ter aumentado em 24% a do Fe (Tabela 1), sugere-se que houve interação desses dois micronutrientes na nutrição mineral da grápia. Em geral, os seguintes fatores podem contribuir para a deficiência de Cu nas plantas: concentração de Cu em solos minerais inferior a 3 mg kg-1 e a alta disponibilidade de P, N e Zn (Lucase Knezek, 1977). Para Fernandese Henriques (1991), a faixa adequada de concentração de Cu nos tecidos vegetais de espécies agrícolas situa-se entre 3 e 20 mg kg-1. Portanto, considerando a baixa concentração de Cu no solo (Tabela 1), o aumento da disponibilidade do P no solo pela adubação (Tabela 1), o decréscimo da concentração de Cu nos tecidos (Tabela 4) associado ao aumento da disponibilidade do Fe e Zn no solo (Tabela 1), quer pela diminuição do pH do solo ou pela adubação de Fe, pode-se inferir que esses fatores caracterizam uma situação de deficiência de Cu na planta. Semelhante ao constatado na concentração de Fe e Cu, a concentração de Zn também foi maior nas raízes (Tabela 4). Resultado que corrobora aquele registrado por Fogaça (1999) e Nicoloso et al. (1999), porém estes autores verificaram uma diferença de concentração entre esses órgãos de, no mínimo, 100% menor. Diferentemente do registrado para a concentração de Fe e Cu, em geral, a concentração de Zn não foi afetada pelo incremento da adubação de P, mesmo tendo ocorrido 35% de incremento na disponibilidade de Zn no solo (Tabela 1) pelo efeito da diminuição do pH (Tabela 1). Gianquinto et al. (2000) observaram que o aumento no suprimento de P diminuiu a concentração de Zn em Phaseolus vulgaris L., atribuindo a essa resposta o efeito de diluição pelo crescimento das plantas. Zhu et al. (2001), investigando duas cultivares de Triticum aestivum L., que se diferem pela eficiência de absorção de P, verificaram que o aumento na disponibilidade de P causou uma redução significativa na absorção de Zn por unidade de massa de raiz e na concentração de Zn em ambas as cultivares. Na presença de 180 mg de P kg-1 de solo, a adubação de Fe diminuiu a concentração de Zn nas raízes, aumentou no caule e não alterou nas folhas (Tabela 4). Segundo Malavolta et al. (1997), as concentrações adequadas de Zn nas folhas de Eucalyptus spp. e Araucaria angustifolia são de, respectivamente, 50 e 5 mg kg-1. Portanto, as concentrações de Zn nas folhas de plantas jovens de grápia, registradas no presente trabalho (Tabela 4), são intermediárias em comparação a essas duas espécies. Entretanto, a concentração média de 23 mg de Zn kg-1 de massa seca folha (Tabela 4) corresponde à metade daquela observada em grápia por Nicoloso et al. (1999), Fogaça (1999) e Fortunato (2001). Tomando todos esses resultados em conjunto, a folha foi o órgão da planta que apresentou a maior variação nas concentrações de P, Fe, Cu e Zn pelo aumento da adubação fosfatada. Dos três micronutrientes analisados, o Fe foi aquele que apresentou a maior variação em todos os órgãos da planta, seguido do Cu e do Zn. Tanto a concentração de P como a de Fe nos tecidos da planta aumentaram pelas doses crescentes da adubação fosfatada, porém esses incrementos não foram proporcionais, resultando numa relação de concentração de P/Fe que beneficiou drasticamente o P em todos órgãos da planta (Tabela 5). Na presença de 180 mg kg-1 de solo, as relações de concentração de P/Fe nas raízes, caule e folhas aumentaram em média, respectivamente, 1,8, 2,0 e 2,3 vezes em comparação àquelas registradas pelo efeito de 60 mg de P kg-1 de solo (Tabela 5). A adubação de Fe, apesar de diminuir os sintomas visuais da deficiência de Fe nas folhas (Figura 3) e aumentar a produção de biomassa (Figura 2c), não minimizou a diferença entre as concentrações desses nutrientes, refletindo-se no aumento da relação P/Fe (Tabela 5). Várias investigações têm mostrado que as folhas podem mostrar sintomas de deficiência de Fe mesmo que contenham concentrações de Fe mais altas do que folhas verdes (Olsen, 1977; Carter, 1980; Malavolta, 1980; Mengele Malissiovas, 1981; Sahu et al., 1987). Watanabe et al. (1965) observaram que a concentração de Fe nos tecidos foliares de milho (Zea mays L.) não foi alterada pelo aumento da adubação fosfatada, porém a relação de concentração entre os dois elementos tornou-se elevada, provocando cloroses. Também Olsen (1977) relata que à medida que a concentração de P aumenta na planta ocorre uma indisponibilização do Fe nos tecidos, ou seja a planta não deixa de absorver Fe, porém a relação de concentração entre P/Fe aumenta em larga escala, fazendo com que o P retenha o Fe nas nervuras foliares e, assim, tornando-as cloróticas por causa da baixa produção de clorofila. Em nível celular, a relação entre P e Fe parece estar relacionada com a variação do pH do meio apoplástico e do potencial eletroquímico, pelo qual a absorção do fósforo inorgânico (H2PO4-), por ser impulsionada pelo transporte ativo secundário utilizando-se do gradiente de H+, ocasiona o aumento do pH apoplástico (Sakano et al., 1992) e, conseqüentemente, uma imobilização do Fe nesses espaços. Kosegartene English (1994) encontraram uma relação inversa entre a concentração de clorofila e o pH do apoplasto foliar de soja (Glycine max L). Trabalhos conduzidos com beterraba (Beta vulgaris L.) constataram que a elevação do pH do apoplasto celular diminuiu a atividade da enzima Fe-redutase, pela alcalinização do meio apoplástico, ocasionando a formação de pools indisponíveis de Fe no meio externo (Gonzáles-Vallejo et al., 2000). Na presença de 180 mg de P kg-1 de solo, as relações de concentração de P/Cu nas raízes, caule e folhas aumentaram em média, respectivamente, 2,0, 3,2 e 2,6 vezes em comparação àquelas registradas pelo efeito de 60 mg de P kg-1 de solo (Tabela 5). Comportamento semelhante foi observado na relação de P/Zn, porém, nas folhas, o aumento de aproximadamente 2,9 vezes, foi o maior constatado nesse órgão da planta (Tabela 5).
Apesar de existir uma certa proporcionalidade no aumento da relação de concentração entre P/Cu e P/Zn, semelhante àquela observada para P/Fe nos órgãos da planta, constatou-se que o aumento da adubação fosfatada alterou de modo mais marcante as relações de P/Cu e P/Zn no caule e folhas, fato que demonstra a possibilidade de ter ocorrido um somatório de deficiências de Cu, Zn e Fe, induzido pelo aumento da disponibilidade de P no solo e na planta. Estudos relatados por Reissmanne Wisnewski (2000), também indicam uma forte correlação negativa entre o aumento da relação P/Zn e o crescimento de Pinus teada L. Desse modo, fica evidente que a relação da concentração do P, com a dos micronutrientes catiônicos analisados, é de crucial importância para um adequado balanceamento nutricional da planta, corroborando com as observações de Watanabe et al. (1965), Olsen, (1977), Marschner, (1995), ReissmanneWisnewski (2000), Zhu et al. (2001). CONCLUSÕES A relação de concentração entre o P e os micronutrientes Fe, Cu e Zn é mais apropriada na avaliação do estado nutricional da grápia que a análise da concentração absoluta desses elementos nos tecidos. A alta disponibilidade de P no solo causou deficiência de Fe, Cu e Zn em plantas jovens de grápia. O aumento da disponibilidade de Fe, ocasionado pela adubação desse elemento, ou pela diminuição do pH do solo, induzida pela adubação com outros nutrientes, provocou decréscimo nas concentrações de Cu e Zn nas raízes. Na presença de 180 mg de P kg-1 de solo, a aplicação de 12 mg de Fe kg-1 de solo, na forma de Fe-EDTA, diminuiu a clorose foliar e aumentou o crescimento de plantas jovens de grápia. AGRADECIMENTOSÀ PAPERGS, CNPq, CAPES e FIPE/UFSM pelo suporte financeiro. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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